Uma das mais valorizadas designers de joias do Brasil, Carla Amorim, 45 anos, nascida em Brasília, não tem dúvidas em afirmar que não sai da Capital Federal por considerar a cidade uma das melhores do mundo em qualidade de vida. Morando com o marido, Fábio, em uma casa no Lago Sul, bairro nobre, ela destaca a facilidade de locomoção entre a casa, a escola dos filhos gêmeos, Tiago e Felipe, de nove anos, sua loja e os outros lugares do seu cotidiano. “Chego rápido a todos os locais, encontro com as pessoas, circulo pela cidade sem problemas”, garante. “É tudo mais fácil. Se eu fosse pensar exclusivamente no trabalho, estaria morando em São Paulo, onde fica minha oficina de produção e fabricação das joias e tenho duas lojas.” A rotina dessa filha de mineiros – o pai, o engenheiro Aroldo Silva Amorim, já falecido, veio trabalhar na construção de Brasília, contratado pela Novacap, e nunca mais deixou a cidade que ajudou a construir – inclui, a cada 15 dias, um período de menos de uma semana em São Paulo, supervisionando o trabalho de 50 pessoas (ourives, artesãos, etc.) na oficina onde todas as coleções de joias são produzidas. Ela as desenha em seu ateliê, criando coleções como a que homenageia os 50 anos de Brasília, levando depois o material para São Paulo, onde os projetos são transformados em peças de grande beleza. “Tenho sempre três temas centrais em minhas coleções e a cada um dedico o mesmo espaço: a religião, a natureza e Brasília”, diz.
Carla conta que virou designer meio por acaso. Depois de ter estudado em escola pública (Brasília tinha uma rede escolar modelo) e, depois, no tradicional Colégio Marista, foi fazer Administração. Logo descobriu que não era sua praia, assim como dar aulas de inglês, depois de concluída a formação na Casa Thomas Jefferson. “Sempre tive um lado estético muito forte, desenhava muito bem”, diz. “Um dia, pedi a Deus que me desse um discernimento, uma luz sobre o que eu deveria fazer. E senti que a arte, a criação, seria meu caminho.” Era o ano de 1992, e ela decidiu que tinha de estudar ourivesaria, design e gemologia. Foram três anos de preparação. Carla destaca que o mais difícil foi “meter a mão na massa”, ou melhor, nos metais preciosos. Ela confessa que a ourivesaria foi e ainda é a maior dificuldade, mas acha que saber trabalhar manualmente o ouro lhe permitiu poder cobrar eventuais falhas na fabricação das joias. As primeiras que fez vendeu para a família e para os amigos mais próximos. Foram dois anos em que o boca a boca foi fundamental e o principal ponto de venda era a casa da mãe em Brasília. Em 1994, ela abriu a primeira loja no Kubitschek Plaza Hotel. A expansão veio aos poucos. Primeiro, um ponto de venda em Belo Horizonte, tocado pela amiga Beatriz Braga. Depois, a primeira loja em São Paulo, em sociedade com a irmã Kelly, administradora formada pela FGV. Hoje, são duas lojas em São Paulo, em endereços nobres (rua Oscar Freire e Shopping Iguatemi), Brasília, Belo Horizonte, Recife e, em breve, Ribeirão Preto. Pontos de venda no exterior incluem as lojas Selfridges e há negociações com outras cadeias de lojas de alto padrão nos EUA. E o Rio de Janeiro já faz parte de planos futuros. Todo o sucesso e o reconhecimento ainda intrigam Carla. “Eu nunca pensei que aquelas joias que desenhei como um exercício de fé, arte e criação virariam a minha profissão, meu modo de vida. Acho que Deus me iluminou”, garante a católica praticante.
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