Em 7 de agosto, Caetano Veloso completará sete décadas de vida. Antecipando as comemorações, a Brasileiros convidou amigos, artistas e personalidades de diversas áreas, para deixar aqui suas homenagens a este cantor e compositor que mudou drasticamente os rumos da música popular brasileira.
Em maio de 1966, um ano antes de lançar Domingo, disco de estreia coassinado por ele e a amiga Gal Costa, Caetano defendeu a “retomada da linha evolutiva” da música brasileira, em entrevista à Revista Civilização Brasileira. O jovem, de 23 anos, apostava em uma radicalização da antropofagia ensaiada por seu mestre João Gilberto, que acrescentou à receita da bossa nova sofisticados maneirismos vocais e instrumentais do cool jazz americano. A ambiciosa meta foi atingida por Caetano no turbulento ano de 1968, com os novos rumos apontados pelo Tropicalismo, o movimento encabeçado por ele, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão, Torquato Neto, Capinam, Rogério Duprat e a banda paulistana Os Mutantes (signatários do disco-manifesto Tropicalia ou Panis Et Circencis, de 1968).
![]() |
O compositor em foto divulgada recentemente, flagrado aos 5 anos, idade completada pela Brasileiros nesta edição |
Como João Gilberto, Caetano modernizou nossa música, fez história em seu País e ao redor do mundo. Odiado por alguns, amado por muitos, provocado e provocador, Caetano pode até não ser uma unanimidade, mas sempre foi dotado de antenas que captam e retransmitem sinais do futuro musical, comportamental e político do Brasil. Que essa nova década do compositor continue a ser marcada por seu brilho intenso. Afinal, como ele mesmo cantou em referência (e reverência) ao poeta Vladimir Maiakóvski: “Gente é pra brilhar!”. Parabéns, Caetano!
![]() |
|||
“Meu colega do Rio de Janeiro, Felipe Taborda, criou a série A Imagem do Som, apresentada no Paço Imperial, em 1998. O primeiro músico homenageado foi Caetano Veloso e recebi por sorteio a canção A Terceira Margem do Rio, composta por ele a pedido de Milton Nascimento, que já tinha a letra. É uma canção bem complexa e só recentemente a compreendi vendo, no YouTube, o Milton explicar o conto de Guimarães Rosa. Meu trabalho é uma maquete optical art onde existem duas canoas para ilustrar cada margem do rio, a Odara e a Terra. A terceira margem, Cajuína, só aparece quando o observador se coloca na posição mostrada na foto – quando o espelho reflete a canoa Cajuína pintada no outro lado da canoa Terra.”
Guto Lacaz, artista plástico |
|||
|
|||
![]() |
“Caetano é atemporal e livre em sua maneira de compor e cantar. Prezo muito por artistas que têm como principal comprometimento fazer o que lhe faz sentido, de verdade, independentemente do que se é esperado, do que é rotulado, do que é previsto. Ele transitou lindamente em todas as fases, sempre com uma unidade maravilhosa!” Céu, cantora que, recentemente, lançou o álbum Caravana Sereia Bloom |
||
“Ao contrário da bossa nova, movimento que representou uma introversão, filtragem e compactação da música brasileira, uma ‘implosão estética’, o Tropicalismo se abriu para mil elementos, misturou-os, chacoalhou-os, confundiu-os e representou uma explosão na área da cultura popular. Misturar João Gilberto com Vicente Celestino, Poesia Concreta com a de cuíca de Santo Amaro, berimbau com teremim, portunhol com latim, intimismo com expansão comportamental, lirismo com ação política (não panfletária), bom humor com crítica, o regional com o universal e tantos outros extremos aparentemente intocáveis e antagônicos, parecia impossível. Não só foi possível como representou um momento especial em nossa movimentação cultural geral, onde uma expressão de origem popular, a canção, puxou o carro das ideias artísticas revolucionárias como um todo. Se os Mutantes nos mostravam uma visão crítica e divertida da nossa realidade e do “som universal” da época, representado pelo rock. Se Gilberto Gil se revelava um intérprete versátil, brilhante e um instrumentista original, foi o radar sensível de Caetano Veloso que soube captar o circuito e a agitação das ideias universais da época e apresentar uma resposta brasileira, com a indicação de um caminho para a nossa criação musical. O que faz sua obra estar viva e ser reestudada a cada nova geração, tanto quanto sua originalidade e forma como atuou em seu tempo, é sua alta qualidade musical e literária.”
Júlio Medaglia, maestro, autor do arranjo original da canção Tropicália, de Caetano Veloso |
|||
![]() |
|||
“Conheço Caetano há quase 50 anos, desde que eu ainda era um estudante secundarista e ele estava chegando a São Paulo (com Gil, Gal e Bethânia, formava um grupo fascinante que teve grande influência sobre mim), nas vésperas do Tropicalismo. Depois, ficamos amigos, teve a efervescência e a turbulência de 1968 e o longo e redefinidor período em Londres. Durante todo esse tempo, de lá para cá, sempre que nos encontramos, temos mantido um diálogo rico e estimulante (e que não tem fim!). E me sinto, assim, agora, honrado e feliz, de me juntar às comemorações dos 70 anos deste grande artista, múltiplo, que, além de compor e cantar de um jeito excepcionalmente belo, é também um escritor talentosíssimo e, entre outras coisas, já dirigiu um ótimo filme de longa-metragem. Portanto, há muito que comemorar. Salve Caetano Veloso!” Péricles Cavalcanti, cantor e compositor |
![]() |
||
![]() |
“Caetano é extraordinário. Sempre mostrando suas posições e as defendendo com ardor. Nunca tem medo de ser um novo Caetano. Meu amor por ele é para sempre.” Dedé Veloso, ex-mulher de Caetano |
||
![]() Odair José, cantor e compositor |
|||
|
|||
![]() |
|||
“Meu retrato do Caetano Veloso, nos bastidores de um show, em 1992, minutos antes de a cortina subir, já foi apontado como um dos melhores da minha carreira. Um retrato é muito mais a respeito do fotografado que do autor. Gosto de dizer que sou um espelho da luz invisível do meu fotografado. Caetano é daqueles que estilhaçam o espelho para brilhar solenes diante da objetiva.” Marcio Scavone, fotógrafo |
Deixe um comentário