Carlos Brickmann e Clóvis Rossi, dois respeitados e competentes jornalistas, ambos meus velhos amigos e contemporâneos de redações, discutem hoje em suas colunas um tema que é raro na nossa mídia: o futuro da própria mídia.
Nós três somos do tempo da máquina de escrever, do linotipo, do mimeógrafo e do telégrafo, em que ainda não existia nem telex, quanto mais fax, xerox, celular, laptop, e a internet não passava de ficção científica.
Com visões de mundo, histórias de vida e trajetórias profissionais bem diferentes, o gordo Carlinhos e o Grandão, como se tornaram conhecidos nas redações do JT e do Estadão, respectivamente, analisam também com enfoques diferentes o que está acontecendo com o nosso ofício e o futuro da imprensa de papel diante dos novos meios eletrônicos.
Este futuro está chegando mais rápido do que se pensava e temia. Os jornais de hoje anunciam em suas primeiras páginas a assustadora (para nós, formados na imprensa papel) informação sobre o drama vivido por dois ícones da imprensa norte-americana, que já estávamos carecas de saber desde ontem pelo noticiário da internet.
Enquanto o Tribune, um dos maiores conglomerados de comunicação dos Estados Unidos, que edita os jornais Los Angeles Times e Chicago Tribune, pedia concordata, o New York Times resolvia hipotecar seu próprio prédio-sede para arrumar dinheiro e sair da pindaíba.
Um ainda no papel e outro em sua coluna na internet, melhor ouvir logo, ou melhor, ler o que têm a dizer estes dois veteranos escribas sobre o que está acontecendo com a indústria da comunicação.
Em seu artigo “Quando o erro é anônimo”, o Grandão Rossi comenta, ainda no papel, hoje na Folha:
“São notícias que levarão água para o moinho dos que acreditam que o jornal em papel está condenado à morte _ e eventualmente súbita. Calma. Só parte das dfiiculdades dessas empresas está de fato vinculado à queda de vandagem e, principalmente, na receita publicitária, fenômeno mais agudo nos Estados Unidos e em países europeus do que nos chamados mercados emergentes, Brasil inclusive”.
Se só parte das nossas dificuldades se deve a estes dois fatores, quais seriam os outros? Até o final do artigo, Rossi não revela (Brickman bota o dedo na ferida e diz quais são, como vocês verão logo abaixo).
Rossi pede “mais calma ainda nos festejos pela substituição do papel pelos blogs, twitters e demais bossas da informação on-line ou por telefone”.
Pergunta-se e responde ele mesmo:
“Democratiza mais a informação? Sim. Melhora a sua qualidade? Não necessariamente”.
Estou de acordo, mas para justificar a segunda afirmativa, ele cita a BBC, que se desculpou outro dia por ter se precipitado ao dar asas a um rumor, que se revelou falso, divulgado via twitter.
“Não que os jornais sejam santos ou perfeitos. Mas, em caso de erro, o leitor sabe a quem reclamar, pois tem o endereço, o telefone, o CNPJ, o e-mail, o ombudsman. Nos twitters da vida e seus parentes, o erro é anônimo”.
Como assim, anônimo, caro Rossi? Por acaso, a vetusta e gloriosa BBC não tem endereço? As notícias divulgadas pela internet, seja qual for a plataforma, não são em sua maior parte geradas pelas mesmas grandes empresas de comunicação, como o NYT, que agora enfrentam dificuldades com suas edições impressas?
Concordo com você que a internet é um “território livre para boato, informação interessada, lobbies nem sempre honestos nem legítimos”, mas a nossa velha imprensa de papel também nunca sofreu destes males?
Enquanto o leitor pensa nas respostas, vamos ao Carlos Brickmann, que deu o título “O jornal do dia, cedinho, e já velho” à sua coluna desta semana no Observatório da Imprensa, o maior e melhor espaço que se abriu até agora na internet para discutir a mídia, uma iniciativa de Alberto Dines, que foi mestre de todos nós.
Escreve o Gordo Carlinhos na tela:
“Às 6 da tarde, a TV já reprisa os melhores lances da partida. Os blogs esportivos que acompanharam todo o jogo pela internet, publicam as entrevistas e perspectivas de cada time. No rádio, os comentaristas se revezam (e, em seguida, correm para as mesas-redondas da televisão).
Doze horas mais tarde, depois de uma noite de sono, quando o consumidor de notícias pega o jornal, está lá a manchete: “Corinthians vence e garante o título”. Nada além do que todos sabiam desde muito antes de ir dormir”.
Perfeito, Carlinhos, você só esqueceu de dizer que garante o título da Segunda Divisão, mas tudo bem. Por uma feliz coincidência, para todos nós, como eu, que não acreditamos na morte da imprensa de papel, desde que encontre e respeite seu próprio espaço, a Folha de hoje publica uma raríssima exceção, só para te desmentir.
Na coluna impressa da Mônica Bergamo, o repórter Diógenes Campanha escreve matéria exclusiva contando como foi o vôo de volta da equipe do São Paulo, após a conquista do hexacampeonato _ da Primeira Divisão _, em Brasília, na noite de domingo. Como? Muito simples: ele estava no avião e conta o que aconteceu. Não vi nem li isto em nenhum outro lugar.
O curioso é que um furo, que deveria estar na capa do jronal e na editoria de esportes, sai numa coluna da Folha Ilustrada, que já foi social e hoje avança pelos campos da boa e velha reportagem.
Certamente, meus caros Rossi e Carlinhos, está aí uma das saídas para a imprensa de papel não ficar só repetindo o que a gente já sabia e, assim, cavar sua própria sepultura. Há esperanças.
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