Brasil para inglês ver

“O Brasil está explodindo com tantas frutas”, comenta, bem-humorado, o jornalista David Usborne, do jornal britânico The Independent, claramente entusiasmado com o recente boom da economia brasileira. Há tempos, o burburinho nos círculos de debate vem se intensificando: o Brasil, fortalecido e revigorado, emerge como líder. Recentes matérias publicadas na revista The Economist analisam, em mínimos detalhes, a posição da economia brasileira. O Financial Times também está com as atenções voltadas ao Brasil. Nos últimos doze meses, o diário dedicou quatro cadernos especiais ao País.

Considerando, então, tamanha positividade, não é de estranhar que o Grupo HSBC, sediado em Londres, tenha escolhido o Brasil como tema de 2010 para seu programa global de integração cultural, o Cultural Exchange. Outros países emergentes, como Índia e China, precederam o Brasil no programa. A decisão do grupo HSBC tem ainda como base previsões de estudos independentes que sugerem que o Brasil será a quinta economia do mundo em 2025.
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O projeto do Southbank Centre é uma homenagem ao Brasil contemporâneo, materializada no coração de Londres. Fundado em 1951, o Southbank é o maior centro de artes da Europa, localizado às margens do rio Tâmisa. O local atrai mais de três milhões de visitantes por ano.

O Festival Brazil (que vai até 5 de setembro) foi arquitetado para apresentar o Brasil atual ao público britânico, explorando a cultura de uma nação com uma economia em expansão e problemas sociais extremos. Debates, performances, exposições de arte e palestras têm o objetivo discutir como o Brasil dos últimos 20 anos vem transformando uma realidade pouco promissora em esperança. Jude Kelly, diretora artística do Southbank Centre afirma que o intuito do evento é descobrir o que está no coração da cultura brasileira hoje e o que o País está pensando e discutindo. “O festival é uma ilustração vibrante da cultura diversificada de uma nação e o começo de um relacionamento duradouro com o Brasil”, define.

A programação inclui mais de 50 eventos culturais de música, artes plásticas, dança, literatura e cinema, além de debates e palestras. Um dos destaques é a exposição The Edges of the World (Os Confins do Mundo) do artista plástico Ernesto Neto. A galeria do Southbank Centre, que estava fechada para reformas desde junho do ano passado, reinaugurou com essa obra, desenvolvida pelo brasileiro especialmente para o festival. The Edges of the World é uma instalação-labirinto, uma entidade orgânica que provoca a interação dos visitantes. Palestras ministradas por Moacir dos Anjos, curador da 29a Edição da Bienal de São Paulo, explicam o trabalho artístico de Ernesto Neto.

Outra obra interativa que atrai a atenção do público é o Projeto Morrinho, que reproduz a construção de uma favela. O projeto começou como uma brincadeira de criança por Nercilan de Oliveira, morador da comunidade Pereira da Silva (RJ). A obra, já exposta na Alemanha, Espanha, França, Itália, fica no Southbank Centre até 5 de setembro.

Ainda no âmbito das artes, há uma mostra de design. The New Decor: Artists and Interiors traz a interpretação de 30 artistas do design contemporâneo de interiores. Artes visuais, vídeo e poesia se misturam na apresentação multimídia do músico e escritor Arnaldo Antunes, que se apresenta pela primeira vez em Londres.

Outros nomes consagrados da música brasileira também sobem ao palco do evento, como Maria Bethânia, Os Mutantes, Mart’Nalia e Gilberto Gil.

Uma série de debates convida artistas, pensadores e escritores a discutirem questões brasileiras e os desafios que a sociedade enfrenta hoje. A relevância da cultura a serviço da sociedade, o drama da violência e a posição global do Brasil são temas que prometem discussões acirradas.

Para falar sobre a influência de figuras da música brasileira na cultura e na política do País e de como a MPB influenciou a música mundial, muitos autores foram convidados a discutir suas próprias obras. Foi o caso da cineasta Paula Cosenza, que expõe trechos do filme Tropicália, de Guto Barra, diretor de Beyond Ipanema – Brazilian Waves in Global Music -, e de Lírio Teixeira, de O Homem que Engarrafava Nuvens, que trata da vida e obra do compositor Humberto Teixeira. O escritor Milton Hatoum também participa do evento com palestra sobre seu livro mais recente, Órfãos do Eldorado. Já o escritor Alex Bellos, autor de Futebol: The Brazilian Way of Life, debate as relações entre o Brasil e o futebol, ao lado de José Miguel Wisnik, autor de Veneno Remédio: o Futebol e o Brasil, e do ex-jogador Sócrates.

Incorporado ao Festival Brazil, o London Literature Festival (Festival Anual de Literatura de Londres) organizou a série Brazilian Words. Na programação, os quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá debatem a vida urbana no Brasil. Os gêmeos também são responsáveis por uma tira gigante de história em quadrinhos, a Wallstrip.

O evento conta com apresentações e aulas de ritmos brasileiros, como samba e funk, que já estão causando frisson entre os frequentadores. O grupo Afroreggae promoveu workshops de dança e aulas de percussão. Kaori Nazzaro, uma japonesa residente em Londres há 15 anos, participou de todos. “Eles fazem parecer tão fácil. É tudo muito alegre, as cores, os sons. Dá vontade de se juntar a eles”, comenta.

Verão quente, pessoas felizes. Às margens do Tâmisa, o Brasil invade palcos e calçadas e transforma a quietude londrina em cenário de festa brasileira: caótica e quente, mas, sobretudo, alegre e divertida. O Brasil nunca saiu de moda, mas em 2010 é a cara do verão londrino.

O folião de Nova York


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