De 15 anos para cá, desde 1994, a cada quatro anos ocorrem dois eventos fundamentais na vida presente e futura dos brasileiros: eleições para presidente da República e a Copa do Mundo de Futebol. Em 2010, eles vão ocorrer simultaneamente pela quinta vez. Ninguém sabe a essa altura, é claro, quem será o(a) próximo(a) presidente(a) do Brasil, nem se a seleção canarinho vai levantar a taça novamente.

Das quatro disputas realizadas no mesmo ano das eleições presidenciais, o Brasil foi finalista em três. Ganhou duas e perdeu uma. Em 1994, venceu a Itália por 3 a 2, nos pênaltis. Em 1998, perdeu da França por 3 a 0. Em 2002, ganhou, por 2 a 0, da Alemanha. Em 2006, perdeu da França por 1 a 0, ainda das quartas de final..

A conquista de 1994 coincidiu com a vitória de Fernando Henrique (situação) sobre Lula (oposição). A derrota de 1998 não impediu que Fernando Henrique (situação) vencesse Lula (oposição). Em 2002, Brasil campeão e vitória da oposição (Lula) sobre a situação (Serra). Em 2006, o Brasil perdeu a Copa, mas a situação (Lula) ganhou da oposição (Alckmin).

Para dar a você, leitor, uma ideia do que poderá acontecer em 2010, convocamos uma seleção de craques do jornalismo brasileiro (e um argentino!), mas invertemos as bolas. Pedimos aos da política para falarem sobre a Copa; e aos do futebol, sobre as eleições.

A bola está com eles.

Sócrates: “Serra não gosta de perder e ficará de fora”

“A meu ver, o Lula elege quem quiser. Pode ser a Dilma ou o Ciro. Acho até que o Serra não sairá candidato. Ele não é bobo nem nada. Não gosta de perder e ficará de fora, por mais que insistam. Quem concorrerá no lugar dele? Não faço a menor ideia. Dependerá das alianças, que ainda não foram feitas. Só sei que o Aécio não topará. Vai preferir o Senado, além de eleger o seu candidato ao governo de Minas. Nesse sentido, tem o mesmo poder do Lula, embora um poder regional. O Lula elegerá quem quiser porque seu governo foi e está sendo muito positivo. Com ele na presidência, o País mudou de patamar. Não sei se haverá segundo turno. Mas acho que o segundo turno deveria ser instituído em todas as eleições. Assim, as campanhas poderiam, de fato, se ater a planos de governo. Isso evitaria baixarias do tipo descobrir que fulano tem filho fora do casamento ou que acabou de comprar um aparelho de som de último tipo. Outra mudança que apoio é a troca do Presidencialismo pelo Parlamentarismo. O chefe de Estado seria mantido, claro, mas o primeiro-ministro teria de realizar sempre um trabalho bom e transparente, pois, caso contrário, seria trocado pela população. É um sistema mais dinâmico. Com o Parlamentarismo, os brasileiros se tornariam mais politizados. Seria ótimo para o aumento da cidadania. O brasileiro aprende rápido, mas precisa ser estimulado. A minha tendência é votar na indicação do Lula, claro. Prefiro o Ciro à Dilma. Gosto dele. Tem postura, vibra, não é um boneco, sabe debater com qualquer adversário. Se concorrer ao governo de São Paulo também será legal. O Ciro tem de disputar cargos no Executivo e deixar o Legislativo de lado. É um político de grande visão.”
Colunista de futebol da revista CartaCapital e do jornal Agora. Comentarista do programa Cartão Verde, da TV Cultura e apresentador do talk show Papo com o Doutor, na TV Thathi, de Ribeirão Preto.

Ricardo Boechat: “O Brasil ganhou Copas à revelia dos técnicos, não por causa deles”

“Olha aqui, vocês estão me pedindo uma previsão que só gente com a visão futurista do Milton Neves tem ousadia de fazer e não raro se ferram. Só que têm crédito futebolístico para isso e eu não tenho. Acho o seguinte: pelo que o Brasil mostrou nas eliminatórias, ele está razoavelmente bem. Pelo nível de dificuldade que os grandes times tiveram para conseguir suas vagas, ninguém tá maravilhoso. Nenhuma seleção tá matando a pau, tá passando o rodo. Pelo que se viu até agora, vamos ter uma Copa com bastante equilíbrio entre seleções. Sendo obrigatória a aposta, eu apostaria sem nenhum patriotismo no Brasil. Graças aos seus jogadores, não ao técnico. Eu não fico satisfeito com nenhum técnico da seleção brasileira, sempre achei todos muito chatos, muito professorais, muito caretas, muito autoritários, muito futebol padrão militar… Não gosto de técnicos de maneira geral, acho que eles mais atrapalham do que contribuem, com raras exceções, o Dunga não é uma delas. Mas como eu sou peladeiro e nunca vi pelada com técnico, ninguém na pelada precisa dizer onde o cara precisa correr, quem você tem de marcar e em qual gol que você tem de chutar, eu sempre olho pro técnico com uma certa impaciência, acho teoria demais para uma arte que é feita pelos onze em campo. O Brasil ganhou Copas à revelia dos técnicos, não por causa deles. Eu gosto de uns técnicos pelos quais eu tenho simpatia pessoal… do Luxemburgo eu gosto, do Felipão eu gosto. Eu não tenho muito saco pra técnico, não. Aliás, gostei muito do Maradona mandar a imprensa chupar, pra ela deixar de ser prepotente. Achei sacanagem ele ter sido punido.”
Colunista de política da TV Bandeirantes, da BandNews FM e da revista IstoÉ

Chico Lang: “O Serra tem relação de cumplicidade com o empresariado”

“Pelo que me consta, tem aí alguns candidatos. Tem a Dilma pelo PT, o Serra pelo PSDB, o Quércia que talvez saia pelo PMDB e tem o Ciro Gomes, que é o eterno candidato a presidente. Desses quatro, hoje, eu acho que ganha o José Serra. Porque os outros candidatos, no meu modo de ver, são muito fracos. O Ciro nunca foi nada. O Quércia teve aquele auge, o quercismo, eu mesmo votei no Quércia várias vezes, mas passou a época do Quércia. Ele caiu num ostracismo muito grande nos últimos anos. Até destruído pelo próprio PSDB, que veio depois com Mário Covas, Fernando Henrique. O Aécio… entre o Aécio e o José Serra, o José Serra leva. Porque não dá pra comparar o Estado de São Paulo com o Estado de Minas. A base eleitoral do Serra é muito forte. E ele trabalha muito bem o empresariado. Aliás, ele aprendeu isso com Mário Covas. Não que eles tirem dinheiro dos empresários, muito pelo contrário. Eles têm uma relação de cumplicidade. Usam capital privado para melhorias do Estado. Essa era a grande proposta do Covas. Acabou dando certo. O Lula faz muito bem isso. Só que o Lula não é candidato, a candidata é a Dilma. Eu comparo muito o Lula com o Marcelinho Carioca. Marcelinho já disse que “o Corinthians é a minha segunda pele”, e depois processou o Corinthians por não ter pago pra ele uma grana que devia e também, quando pode, faz gols no Corinthians. Quer dizer: que amor é esse? O Lula mais ou menos é a mesma coisa. Por exemplo, ele prometeu na campanha dele, eu me lembro muito bem, ele falou pra mim: ‘Os bancos agora estão ferrados’, pra não falar o que ele falou pra mim literalmente. No dia em que ele ganhou a primeira eleição, ele foi lá na Paulista, 400 mil pessoas ali, um negócio emocionante, recepcionaram o Lula às duas da manhã, eu estava no Mesa Redonda, desci, fiz questão de ir lá dar um abraço no Lula, conheço o Lula há muito tempo, da época da Vila Euclides ainda, e eu fui lá. Ele me viu, me abraçou e falou: ‘Agora os bancos estão ferrados’. Eu falei: ‘Vamos ver, né’. E falei também: ‘Não esquece o estádio do Corinthians’. Mas cadê os bancos se ferrando? Eu não vi. O Lula fez algumas coisas interessantes, importantes para o Brasil, deu uma base boa para a economia, mas não mexeu com algumas coisas que devia ter mexido. Se a Dilma perder, ele continua incólume e na próxima eleição se reelege pela terceira vez presidente do País. A não ser que surja alguém carismático.”
Comentarista de futebol do Mesa Redonda da TV Gazeta e da allTV, em São Paulo

Villas-Bôas Corrêa: “Ronaldo Fenômeno tem uma gula incontrolável e uma cabeça complicada”

“Estive em três Copas e adoro futebol. Acho que, por enquanto, o Brasil é o maior candidato ao título. Mas será preciso ver como estarão jogando, no período da Copa, os eternos adversários. Penso na Alemanha e na Itália. Sempre estão no páreo. Não creio na Argentina que, por enquanto, me parece uma equipe comum. E convenhamos, Maradona não é treinador para time nenhum. O Brasil tem uma equipe respeitável e Dunga vem surpreendendo pelo bom senso. O melhor goleiro do mundo é nosso. Nossa zaga, com Lúcio e Juan, também está entre as mais sólidas. Mas temos fragilidade nas laterais e um meio-campo sofrível. Falta um craque, que comande a equipe no setor. Evidentemente, toda a equipe campeã tem um fora de série dando as coordenadas. Penso em um Didi, em um Gérson, no próprio Maradona. Sou um grande fã do Zidane, um mestre que honra essa linhagem. O Kaká não me parece esse homem. Pelo menos pelo que vem jogando, correndo pra todo lado e sem resolver. Seria ótimo se o Ronaldinho Gaúcho voltasse a jogar o que sabe. Ou sabia. No ataque, o Robinho é bom, mas irregular. O Ronaldo Fenômeno é craque. Só que tem uma gula incontrolável e uma cabeça complicada. Não sei se chegaria em forma à Copa. Creio que não. O fato de os jogadores não atuarem no Brasil é um fator complicador, mas o Dunga está sabendo levar a coisa. Penso que vai escolher uma concentração tranquila, lá na África do Sul, sem o assédio absurdo que houve na última Copa. Já perdemos títulos pela má organização ou pela bagunça. Basta lembrar de 1966. Ou mesmo de 1950, quando a equipe estava concentrada em um lugar maravilhoso, a Casa das Pedras, uma chácara lá pelos lados, então remotos, da Barra da Tijuca. Ninguém chateava os jogadores. Fui até lá e vi o goleiro Castilho montando uma pipa, feliz como uma criança. Aí o técnico Flávio Costa, que tinha pretensões a deputado federal, cedeu às pressões e, na véspera da final, levou o time para São Januário. Ninguém dormiu e assim perdemos a Copa.”
Colunista de política do Jornal do Brasil do Rio de Janeiro

Milton Neves: “Eu tinha simpatia pelo Médici. Um absurdo!”

“Já disseram que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes. No entanto, durante um mês, que é o da Copa do Mundo, ele passa a figurar entre as mais importantes. Torna-se fundamental. Influencia na produtividade do País, na autoestima da população e até na política. Claro que, se o Brasil ganhar a Copa, uma parcela grande de quem vota vai escolher o candidato da situação. Todos os presidentes, que estavam no poder quando o Brasil levantou uma Copa, aproveitaram esse fato politicamente. Foi assim com o Juscelino, o Jango, o Itamar e com o Fernando Henrique, que fez aquela recepção em que o Vampeta rolou na rampa do Planalto. E eles agem com esperteza. Tem muita gente no País que só pensa em futebol. Confesso que eu era assim quando garoto em Muzambinho, em Minas Gerais. Só pensava em três coisas na vida: futebol, futebol e futebol. Tanto que eu tinha até simpatia pelo Médici, veja só. Eu associava o nome dele à Seleção de 1970 e, por isso, gostava do homem. Um absurdo, não é mesmo? Só depois de vir para São Paulo, de estudar e de me politizar, descobri que o Médici era um ditador horroroso, abominável, que neste momento deve estar ardendo no inferno. Se a Seleção ganhar ou perder, tenho certeza de que isso vai influenciar na eleição. Ainda assim, não acredito que o Lula conseguirá transferir toda sua popularidade para a Dilma. Não mesmo. Acho, ainda que o Brasil ganhe a Copa, que vai dar Serra. Gosto pessoalmente dele, embora não tenha nenhuma intimidade, é bom que se diga. Serra é um político sério, que nunca teve o nome envolvido em nenhum escândalo. Quanto ao Lula, jamais votei nele. Só o vi duas vezes na vida. Uma em São Paulo, outra em Tel Aviv. Para minha surpresa, acho que ele está fazendo um governo e tanto, um puta governo mesmo. Quer saber? Se o Lula pudesse se candidatar mais uma vez, eu votaria nele. Como não pode, eu tendo, no momento – veja só, eu disse no momento – a ficar com o candidato do PSDB.”
Apresentador do programa futebolístico Terceiro Tempo na Rede Bandeirantes de Televisão e na Rádio Bandeirantes; colunista do jornal Agora e da revista Placar

Eliane Cantanhêde: “Apostei que os holandeses ganhariam de 2 a 0 do Brasil e acertei sozinha”

“Como sempre, o Brasil já entra como favorito, seguido pelos óbvios, a Alemanha e a Itália. Se bem que, tanto no esporte quanto na política, nunca descarto surpresas. Ainda mais agora que o futebol tornou-se, de uma vez por todas, o grande esporte internacional e todos os países têm melhorado muito. Pois é, pode haver uma alternância de poder. A Argentina? Torci muito pela sua classificação. Eles têm um grande futebol, são nossos irmãos de continente. E uma Copa sem a Argentina perde a graça. Pensando como jornalista, acredito que o Maradona irá gerar muita notícia. Fala pelos cotovelos, pelos gestos, muitas vezes bem polêmicos, vai dar mais calor e polêmica à Copa. Também torço pela recuperação do Ronaldo. Ele é uma referência positiva. Mesmo quando entra numa situação delicada, como aquela dos travestis, se sai muito bem, de maneira equilibrada. Conversa objetivamente sobre o caso, sem problemas. Ele se diverte com o Lula, se dá bem com o FHC. É um cara tranquilo. Claro que faz besteiras. Todos os seres humanos fazem. Mas é um símbolo positivo. Quanto ao Dunga, ele é vítima da divisão nacional de endeusar ou demonizar as pessoas. Prefiro o meio-termo. Se o Brasil perder a Copa, o Dunga vai perder as estribeiras, mas eu não vou perder as estribeiras com ele. Preciso dizer que tenho medo de que o clima beligerante do mundo contamine a Copa. Não foram resolvidos, nem de longe, os problemas do Oriente Médio, do Iraque, do Afeganistão. A atuação do Obama, ou a não atuação, frustrou todo o mundo. Enquanto isso, o Chávez fala em guerra nas nossas barbas e o Uribe incentiva a instalação de bases americanas. Ah, tenho uma confissão a fazer: quando eu tinha 19 ou 20 anos, na Copa de 1974, fizeram um bolão na redação do Jornal do Brasil sobre o resultado da partida do Brasil contra a Holanda. Apostei que os holandeses ganhariam de 2 a 0 e acertei sozinha. Grandes jornalistas assistiam o jogo pela TV, e eu num canto, quietinha. Era foca de tudo, iniciante mesmo, e fiquei morrendo de vergonha, embora, no fundo, estivesse comemorando, em silêncio.”
Colunista de política da Folha de S. Paulo e da Folha Online

Silvio Luiz: “A Dilma vai como se fosse tanque de guerra em qualquer coisa”

“Sempre ganha eleições aquele que tem a grana. O governo tem sempre vantagem sobre o adversário porque tem a grana. Não digo que a Dilma seja a favorita; ela é a indicada. O passado dela, o know how dela, não é, no meu modo de entender, o de uma futura presidente. Ela não tem capacidade de ser presidente do Brasil pelo que ela fez até agora. Ao passo que José Serra, que deve ser o adversário de dona Dilma, tem muito mais know how. Ele já foi uma porção de coisas. Entende mais do traçado. Eu não conheço o Serra intimamente mas, pela vaidade que ele tem, vai brigar até o fim pra ser candidato. A vaidade do Serra e a popularidade do Lula vão ser muito disputadas nessa eleição. Mas popularidade não se transfere. Ele não vai transferir a popularidade para dona Dilma. Que, aliás, eu acho, quanto menos ela aparecer, melhor. A Dilma não fala nada. Eu tenho a impressão de que se ela abrir a boca, só sai lagarto lá de dentro. Cobras e lagartos. A televisão é um palco de artistas. Se você tem um bom artista que o Lula foi, você consegue fazer o espetáculo. Mas eu não vejo na dona Dilma uma boa artista, porque ela é metida. Ela parece sogrona. Ela é incapaz de ser sutil. Ela vai como se fosse um tanque de guerra em qualquer coisa. Ela já vai na porrada, achando que isso resolve. E não resolve. Eu acho que a Dilma não é um bom produto. Hoje em dia, ninguém joga pela direita, nem pela esquerda, nem pelo centro. Hoje, cada um joga por si. Você vê: qual era a proposta do PSDB, se não era esquerda? O que o PSDB é hoje? Engravatado, bonitinho, cheirosinho. Ou não é isso? Tô enganado? O PT também. A Marta Suplicy, não tenho nada contra o casamento dela, usa bolsa de grife… A dona Dilma cansa de usar bolsa de grife, faz a sua cirurgia plástica. Eu não sei se o pessoal que acreditava no PT e que fez do PT esse baita partido continua acreditando nesse mesmo PT. Quando o poder chegou nas mãos do PT, ele se sentiu o dono da verdade. ‘Vamos sentar e vamos banquetear.’ Aécio, se não for candidato, vai sair pro Senado. Pela vaidade dele, não será vice do Serra. Ele quer mandar ele mesmo. O Ciro é outro que era Itamar, era governo, não sei o que ele quer. Ele é um aproveitador. Ninguém nega que ele fez um bom governo no Ceará, foi bom ministro do Itamar, mas daí pra frente só fez cagada. A Marina não tem chance nenhuma. Eu não gosto desse pessoal que muda de partido.”
Narrador de futebol da RedeTV! e da Band Sports

Clóvis Rossi: “O Galvão Bueno e a Globo transformam em herói qualquer técnico da seleção que mostre algum resultado”

“Sou muito bom para falar sobre o futebol do passado. Principalmente do Palmeiras. Mas não diria o mesmo sobre as minhas previsões futebolísticas. Pois bem, o Brasil é sempre favorito, inexoravelmente favorito. Nenhum outro País disputou tantas Copas, nem tantas finais. Os outros? Sei lá. A Espanha e a Inglaterra estão pintando bem, o que é ótimo. Nos anos anteriores, a gente tinha de destacar sempre a Alemanha e a Itália, países que têm um futebol eficiente, mas que não me agrada. É chato ver o jogo deles. Quanto à equipe brasileira, já está formada. Não há ninguém que esteja de fora e mereça ser convocado. O Ronaldo entrou em fim de carreira e não ficará em forma a tempo. Não dá mais para ele. Sem esquecer que joga com a camisa do Corinthians, o que, no meu caso, sempre está a léguas de agradar. Acho que tem gente que é titular e não está jogando o que poderia. Falta mais empenho ao Kaká e ao Robinho, por exemplo. Só que o Dunga não tem mais escolhas, embora nunca tenha me convencido. É essencialmente um conservador. Como jogador, foi medíocre. O Galvão Bueno e a Globo enaltecem, dizem maravilhas, transformam em herói qualquer técnico da seleção que mostre algum resultado. Mas o Dunga esteve em três Copas e só ganhou uma, que, na realidade, foi conquistada pelo Romário. Também vem se mostrando medíocre como técnico. Tem uma coisa que pode ajudar muito: o Brasil vai chegar à Copa sem o clima de oba-oba e de “já ganhou” da Copa anterior, o que foi péssimo. Desta vez, ninguém está achando que já ganhamos a Copa. Dá para prever que os torcedores na África do Sul continuarão tocando aquelas cornetas ensurdecedoras. O hábito é como a corrupção no Brasil, impossível de acabar. Não sei se a Copa será bem organizada. Acho que sim. O Brasil fará um bom papel nesse sentido, quando a Copa for jogada aqui, em 2014. Vai haver muita corrupção, vai correr muito dinheiro por fora, mas, no fim, tudo correrá dentro do esperado. Já organizamos outros grandes eventos, como os Jogos Pan-americanos, sem maiores percalços. Falam da segurança. Mas o exército vai para as ruas e impõe respeito. Falam do problema do tráfico, do crime organizado. Tudo se resolve com um acordo com os chefões.”
Colunista de política da Folha de S. Paulo

Marília Ruiz: “A Dilma me parece o contrário do Lula”

“Sim, 2010 será o ano das eleições e da Copa, mas, é bom não esquecer também, que será o ano do Centenário do Corinthians. Quem levará a presidência? Acho difícil responder agora. Quem diria que o Palmeiras, então no alto da tabela, iria empatar em São Paulo com o lanterna, o Sport, em uma das partidas da reta final do Campeonato Brasileiro? Até o dia da eleição muita água vai rolar. No decorrer desse período haverá uma articulação aqui, outra ali, uma Copa do Mundo no meio do caminho e muito investimento na imagem da Dilma, que, além de tudo, terá grande espaço na TV. Se os índices de popularidade do Lula fossem transferidos aos candidatos que apoia, o PT já poderia comemorar. No entanto, como vimos recentemente, a Marta Suplicy, que é um nome de projeção nacional, não conseguiu aproveitar o sucesso do Lula a seu favor. Não deu. Além disso, a Dilma me parece o contrário do Lula. Ele transmite a imagem de alguém muito próximo. Ela, a de uma pessoa distante. Enfim, o Lula tem carisma. Dilma, não. Acho que nem mesmo com a plástica – que, por sinal, foi bem-sucedida – ela conseguiu mudar essa imagem. Acho que nem se a cirurgia a transformasse na Angelina Jolie. Já na oposição, o clima é de baile de debutantes. Ninguém sabe muito bem quem vai tirar para dançar. Acredito que, no final, o candidato será o Serra. É um político experiente e um nome conhecido em todo o País.”
Colunista de futebol do Diário do Grande ABC e comentarista da CNT

Tarcísio Holanda: “Cadê o armador brilhante desta seleção? Não tem mais!”

“A seleção tem muito garoto novo. O Flamengo está numa fase relativamente boa e só tem uns dois ou três bons jogadores, o resto é tudo perna de pau. A seleção tem garotos que estão prometendo, mas ainda não são craques. Eu não boto muita fé no Brasil, não. Craque mesmo tem o Adriano. É um cara pesado, então pode ser um atacante importante para o Brasil. O Ronaldo, se perder uns cinco ou oito quilos, é um cara perigoso, a imprensa italiana só o chama de “Fenômeno”. Nós tivemos armadores brilhantes em todas as seleções brasileiras que se sagraram campeãs. Tivemos o Gerson, o Didi, Zizinho, Clodoaldo, Rivelino. Cadê o armador brilhante desta seleção? Não tem mais! E são os caras que armam o time. O Dunga, quando jogador, era um perna de pau, como disse Maradona, mas como técnico ele é muito mais brilhante que o Maradona. O Maradona era brilhante como jogador, mas não como técnico. Como técnico, até agora ele foi um fiasco. Eu estive agora há pouco em Buenos Aires e lá eles acham isso. A seleção tem o Kaká, que é um craque… o Ronaldinho Gaúcho está numa fase decadente… Ele não é objetivo. Agora, o Kaká é objetivo. Só tem ele.”
Jornalista político desde 1964, atualmente apresenta o programa Brasil em Debate na TV Câmara, em Brasília

Juca Kfouri: “O slogan da campanha do Aécio será ‘um tapinha não dói’”

“Há duas questões básicas que ainda estão no ar. Primeiro, se o Lula conseguirá transferir votos para a Dilma. Todo mundo está falando nisso, mas é um problema real. A outra questão é se o Serra terá peito de se candidatar ou se vai amarelar, como aconteceu na última vez. Sabemos que o passado dele não é de grande coragem. Se o Serra se candidatar, a dificuldade da Dilma será maior. Bem maior. Agora, se ela tiver como adversário o Aécio Neves, tudo ficará mais fácil. Nesse caso, a Dilma levará a presidência ainda no primeiro turno, acho eu. Por isso, o PT está torcendo muito pela candidatura do Aécio. Inclusive porque o Aécio tem telhado de vidro. Há histórias pessoais dele que serão exploradas no decorrer da campanha. Sim, publiquei que ele bateu numa namorada recentemente, na frente de muita gente. Já há até quem brinque, dizendo que o slogan da campanha do Aécio será “um tapinha não dói”. Pode ser que ele enfrente tudo isso, mesmo pressupondo o lado negativo. Estará de olho não nesta eleição, mas na seguinte. A exposição na TV, afinal de contas, é sempre uma chance de tornar um nome nacional e de ganhar cacife. Uma coisa é certa: no geral, será uma campanha de muita baixaria, de baixíssimo nível. Vai sobrar até para a Marina, que será chamada de “linha auxiliar” ou acusada de estar fazendo o jogo da direita. Nunca tive problema em declarar publicamente em quem voto. Prefiro deixar claro. Pois bem, votei duas vezes no FHC, votei no Lula contra o Serra e anulei meu voto na disputa do Lula contra Alckmin. Minha tendência no momento é votar na Marina, embora não me agrade o empenho evangélico dela e, muito menos, claro, o apoio à teoria do criacionismo. Só sei que não votarei nem no PT nem no PSDB.”
Colunista de futebol da Folha de S. Paulo, apresentador do programa Juca Entrevista, do Canal ESPN-Brasil, participante do Linha de Passe, na mesma emissora, titular do programa CBN Esporte Clube, da Rádio CBN

Boris Casoy: “O Ricardo Teixeira não é um anjo”

“No começo, eu achei que o Dunga era incompetente, me penitencio, errei no meu julgamento, fui na onda de todo mundo que o chamou de incompetente, não tinha experiência, mas ele demonstrou conhecimento técnico e tem boa liderança sobre os jogadores. Acabou sendo uma boa escolha de Ricardo Teixeira, de quem a imprensa fala tão mal. O Ricardo Teixeira não é um anjo e o futebol não é destinado aos anjos, precisa de alguém que conheça e saiba praticar certas espertezas. A França foi o nosso algoz na última Copa, mas desta vez vai ficar fora da final. Ela teve dificuldades enormes para se classificar. De qualquer modo, o futebol está cada vez mais equilibrado no mundo, eu acho difícil fazer a avaliação sobre quem serão os finalistas sem saber como serão as chaves. Eu torço pelo Brasil, o Brasil tem condições de chegar à final, mas vai ser uma Copa muito difícil porque os outros estão cada vez se aproximando mais. O principal adversário do Brasil continua sendo a Argentina, a Argentina manja o Brasil e nós manjamos os argentinos. Este é o problema. Nós temos medo e ódio dos argentinos, e eles têm medo e ódio de nós. Eu diria que é um medo cego. Não tenho nada contra a Argentina, gosto até da Argentina, mas no futebol é diferente. Eu estava outro dia em Buenos Aires, passei na frente de um estádio, perguntei o que era aquilo. O sujeito abriu um bocão e disse que era o estádio La Bombonera. Eu falei: vem cá, tem futebol na Argentina?” O cara ficou “pê” da vida comigo: “Somos os maiores praticantes de futebol do mundo! De que país o senhor é?”. Eu falei: “Portugal”.
Apresentador do Jornal da Noite da TV Bandeirantes, em São Paulo, comentarista da rádio BandNews FM e criador do bordão “Isto é uma vergonha”

Paulo Vinícius Coelho: “Nem Dilma nem Serra têm carisma para empolgar a torcida”

“Acho interessante comparar as eleições de 1989 com as de hoje. Naquela época, a disputa era do nível da Liga dos Campeões da Europa. Havia muitos candidatos bons: o Lula, o Ulysses, o Mário Covas, o Brizola. Eram várias as opções. E a direita mostrava a cara sem disfarces. Basta lembrar do candidato Ronaldo Caiado. Era, enfim, um grande campeonato. Com muita disputa. Os gaúchos haverão de me perdoar, mas agora as eleições se transformaram num Campeonato Gaúcho. Só há dois candidatos ao título: Internacional ou Grêmio – Dilma ou Serra. E essa comparação é até engraçada, porque a Dilma é gaúcha, apesar de ter nascido em Minas. Com dois únicos candidatos, o discurso será parecido. O PT é mais assistencialista. O PSDB acolheu a direita fisiológica. Mas a política econômica é similar. Acho que, se não fosse a campanha na TV, essa partida terminaria em zero a zero. Nem Dilma, nem Serra têm carisma para empolgar a torcida. Será uma disputa muito acirrada, mas sem descer o nível. O jogo será decidido aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação. Com um gol da Dilma.”
Colunista de futebol da Folha de S. Paulo; chefe de reportagem e apresentador do Canal ESPN-Brasil

José Nêumanne Pinto: “Ronaldo fez a lipo ao contrário”

“Eu não tenho dúvida de que o Brasil pratica hoje o melhor futebol do mundo, o problema é que a seleção chegou ao auge muito cedo, um ano antes da Copa. É isso que me preocupa. Sempre que o Brasil foi mal nas eliminatórias, saiu daqui desacreditado, saiu-se bem na Copa e vice-versa. É por isso que eu não boto muita fé na seleção desta vez. O melhor jogador brasileiro em atividade, no Brasil e no mundo, é o Adriano, mas ele não vai jogar, o Dunga está muito satisfeito com o Luís Fabiano e o Kaká. Não tem mais lugar para ele. Se for para a Copa, vai ser reserva do Luís Fabiano. O Ronaldo precisa perder uns cinco quilos para entrar em forma, acho que não vai dar tempo. Ele é o único cara que fez lipo e engordou. Ele fez a lipo ao contrário.”
Editorialista do Jornal da Tarde e do O Estado de S. Paulo, comentarista político da Rede TV e da rádio Jovem Pan

Antonio Serpa: “Lula es respetado en el mundo entero”

“A los brasileros que dudan sobre si hay que seguir el proyecto Lula, les bastaría tal vez diez minutos observándose, desde afuera con ojos argentinos. La política es imprevisible y está llena de misérias, de campañas sucias donde todo vale con tal de quedarse en el poder. En los últimos días, mucho se habló de la pérdida de popularidad del Presidente por el enorme apagón que dejó sin luz a gran parte de la población. La realidad marca que Brasil es hoy el gigante que mantiene en equilibrio a un continente peligrosamente inestable, sobre todo a partir de los constante desafíos de Chávez, vigilado cada vez más de cerca por EE.UU.

Lula es respetado en el mundo entero y el país, quizá en muy poco tiempo, se sentará a la mesa de los cuatro o cinco que discuten los destinos del mundo. Mientras Brasil invierte en el agro y lo ayuda, en la Argentina sólo le ponen trabas; mientras Brasil invierte en exploración y encuentra petróleo, a la Argentina se le escurre como arena entre los dedos el oro de algunas minas explotadas por extranjeros y los miembros del Gobierno (empezando por la pareja presidencial) están más preocupados en enriquecer a sus amigos que en trazar al futuro.

No interesa en realidad el nombre del que gane las elecciones del año que viene. Sí tiene que garantizar la continuidad de este proyecto de crecimiento. Brasil ya tenía todo lo que los argentinos añoramos: el mejor fútbol, las mejores playas… Ahora envidiamos sanamente su grandeza, las políticas que lo han llevado a ser respetado por las grandes potencias. Si hoy mismo le preguntaran a Barack Obama el nombre de la presidenta argentina, probablemente no lo recuerde. ¿Que quedan cosas por mejorar? Claro. Pero Brasil está en permanente actividad y de a poco va solucionando sus problemas. Cualquiera que ponga en peligro el prestigio conquistado en estos años, cualquiera que impida profundizar este desarrollo, debe ser visto no ya como un adversario político sino como un enemigo del pueblo.”
Editor-chefe do jornal esportivo Olé, de Buenos Aires


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