Como o Brasil se prepara para o ebola

Profissionais de saúde usam roupas especiais para cuidar de casos de ebola em Guiné, na África. Foto: European Commission DG ECHO
Profissionais de saúde usam roupas especiais para cuidar de casos de ebola em Guiné, na África. Foto: European Commission DG ECHO

O plantão médico seguia a sua normalidade na noite de sexta-feira (1) no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, quando um paciente que acabara de chegar da África do Sul pelo Aeroporto de Guarulhos, deu entrada no pronto-socorro com febre alta. O sintoma, em qualquer outro momento, poderia suscitar tratamentos comuns, mas o surto de ebola em quatro países africanos nos últimos dois meses e que já matou 887 pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde, acendeu o alerta entre os especialistas do hospital, que levantaram a hipótese de encontrar, no homem, o primeiro caso de contaminação pelo vírus no Brasil. No entanto, o supervisor médico do pronto-socorro, o doutor Ralcyon Teixeira, deu o diagnóstico horas depois: felizmente era apenas um quadro de infecção urinária.

No Brasil, o homem que deu entrada no Emílio Ribas foi a terceira suspeita registrada. Na semana passada, uma angolana procurou um hospital de Londrina, no Paraná, com os sintomas da doença. No mesmo dia, o Ministério da Saúde precisou divulgar uma nota oficial negando que uma estudante goiana estivesse contaminada depois de ser internada, em Goiânia, dias após retornar de uma missão humanitária em Moçambique. “Já começamos a fazer algumas reuniões específicas para nos prepararmos para casos suspeitos que provavelmente chegarão. Agora, se encontraremos doentes de ebola mesmo, é muito pouco provável”, diz Ralcyon.

Brasileiros – Já é possível dizer com precisão as origens do vírus ebola?
Ralcyon Teixeira: O vírus ebola foi descoberto na década de 70, na África, mais especificamente em 1976, quando aconteceu o primeiro caso no Zaire, do que chamamos de febre hemorrágica. O indivíduo teve uma doença que evoluiu para choque e sangramento e, quando foram avaliar o que estava acontecendo com ele, perceberam que era um vírus desconhecido, que mais tarde foi batizado de ebola. Até hoje nós ainda temos algumas lacunas de conhecimento sobre esse vírus, então não se sabe com certeza de onde ele veio. Existe uma especulação de que morcegos silvestres da África tiveram contato com esse vírus, passaram para espécies de macacos e a convivência na selva contaminou seres humanos. Já tivemos alguns surtos de ebola no mundo, mas ele estava relativamente controlado, voltando a aparecer agora em uma nova epidemia em um local de extrema pobreza, más condições de higiene e de atendimento médico. Também há uma relação com o culto aos cadáveres que essas populações locais têm, onde em algumas tribos velam os mortos por dias e, como o vírus ebola pode contaminar durante o período da doença e mesmo no post mortem, a infecção foi facilitada entre essas pessoas. Então, também há esse aspecto cultural relacionado com a doença.

Brasileiros – Algumas pessoas falam também sobre o fato de, em algumas regiões da África, comer carne de macaco ser algo natural. Tem algum fundamento?
Ralcyon Teixeira: Sim. É um contato tanto entre espécies, de convivência com macacos, até a caça e alimentação do animal. Essa forma de comida pode transmitir se o bicho estiver infectado. No preparo do alimento e no ato de comer, é possível que um humano se contamine.

Brasileiros – Além desses tipos de infecções, quais são os outros modos de transmissão do vírus ebola?
Ralcyon Teixeira: Bom, a partir do momento em que um ser humano se contaminou, deu-se início ao processo de infecção entre humanos. Então, uma pessoa infectada começou a passar para outra e a doença se alastrou. No caso do vírus ebola, que nós ainda estamos aprendendo com esses casos, a transmissão acontece por secreções: saliva, lágrima, suor, sangramento. Então, é uma doença que tem possibilidades de transmissão importantes, apesar de não conter a transmissão aérea, característica da gripe, por exemplo. Portanto, a convivência com outras pessoas pode contaminar facilmente, porque quaisquer umas dessas secreções estão próximas do contato, inclusive o sangramento, quando a doença já está instalada.

Brasileiros – Quais são os principais sintomas do ebola?
Ralcyon Teixeira: Geralmente os sintomas começam a aparecer entre oito e dez dias depois da contaminação e o principal sintoma é a febre alta. Portanto, é uma doença que nós, médicos, chamamos de doença febril. Depois, com o tempo, começam dor no corpo, dor de cabeça, dor muscular, vômitos, diarreia líquida, dor na barriga, queda da pressão e, por fim, os choques. Mas quando chega nessa etapa, o individuo já perdeu o funcionamento do fígado, do rim, que são coisas mais graves.

Brasileiros – Existe um período médio entre a contaminação até o mais grave que pode acontecer com o doente, que é a morte?
Ralcyon Teixeira: Geralmente, são três semanas, contando a partir da contaminação. Quando a doença se instala, dura uma semana para chegar ao quadro mais grave. Então, em uma semana é possível que aconteça a morte.

Brasileiros – E a cura, existe? Ou um tratamento específico?
Ralcyon Teixeira: Atualmente, não existe oficialmente nenhum tratamento específico para doentes de ebola, apesar dos relatos das duas vítimas que foram para os Estados Unidos e vão receber, provavelmente, um soro criado para combater o vírus, pelo que a gente entende medicamente. O que nós podemos fazer é dar suporte, deixando o paciente em tratamento intensivo, repondo substâncias no sangue para melhorar coagulação, hidratando, dando remédios para aumentar a pressão, para que passe este período de maior gravidade. Especificamente, não existe nada. A mortalidade causada pelo ebola ainda está sendo muito discutida, porque no início da epidemia o vírus tinha uma taxa de 90% de vítimas, e hoje esta média está em 70%, ou seja, é uma mortalidade muito alta, mas não conseguimos dizer se esse número é por causa da falta de atendimento médico na África, onde o sistema de saúde é mais precário. Não é possível dizer se essa mortalidade seria tão alta em países com melhores condições de tratamento médico, países desenvolvidos e alguns em desenvolvimento, mas a mortalidade ainda é alta.

Brasileiros – E por que o vírus ebola assusta tanto?
Ralcyon Teixeira: Porque é uma doença nova e tudo o que é novo assusta, se você perceber, nós não temos todas as informações sobre o vírus; porque está se disseminando e não está sendo possível ter um controle sobre ela; porque tem uma mortalidade alta, ainda que tenha caído, como eu disse, mas ainda mata muito e não tem como esconder isso da população; e porque a transmissão dela é agressiva, apenas pela secreção. Ainda que a gente ache que é uma doença localizada, que vai ser difícil de espalhar para outros locais, há uma baixa probabilidade de isso acontecer e o vírus atingir outras partes do mundo, facilitada pelo número de excessivo de viagens. Todo mundo vai ter que estar preparado, porque o tratamento dessa doença também exige um cuidado extremo que é difícil de existir em qualquer lugar: local para tratamento, roupa apropriada, etc. Então, eu acho que assusta por todas essas coisas.

Brasileiros – No caso no Brasil – tanto historicamente quanto neste surto que está acontecendo na África – já foi registrado algum caso ou alguma suspeita?
Ralcyon Teixeira: Houve algumas suspeitas: uma no Paraná, uma em Goiás e, na sexta-feira (1), houve uma em São Paulo. Inclusive, fui eu que fiz o atendimento nesse paciente. No entanto, foi rapidamente descartada a hipótese de ebola. Era um africano que morava na África do Sul e que entrou no Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos. Na história também não tivemos nada, porque o ebola era uma doença restrita a alguns bolsões da África e que estava sob controle até então. Agora que está se descontrolando.

Brasileiros – O Brasil está preparado para algum caso que possa acontecer ou na chegada de possíveis doentes?
Ralcyon Teixeira: Sim. Houve uma ordem do Ministério da Saúde e da Anvisa para fortalecer a vigilância nos aeroportos e nós também estamos tomando cuidado nos critérios de diagnósticos tanto nos sintomas dos pacientes como de onde eles são. Não podemos também entrar em uma paranoia de que qualquer pessoa da África com uma febre está com ebola. Senão estamos perdidos. A África é enorme e não dá para tratar de uma maneira igual. Por outro lado, como a notícia está se espalhando muito e os casos também estão aumentando, de fato, por lá, nós já começamos a fazer algumas reuniões específicas para nos prepararmos para casos suspeitos que provavelmente chegarão. Agora, se encontraremos doentes de ebola mesmo, é muito pouco provável. Mesmo assim, os hospitais de referência e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo já estão se preparando, até porque nós estávamos trabalhando apenas com informações. Achávamos que era muito pouco provável encontrar casos aqui. Mas agora passamos para um tratamento mais real da questão e estamos discutindo como preparar ambiente, treinar pessoal, tudo isso.

Brasileiros – Doutor, em relação aos remédios para tratar a doença. Por que até hoje não existe nenhum medicamento para tratar o ebola? Há uma resposta para isso?
Ralcyon Teixeira: Essa é uma pergunta difícil, hein? Primeiro porque eu não sei como lidaram com isso no passado e para cuidar de uma questão como essa é preciso uma estrutura muito grande. Tem que ter um laboratório de nível 4, como chamamos, o que poucos lugares possuem. Segundo que o ebola era uma doença localizada e que não ameaçava mundialmente. Mas agora que surgiram mais casos, você vê que os Estados Unidos já criaram algo aparentemente eficaz. Acho que foi uma somatória de coisas: não deram importância, também porque acharam que conseguiriam controlar apenas clinicamente, não deixando o vírus disseminar e tratando dos casos que já existiam. Mas se perdeu a guerra para o vírus. Quando você tem um vírus localizado, se você controlar não vai espalhar, e daí porque você vai correr atrás? Fora que também tem o interesse da indústria farmacêutica, que eu não sei até que ponto se interessou em fazer uma avaliação disso.

Brasileiros – Uma última: dois médicos estadunidenses que estavam na África voltaram para os EUA nesta semana infectados pelo vírus em busca de tratamento. Existem brasileiros nas regiões do surto também. Se acontecer algo com eles, é possível que sejam transferidos para o Brasil da mesma forma?
Ralcyon Teixeira: Sim, é possível. Existem brasileiros lá. Estamos preparando os serviços e acho que pode ser uma possibilidade de isso acontecer. É perigoso, tanto que os EUA estão todos em alarme, mas é preciso ter a certeza de que o vírus será dominado. Então eu acho que, antes de se tomar uma decisão final, caso aconteça um caso desses, a gente vai ter que estruturar algum serviço de referência para recebê-lo. Mas nós temos condições de fazer sim. Os Estados Unidos já estão preparados para tudo. Veja: eles já têm um hospital já preparado para isso porque existe um número grande de cidadãos do país fazendo trabalhos externos e pesquisando sobre vários vírus pelo mundo, alguns de natureza grave.


Comentários

9 respostas para “Como o Brasil se prepara para o ebola”

  1. Prezado dono do blog eu imploriro encarecidamente pelo amor de Deus e por tudo de mais sagrado. Por favor apaga as mensagens do aaa eu não durmo mais não como mais estou ficando desesperado. Estou chorando agora. Eu sou uma pessoa boa, faço o bem, ajudo o próximo, faço caridade sou onesto e não tenho vícios. Sou estudante e trabalhodor nunca fiz nada de errado. Sou tímido, solitário e deprecivo também. Eu imploro deleta os comentários do aaa eu nunca mais escrevo nada na minha vida. Juro tenha coração e ajuda nessa aí estou com insônia só penso nisso. Deus te abençoe e perdoe a todos nós que somos imperfeitos e todos temos falhas. Muito obrigado mesmo eu sou do bem.

  2. Eu só queria me desculpar e me retratar por qualquer coisa da mensagem anterior não tive intenção. Eu só estava passando por uns problemas pessoais e também estava com muito medo e assustada demais com esse vírus que mata 90% afinal somos muito jovens cheios de sonhos e metas e ninguém quer morrer precocemente. E quem nunca falou algo com medo ou sem pensar, mas enfim de coração me retrato e peço que Deus nos ajude e ajude a todos a superar tudo isso. Tudo de bom a todos.

  3. Todos os dias vou para a Republica e o que não falta são infinitos africanos vendendo coisas informais na rua. E cada dia que passa vem mais usando nossos recursos alimentos água e sem pagar impostos. Lotando mais ainda o metrô de São Paulo e nosso espaço. Puxa vida! Já que o surto é lá deveria ter um controle mais rígido e severo de migração e permanência no país, como existe em todos os países sérios e estruturados.

  4. ESTOU MUITO PREOCUPADA DE O VIRUS EBOLA CHEGAR AQUI NO BRASIL

  5. Avatar de GAMEPLAYSFODASBR
    GAMEPLAYSFODASBR

    Teremos que acreditar que existe uma cura para Ebola,porquê se não tiver cura dai a humanidade se FODEU!

  6. Avatar de robertalavousier@yahoo.com.br
    robertalavousier@yahoo.com.br

    Primeiro o vírus fica no corpo durante 21 dias encubado, os sintomas são de uma virose normal febre, vômito, dor de garganta e diarreia..o que torna mais difícil de saber o que realmente tem, porque o tratamento mais eficaz é no período da doença esta incubada, porque quando começa todos os sintomas logo aparecerá sangramento, com tratamento em hospital com soro intravenoso talvez sobreviva 7dias.
    Brasil não tem nem maca, nem hospitais para atendimento normais, imagina para um vírus como esse, que e necessários roupas apropriadas para medicos e podemos ate dizer para pessoas tambem. Para nao chegar ao Brasil este vírus so parando todos os vôos vindo das regiões afetadas.
    E deveriam ter pessoas 24hs nos aeroportos com roupas apropriadas e fazendo exames assim que todos saíssem dos vôos, sendo obrigatório exames de sangue, pq os sintomas podem aparecer 21 dias depois, devido isso o EUA tem tenda de quarentena nos aeroportos e com certeza esse povo farão exames de sangue antes mesmo de sair dos aeroportos.
    Povo esse é um vírus mais letal que a humanidade nunca viu, mas estão vendo.

    1. Avatar de João Evangelista
      João Evangelista

      Se a humanidade nunca viu, como vc sabe de tudo isso? Seria porque a humanidade já viu?

  7. Gastaram uma tonelada de grana em estádios, poderia ter dado para os nossos centros como Manguinhos, e Butantã quem sabe ja estariamos vislumbrando alguma coisa em respeito ao virus … temos ótimos cientistas … mas sem grana fica dificil.

  8. Oi meu nome eh Victorya esse virus mata depois de quantos meses. E quais são seus sintomas

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