Camelôs da segurança

Minha mãe, revoltada, me informa que vão instalar mais câmeras de filmagens no prédio onde ela mora. A bronca da boa senhora é a de que a taxa do condomínio vai aumentar. Há sérias dúvidas entre os moradores de que a alta tecnologia de xeretice vá ajudar na proteção de todos. Do jeito que o serviço de vigilância está montado hoje em dia, já se pode ver todos os cantos do imóvel. Isso não impediu que uma trinca de ladrões entrasse na garagem, fugindo de um assalto ao apart-hotel vizinho. Os invasores foram mais filmados que o comediante George Burns, que, nonagenário, ainda trabalhava em Hollywood. Fez mais de 100 longas-metragens.

A polícia assistiu às cenas da fuga dos bandidos, mas não conseguiu identificá-los. O que me leva a crer que as câmeras têm a mesma eficácia que aquelas centenas de similares instaladas na Times Square, em Nova York. Quando um terrorista parou um jipão cheio de explosivos na rua 47 com Broadway, não foram as objetivas que deram o alerta sobre o perigo. Quem salvou a pátria foram os camelôs, vendedores de camisetas que passam o dia no pedaço. Veem tudo e sabem quando algo está fora do normal.

Trata-se, é claro, do estupendo poder de observação e análise, já que na Times Square só tem coisa fora do comum. Mesmo assim, causou espanto o fato de que um motoristra tenha conseguido arranjar lugar para estacionar o carro naquele ponto. Um verdadeiro milagre realizado com uma simples manobra ao volante. Parar carro em qualquer parte de Nova York é coisa para o Tom Cruise: missão impossível. Mas, divago… O que importa é que as câmeras não serviram para nada. Já escrevi aqui sobre o fato de que por duas vezes larápios roubaram vários aparelhos, sem que fossem identificados. Conseguiram o feito operando na madrugada, quando os vendedores de camiseta não estão a postos.

Sugeri à mamãe que recomende ao síndico de seu prédio a contratação de um par de vendedores de camisetas, para dar cabo do serviço de vigilância local. Pense nisso: os caras são autossustentáveis, pois vivem do faturamento das vendas. Dê um troco para eles e a turma fica de olho na área. Essa solução, além de mais barata, ainda contribui para a criação de trabalho para o povo.

Em Cuba, esse método foi implantado há décadas. Existem velhos alcaguetes que ficam de bico nas ruas e fazem relatórios sobre a vida dos habitantes. Caso haja alguma atividade considerada antirrevolucionária, a velharada vai ao comitê do partido na região e deda o vizinho. O esquema é asqueroso, mas funciona. Tire-se o componente ideológico de controle do Estado, e o que sobra é um método que pode ser assimilado no Brasil. Em vez de câmeras caras, empregue-se quem não tem mais nada o que fazer do que cuidar da vida dos outros.

Não sei o que o síndico do prédio de minha mãe vai resolver, mas aposto que em minha próxima ida ao Brasil vou poder comprar uma camiseta do Corinthians da banca do vigia do quarteirão.


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