Causando boas impressões

“Uma empresa pública, como as empresas públicas deveriam ser.” É assim que Hubert Alquéres define a Imprensa Oficial, gráfica e editora do governo estadual de São Paulo, presidida por ele desde 2003. Engenheiro civil e físico, Alquéres foi secretário-adjunto de Estado, na pasta de Educação, durante o governo Covas. Em sete anos de gestão, ele liderou uma pequena revolução dentro do órgão público e conseguiu torná-lo uma empresa economicamente independente do Estado.

Quando diz que a Imprensa Oficial é um paradigma para as empresas públicas, Alquéres, obviamente, faz alusão ao velho consenso de que o funcionalismo público e as empresas estatais são estruturas viciadas. Engrenagens de uma máquina engessada pela garantia de estabilidade de trabalho e um pai generoso que paga contas, indiscriminadamente. Realidades muito diversas da empresa que trabalha em ritmo frenético, sete dias por semana, 24 horas por dia: “Hoje, a Imprensa Oficial pode dizer com orgulho que conseguiu fazer tudo isso sem onerar a sociedade, sem pedir dinheiro algum ao governo e até repassando lucros”.

Contrário à individualização desses êxitos, Alquéres credita o mérito a um pacto feito com os quase mil funcionários que, embora concursados, não gozam de estabilidade e tem plena ciência de que atuam em uma empresa tão competitiva como qualquer outra instituição privada: “Logo que cheguei, convoquei os funcionários e disse a eles que a Imprensa Oficial era muito criticada, que não tínhamos qualidade, que não obedecíamos prazos e que tudo aqui era muito caro. Queria melhorar esses aspectos, e minha ideia era começar a imprimir para museus e fazer livros de arte. Um mercado muito exigente e isso seria um desafio para nós”. Fizemos então um pacto: “O que vocês mais precisam aqui?”. Pediram um vestiário e um refeitório decentes. Me comprometi a conseguir essas melhorias e eles a cumprirem as metas de qualidade. A garra desse pessoal foi impressionante”. Além do refeitório e do vestiário, hoje, a Imprensa Oficial ostenta uma moderna academia de ginástica.

Transição histórica
A transformação da empresa em uma editora foi um importante fator para a consolidação do negócio: “Em 2003, havia uma clareza muito grande de que ser somente gráfica era muito pouco. Tínhamos potencial e vocação para ser também uma grande editora. Enviamos um projeto de lei à assembleia, para aumentar o objeto social da empresa, e a Imprensa Oficial passou a ser editora, prestadora de serviços de comunicação e certificadora digital”.

Foto: Luiza Sigulem

NOVOS TEMPOS – Ainda impresso nessas três bobinas, o Diário Oficial teve 119 anos de publicações digitalizadas

Entre centenas de títulos, a coleção Aplauso – coordenada pelo crítico de cinema Rubens Ewald Filho, e dedicada a biografar importantes nomes de nossas artes dramáticas no teatro, no cinema e na televisão – é hoje o maior êxito da editora. Lançada em 2004, a coleção soma quase 200 títulos. Na sala do presidente, uma estante acomoda 20 prêmios Jabuti, entre outras dezenas de condecorações e um prêmio especial da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), concedido em 2009. A coleção tornou-se uma unanimidade, mas foi alvo de muito ceticismo em seus primeiros dias, como revela Alquéres: “No começo, muitos não queriam ser biografados e recebiam o convite com suspeita. Nosso grande desafio foi justamente mostrar que, embora fôssemos uma empresa cujo maior acionista é o governo, não sofremos nenhum tipo de ingerência política. Você não vai encontrar em nenhum de nossos títulos um livro da tia do prefeito ou do governador”.

Alquéres faz questão de também enfatizar a grande evolução sofrida pela empresa no que diz respeito ao cumprimento de seus papéis primários: “A Imprensa Oficial nasce com princípios de existência muito nobres: dar transparência aos atos públicos, democratizar o acesso da população a esses atos e perenizá-los”. A manutenção desses princípios sofreu uma grande revolução na última década. Todo o acervo do Diário Oficial, de 1891 até os dias de hoje, foi digitalizado e disponibilizado para consultas gratuitas na internet. Em 2009, o portal recebeu um número superior a 15 milhões de visitas: “Isso representa um exercício de transparência muito grande. Uma ferramenta imprescindível para o mercado diagnosticar transações seguras e oportunidades de negócios, uma vez que ela disponibiliza a consulta de balanços das empresas e mapeia todas as licitações e editais publicados”.

Outra frente que traz muito orgulho à entidade é a Imprensa Social, braço beneficente da empresa que, além de gerenciar a distribuição de títulos em escolas de todo o País, anualmente, possibilita que ONG’s enviem projetos editoriais em que apresentam o resultado de seus trabalhos. Os mais importantes são impressos em larga escala e distribuídos por secretarias de educação, para que sejam replicados nas escolas de todo o País. Alquéres ainda destaca o vínculo estreito que a Imprensa Oficial estabeleceu com a cidade de São Paulo: “Outro objetivo que impusemos foi interagir com momentos importantes para a cidade, como a SP Fashion Week, a Mostra Internacional de Cinema e o festival de documentários É Tudo Verdade“. A Imprensa Oficial completa 120 anos em 2011 e, entre outras celebrações, prepara um livro que irá contar sua história.