Brasileiros na reta final de Roland Garros

Após a precoce eliminação de Thomaz Bellucci e Ricardo Melo na chave de simples e da dupla brasileira, formada por Marcelo Melo e Bruno Soares, nem tudo está perdido, dois brasileiros ainda pisam no sagrado saibro parisiense esta semana.
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Não, não são jogadores de tênis, e sim o árbitro de cadeira Carlos Bernardes e a juíza de linha Paula Vieira, considerados atualmente dois dos melhores no circuito mundial de tênis. O primeiro, paulista de São Caetano e torcedor do Palmeiras, começou a carreira em 1988 e já tem mais de 3 mil jogos no currículo. A segunda, gaúcha de Porto Alegre e fã do Grêmio, começou mais de dez anos depois, em 1999.

O que existe em comum entre os dois? Além da competência, nenhum deles sequer tinha sonhado em arbitrar. Bernardes era professor de tênis em sua cidade e Paula ensaiou uma incipiente carreira como jogadora, desistindo ao concluir que não tinha talento suficiente para avançar profissionalmente.

Hoje, reconhecidos internacionalmente pela qualidade das suas atuações nas quadras, Bernardes e Paula chegam a fazer 300 e 200 partidas por temporada, respectivamente, viajando o mundo todo cerca de 30 semanas por ano. “As pessoas sempre dizem que deve ser muito bom conhecer vários países, mas, o que conhecemos muito bem são os aeroportos, os hotéis e as quadras de tênis, não dá tempo para muita coisa além do trabalho. Por exemplo, só pude ir à Torre Eiffel tempos depois de começar a arbitrar em Paris”, disse Bernardes.

Entre os fatos marcantes da sua carreira, ele cita a atuação na final do US Open de 2006 e na primeira partida profissional, jogada aos 16 anos, pelo atual número 1 do mundo, o espanhol Rafael Nadal, em Palma de Mallorca. Já Paula não destaca partidas em que atuou, dizendo que: “O importante é estar sempre de olho na bola, pois é o que temos de fazer com muita atenção. É um trabalho como qualquer outro, como se fosse em uma empresa, com seus prós e contras.”.

Apesar do trabalho duro, esses brasileiros fazem o que gostam e ainda ganham dinheiro para isso. “No meu caso, tenho de lidar com um grande problema, pois nunca passo meu aniversário em casa, já que a data coincide com o US Open, em Nova York, onde tenho atuado todos os anos. Outra dificuldade é que para os árbitros quase não existe manhã, tarde, noite, sábado, domingo, feriado, réveillon, pois os calendários do circuito de tênis são muito puxados”, afirmou Bernardes.

Perguntados se possuem algum tipo de reclamação ou algo a salientar sobre qualquer atleta profissional do circuito, os dois foram educados e elegantes, assim como é o próprio esporte. Bernardes se limitou a falar que, dado o alto nível de profissionalismo do tênis atual, não cabem mais comportamentos como os que tinha o polêmico norte-americano John McEnroe, famoso por sua habilidade no esporte e também por ser um pesadelo para qualquer árbitro que estivesse no comando de seus jogos, e que se fosse hoje, McEnroe seria constantemente suspenso de torneios e pagaria pesadas multas. “Os tenistas atuais não se arriscariam a isso, pois perderiam muito dinheiro.”. Já Paula Vieira, sem citar nome, disse que, certa vez, foi obrigada a desclassificar um jogador que descarregou nela com um palavrão a frustração por ter perdido um ponto, após ela ter chamado uma bola fora.

“Os próprios árbitros hoje zelam para que não se chegue a esse ponto ao administrar com cuidado as tensões emocionais em uma partida de tênis, pois têm consciência de que o espetáculo deve ser preservado e os jogadores podem estar vivenciando momentos de sensibilidade. Muitas vezes, o árbitro é a única pessoa de referência para eles, que cumprem uma rotina dura de jogos, treinos, viagens e ficam também muito tempo longe de suas famílias”, afirmou Bernardes.

Carlos Bernardes e Paula Vieira (que está entre as seis juízes de linha de todo o mundo prestes a serem promovidos a árbitro de cadeira), são unânimes em afirmar que o “jeitinho” brasileiro, o bom jeitinho, claro, facilita muito as coisas no momento de se relacionar com os jogadores ou colegas de profissão, o que se nota quando cruzam com outros árbitros e atletas fora das quadras. Exemplo maior disso veio com Franck Sabatier, o respeitado e poderoso chefe dos árbitros da Federação Francesa de Tênis e do Torneio de Roland Garros, que aceitou com o maior prazer ser fotografado junto aos brasileiros para ilustrar esta reportagem.


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