Brilhante, família Teles

A menina Janaína, que viu a mãe na “cadeira do dragão”, e o irmão Edson, que perguntou aos pais, quando eles saíram da sala de torturas, por que eles estavam verdes, são co-autores de uma ação movida por cinco pessoas de uma mesma família contra aquele que apontam como seu algoz: o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.
. E foda-se, sua terrorista filha da puta”.

Sempre aos berros, o “major Tibiriçá” mandou seus agentes levarem “a subversiva para dentro”. “Para dentro” era sinônimo de sala de torturas. A partir desse momento, Maria Amélia passou por dezenas de sessões de tortura física e psicológica, conforme denunciam seus advogados Fábio Konder Comparato, Aníbal Castro de Sousa e Marília Alves Barbour na ação civil da família Teles contra o hoje coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Maria Amélia conta que, a exemplo do marido e de Danielli, foi levada a uma sala, onde teve início a série de torturas, que incluiu situações de humilhação e atos obscenos.
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Infância roubada
A infância de Janaína e Edson foi roubada na tarde de 29 de dezembro de 1972. Seu crime: serem filhos de César e Maria Amélia, militantes do PC do B que lutavam contra a ditadura. No dia anterior, seus pais haviam sido presos pelos agentes do “major Tibiriçá”, que 24 horas mais tarde invadiriam a casa em que moravam para seqüestrá-los e prender a tia Criméia.

Todos foram levados para a sede do DOI-Codi paulista. Por estar grávida, Criméia Schmidt, que atuara como guerrilheira no Araguaia, havia deixado a região e se abrigava na casa da irmã, Maria Amélia. Janaína, hoje historiadora, conta que ela e o irmão estavam assistindo ao programa infantil Vila Sésamo, quando a campainha tocou. A menina foi atender e o casal na porta se identificou como sendo da polícia. Janaína chamou a tia, que, fingindo ser a babá das crianças, foi conversar com os policiais.

Em seu depoimento, anexado ao processo que a família move contra Ustra, Janaína conta que, logo depois, outros homens invadiram a casa e, em seguida, entraram no quarto em que ela estava e a levaram aos berros e ameaças, juntamente com a tia e o irmão, para o banco traseiro da viatura policial, uma Aero Willis C-14 azul-clara, sendo conduzidos ao DOI-Codi.

A chegada ao prédio está descrita no depoimento de Criméia. Ela conta que, quando entrou, viu a irmã e o cunhado sendo retirados das salas de tortura. “Ambos tinham equimoses por todo o corpo, estavam sujos e suados. Meu sobrinho, que estava ao meu lado, ao vê-los, perguntou: por que vocês estão verdes?”

Em seguida, Criméia lembra que foi levada para uma cela, enquanto os sobrinhos ficaram dias perambulando pelos corredores do aparelho de repressão e foram testemunhas, como afirmam Janaína e o irmão, dos gritos de dor dos presos políticos.

Durante os dez dias que ficaram no DOI-Codi, os irmãos eram levados à noite para uma casa que até hoje não sabem dizer onde fica. Depois de verem Maria Amélia e César saindo da sessão de tortura, tia e sobrinhos se separaram e foram se encontrar somente tempos depois. Os advogados da família Teles argumentam que Edson e Janaína perderam a infância ao ficarem por cinco anos vivendo com familiares, sem o amor dos pais. Do DOI-Codi, eles foram levados para morar na casa de um tio, um delegado de polícia ligado à repressão militar. Ali, os garotos não podiam brincar nem fazer contato com os vizinhos. “A forma como vivíamos na casa desse tio era uma espécie de versão ao contrário do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, pois, no filme de Cao Hamburger, os filhos dos perseguidos pela ditadura foram acolhidos por pessoas boas”, recorda Janaína.


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