De repente, na tela do meu computador, aparece um cara com dedo em riste, que parece filho do senador Romeu Tuma – que Deus o tenha – ameaçando, com veemência, os “covardes” empresários que ele chama também de “baratas”, que se nada fizerem contra o governo do “bando de delinquentes” dos petistas, “dos analfabetos como o Lula ou inarticulados como a presidente Dilma”, seremos todos “em breve bolivarianos, argentinos, venezuelanos”. É um daqueles blogueiros que escrevem um monte de absurdos lá na Veja. Não é aquele do chapéu, aquele que fala “petralhas”. É um outro. Um com barba igual à do Lula. Até tenho alguns amigos lá. Sou uma cara de esquerda, mas tenho bons amigos de direita, por que não? Dá para conviver com tranquilidade. É só gerenciar um pouco a conversa que dá tudo certo. Mas esse aí eu não conheço.
Bem, sou fotógrafo, repórter e empresário. Então, deve ser comigo também. Vamos prestar atenção.
Argentino!?!? Argentino até que tudo bem. Já estou acostumado. Tenho até um filho que é filho de argentina e é um cara muito legal. Como a mãe dele. Sem falar em uma enteada argentina que é um doce de pessoa. Bolivariano?!?!? Vamos ao Google. Diz lá: “Bolivarianismo é uma ideologia que se baseia nas ideias do militar e político Simón Bolívar (um aristocrata que nasceu na Venezuela, morreu na Colômbia e lutou pela Independência da América espanhola, na primeira metade dos anos 1800)… Faz referência a sua concepção de justiça social… Entre suas ideias, estão a promoção da educação pública gratuita e obrigatória e o repúdio à intromissão estrangeira e à dominação econômica”. Até que não é tão ruim.
O tal blogueiro com barba parecida com a do Lula está nervoso com a repercussão do caso da analista ou do analista do Santander, que fez previsões negativas em caso de vitória da Dilma na próxima eleição. Algo como o que fez Mario Amato, amigo do meu pai e presidente da FIESP, que tempos atrás disse que uma vitória do Lula (engraçado, esse cara lá da Veja parece mesmo com o Lula, mas deve ser a barba)… Enfim, o Mario Amato falou que, se o Lula ganhasse, os empresários iam todos embora do Brasil. O tal barbudo lá da Veja no vídeo, de dedo em riste, dizia com certa apoplexia sobre o caso do Banco Santander: que o banco se intimidou “de forma covarde, então voltou atrás e disse que demitiu o analista e disse que isto foi uma coisa isolada de um analista, e não do banco como um todo, e isto gera uma repercussão, então de um clima já bolivariano no País”, continuava ele a esbravejar. “O meu apelo, o meu alerta para todos os empresários é o seguinte: se não reagirem enquanto é tempo, e ainda há tempo, mas cada vez menos, nós podemos estar seguros de que o Brasil vai virar uma Argentina, quiçá uma Venezuela à frente, é isto que o PT deu todos os indícios de desejar, e é isto que vocês estão conseguindo com a covardia de vocês plantar no País”, ameaçou ele finalmente.
Não sei bem o que ele quer que eu, como empresário, faça, mas já que estamos no Google vamos pesquisar para ver se o governo realmente não fez nada ou fez tudo errado, como estão dizendo. Ou é um bando de vagabundos, como dizem outros.
Vamos aos números encontrados:
Investimento estrangeiro direto
Em 1995, US$ 4,4 bilhões; em 2002, US$ 16,6 bilhões; em 2014 (acumulado 12 meses em junho), US$ 63,3 bilhões.
Ranking
Em 1990, o Brasil era a 9a economia mundial; em 2000, a 10a; em 2003, a 13a; e, em 2013, a 7a economia atrás do Reino Unido, França, Alemanha, Japão, China e Estados Unidos.
Dinheirinho guardado
Em 1990, nossas reservas somavam US$ 10 bilhões; em 2000, US$ 33 bilhões; em 2003, US$ 150,9 bilhões; e, em 2013, US$ 358,9 bilhões.
O tal do PIB
Em 1995, sua variação percentual anual era de 2,3%; em 98 foi 0,0%; em 99, 0,3%; em 2002, 2,7%. Em 2003, 1,2%; em 2004, deu uma estilingada e cresceu 5,7%; e em 2007, mais ainda, foi para 6,7%. Saudade! Na crise internacional de 2008, ele subiu 5,2%; em 2009, encolheu -0,3%, estilingou de novo no ano seguinte 7,5%. Em 2011, 2,7%; em 2012 foi o tal do pibinho de 1,0%; e 2,5 % no ano passado, 2013. E a projeção para este ano é de 1,8%.
Made in Brazil
Somos os primeiros exportadores mundiais de carne de frango, açúcar refinado, suco de laranja, carne bovina processada e café.
Os avanços sociais
O desemprego em 2000 afetava 9,2% da população; em 2003, 12,4%; em 2013, 5,4%; e, em 2014, 4,9%.
Brasileiros classificados como classe média, segundo o IBGE, eram 38,1% da população; em 2000, 38%; em 2003 e em 2013, passaram a 53% da população.
Ainda segundo o IBGE, em 1990, 41,9% dos brasileiros estavam na linha da pobreza ou abaixo dela. Quase metade da população! Em 2000, melhorou um pouco e esse número passou para 35,3%. Em 2003, eram 35,7%; e, em 2013, melhorou muito, 16%. Mesmo assim, ainda tem muito pobre neste País.
Bem, pode não estar tão bom hoje, mas o retrospecto é até que bem favorável. É aquela velha história, ainda tem muito pra fazer, mas até que não está indo tão mal.
Agora, o cara da Veja parece mesmo com o Lula. Mas deve ser a barba.
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