MAR POTÁVEL
A transformação da água do mar em potável já é praticada em muitos países, principalmente, do Oriente Médio, e o Brasil também desenvolve essa tecnologia. Lançada no mercado recentemente, a Aquamais – água mineral obtida a partir da água do mar de Bertioga, no Litoral Norte de São Paulo -, é produzida pela empresa Aquamare por meio de um processo de nanofiltragem. Nele, são mantidos 60 dos mais de 80 minerais contidos na água do mar – a água mineral comum apresenta em torno de 12. O elevado teor de minerais, segundo a empresa, não traz prejuízos à saúde.

Devido ao rigor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para a entrada de um produto desse tipo no mercado – em função de seu ineditismo, não havia classificação para ele -, a Aquamais foi lançada primeiramente nos EUA, em 2008, com o nome de H2Ocean. De acordo com o professor Kepler Borges França, coordenador do Laboratório de Referência em Dessalinização (LABDES) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba, o processo de regularização de um produto como esse é rigoroso, justamente para prevenir o descumprimento de especificações fundamentais. “A fiscalização já é rigorosa quanto ao uso de produtos dessalinizados na higiene pessoal e doméstica, então imagine para o consumo”, afirma. A Aquamais é vendida em empórios e lojas de produtos naturais com o preço médio de R$ 2 (500 ml).

BACTÉRIAS CONTRA RESÍDUOS INDUSTRIAIS
Quem já ouviu falar em tetracloroetileno? Para quem não sabe, é um solvente não inflamável e, por conta disso, utilizado em larga escala por indústrias, principalmente de limpeza e metalúrgicas. “Esse produto era aplicado como desengraxante na remoção de óleos em peças metálicas para depois serem pintadas. Hoje, ele ainda é bastante usado por empresas de lavagem a seco na remoção de gorduras e manchas”, afirma Marcio Rodrigues Lambais, professor do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), em Piracicaba.

O que essas indústrias não sabiam é que o tetracloroetileno é altamente poluente, atacando principalmente o solo e lençóis freáticos, além de ter um alto potencial cancerígeno.

Em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o professor Lambais coordena um bem-sucedido programa de remediação, em áreas poluídas pelo tetracloroetileno, que já demonstrou ser muito efetivo. “Selecionamos bactérias capazes de degradar esses compostos, já que, em processos industriais, esses potenciais poluentes acabam inevitavelmente vazando e afetando o meio ambiente.”

Segundo Lambais, a bactéria não despoluirá completamente nossos rios, porém, pode abrir precedentes no Brasil para que se descubram micro-organismos capazes de atacar moléculas poluentes diferentes. “Isso é uma tendência mundial. Vai chegar um momento em que haverá uma prateleira com vários micro-organismos diferentes e cada um deles será capaz de degradar um tipo de poluente. Daí, é só multiplicá-lo e aplicar na condição de campo”, diz, lembrando que, no exterior, essa prática já é corriqueira em casos de grandes derramamentos de petróleo, por exemplo.

USINA DO BEM

Criado em 2003, o Programa Cultivando Água Boa tornou-se um marco nas políticas de gestão socioambiental adotadas pela Itaipu Binacional, hidrelétrica localizada no rio Paraná, pertencente ao Brasil e ao Paraguai. Um programa com visão sistêmica e eminentemente participativo, movido por 2.146 parcerias entre Itaipu, órgãos governamentais e não governamentais, universidades, escolas e movimentos sociais que agregam pescadores, agricultores, suinocultores, catadores de lixo, assentados, indígenas, cooperativas e outros diferentes segmentos. Sua área de atuação é a Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III, compreendendo 29 municípios e 1 milhão de habitantes, no Oeste do Paraná e já alcança 100 microbacias trabalhadas.

Como o próprio nome sugere, o Cultivando Água Boa articula ações de conscientização, recuperação de passivos ambientais, cuidado com a água, com o solo, com a comunidade, os bairros, com a vida, e busca a construção da Cultura da Sustentabilidade e a Ética do Cuidado. Compõe-se de 20 programas que desenvolvem 65 ações estruturantes de responsabilidade social e ambiental, de desenvolvimento sustentável. Vale destacar: recuperação de nascentes, readequação de estradas rurais, terraceamento, mata ciliar (são mais de 830 km2 de cerca e mata ciliar recomposta nos pequenos rios sem nenhum conflito), abastecedouros comunitários, reciclagem de resíduos urbanos, de embalagens de agrotóxicos, fins adequados aos dejetos orgânicos, especialmente de suínos, plantas medicinais (a região hoje é polo de fitoterápicos, aromáticos e condimentares), agricultura orgânica (50% da merenda escolar na região é de produtos orgânicos), melhorias técnicas de plantio agrícola, corredores de biodiversidade e conta com 10.400 protagonistas de educação ambiental. De alguma forma, mais de 300 mil pessoas já se envolveram no programa.

Como atesta o diretor de Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich: “O Cultivando Água Boa é, hoje, mais do que um programa. É um movimento para alcançar a sustentabilidade da região onde Itaipu influencia e sofre influência, por meio de conceitos e ações sobre os múltiplos aspectos socioambientais, da revisão de valores e promoção de um novo modo de ser e sentir, viver, produzir e consumir. Os resultados quantitativos e qualitativos são extraordinários”. Um belo exemplo de defesa dos recursos hídricos, a ser seguido por outras estatais e empresas do setor privado.

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