Bonequinho de luxo

Mais do que virar menino, Pinóquio se tornou imortal. Storia di un Burattino (História de um Boneco), que deu origem ao personagem, foi publicada pela primeira vez, de forma seriada, em 1881, na estreia do jornal semanal Il Giornale per i Bambini (Jornal das Crianças), em Roma. Criada por Carlo Lorenzini – um italiano nascido em Florença que gostava de assinar Collodi -, a saga sobreviveu a mutações de gosto, linguagens e costumes, se espalhou pelo mundo e serviu de referência para inúmeros escritores, como bem descreve Italo Calvino no posfácio de As Aventuras de Pinóquio, recém-lançada edição de luxo da Cosac Naify.

Além da nova publicação, quase de bolso, com a simplicidade e apuro dos livros antigos, a obra serviu de inspiração para uma coleção de canetas da Montblanc, que faz um tributo a Carlo Collodi. Desde 1992, a marca homenageia grandes nomes da literatura como Hemingway, Voltaire, Fiódor Dostoiévski e Marcel Proust; Collodi é o primeiro do universo infantil.

O peixe-cão (a baleia é coisa do Walt Disney), a fada, a raposa, o gato e o grilo falante, todos os emblemáticos personagens do clássico estão estilizados na tampa da caneta em ouro champanhe 18 k. Um parafuso no clipe simboliza as juntas do boneco e o cone remete ao nariz. O corpo da caneta em resina marrom, assim como sua tinta, da mesma cor, fazem referência à madeira. A edição é formada por caneta-tinteiro, esferográfica e lapiseira e vem em uma caixa que imita um livro. “A obra foi escolhida para ser homenageada porque remete à fábula, à infância, além de ser universal e seu escritor, reconhecido mundialmente”, explica Paulo Kazaks, gerente da loja-conceito da Montblanc, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, onde aconteceram os lançamentos simultâneos da coleção de canetas e do livro, em dezembro passado.

Na obra As Aventuras de Pinóquio, chamam a atenção as ilustrações de Alex Cerveny, híbrido de gravura e fotografia. Realizadas em cliché verre, técnica francesa contemporânea à criação do clássico infantil, resgatam a tragédia e o realismo da alma italiana do personagem. “É um negativo feito à mão. Surgiu da vontade dos artistas de pesquisarem as possibilidades da fotografia que estava surgindo”, afirma.

A técnica é totalmente artesanal: o artista chamusca uma placa de vidro com uma vela, que se torna opaca por causa da fuligem. Em seguida, risca o desenho sobre essa superfície. O resultado é um negativo da imagem que, a partir de um contato fotográfico, é impressa.

Usar o cliché verre foi uma sugestão de Cerveny, que já havia experimentado a técnica em um projeto sobe as linhas de Nasca no Peru, há cinco anos. “Procurei, na época, uma técnica que reproduzisse, mesmo que poeticamente, a superfície de um deserto e achei essa coisa da fuligem”, conta. “Pelo tipo de história, era importante que fosse um desenho à pena, a traço, à moda antiga. Optei por essa técnica pelo formato do livro, que pede um trabalho minucioso, e pela nostalgia, essa coisa das imagens virem da luz dá a sensação de filme antigo.” São mais de 60 ilustrações, além de caligrafias e “enfeites” usados na abertura de cada capítulo. O trabalho levou um ano.

A obra marcou a infância do artista. “Ao longo da história, Pinóquio vai revelando características humanas, boas e más, com as quais a gente se identifica. Aprendemos desde pequenos com ele, mas continuamos repetindo os erros… Por isso é comovente reler este clássico.” Cerveny está preparando um álbum de gravuras com as matrizes dos desenhos.

PARA OUVIR

» As Aventuras de Pinóquio, Carlo Collodi, Cosac Naify, 400 páginas
» Montblanc Carlo Collodi, Shopping Cidade Jardim (SP) – 11 3552-8000


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