Criado há 15 anos pelo MST para lembrar os 19 sem-terra mortos na chacina policial de Eldorado dos Carajás, no Pará, o protesto do “Abril Vermelho”, que promove a ocupação de fazendas e prédios públicos por todo o país, transformou-se num evento oficial na Bahia.
Pelo terceiro ano consecutivo, as despesas do “acampamento” de 3 mil sem-terra na Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária, em Salvador, são bancadas pelo governo estadual.
Segundo relato do repórter Matheus Magenta, na Folha deste sábado, em 2009 o governo pagou mais de R$ 160 mil em aluguel de ônibus para levar um grupo de sem-terra de volta aos seus acampamentos no interior baiano.
No ano passado, o “acampamento” oficial também recebeu um tanque de água para refrescar os manifestantes, além de banheiros químicos.
Nesta edição de 2011 do protesto “Abril Vermelho”, a mordomia está mais caprichada: desde segunda-feira, os sem-terra estão recebendo do governo baiano 600 quilos de carne por dia, a um custo de R$ 6 mil, fora as verduras.
A infraestrutura fornecida pela Secretaria da Agricultura inclui 32 banheiros químicos, dois chuveiros e um imenso toldo branco, que ninguém é de ferro para aguentar aquele calor baiano.
Por isso, os manifestantes não estão com pressa. A pauta oficial do protesto é conseguir uma audiência com o governador Jaques Wagner e o Secretário da Agricultura, Eduardo Salles. Todos lá sabem que ambos acompanharam a presidente Dilma Rousseff na viagem à China e só deverão retomar o expediente na segunda-feira.
A reivindicações dos sem-terra são as de sempre: a melhoria dos que já existem e a criação de novos assentamentos.
Sou do tempo, lá no Rio Grande do Sul, no início dos anos 1980 do século passado, ainda na ditadura militar, quando fiz as primeiras reportagens sobre o movimento, em que a sigla MST surgiu no cenário para defender os deserdados do latifúndio e a legião de desempregados urbanos em busca de terra para a sobrevivência. Enfrentava a polícia e tinha forte apoio popular.
Nestas três décadas, o caráter e os objetivos do movimento mudaram completamente. Com o crescimento da economia nos últimos anos e o consequente esvaziamento da freguesia, abrigada em empregos no agronegócio e nas cidades, o MST transformou-se num movimento meramente político, ao mesmo tempo cada vez mais radicalizado e dependente de benesses oficiais.
O “acampamento” oficial patrocinado pelo governo em Salvador, com a imagem das bandas de carne secando placidamente ao sol num varal improvisado, é emblemático destes novos tempos do MST, um sinal do ocaso do movimento.
Que lembranças o caro leitor do Balaio guarda dos assentamentos e acampamentos do velho MST em sua cidade e qual a sua visão do movimento hoje?
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