Chico, o último dos moicanos

Bastaram duas semanas para que o público paulistano esgotasse os cerca de 30 mil ingressos destinados a 16 shows de Chico Buarque. O sucesso fez com que a casa de shows HSBC Brasil anunciasse mais seis espetáculos do músico. Ontem, 1º de março, foi a estreia da longa turnê – a primeira desde 2007. Brasileiros esteve lá.

Nove e meia da noite. Poucos minutos para o início do show. As luzes se apagaram. IPhones e Blackberrys em riste, gritinhos estridentes preparados. Chico, todo de preto, entrou no palco. Uma saraivada de flashes, luzes de celular, palmas e assobios. Entre gritos de “lindo, lindo”, “Chico, eu te amo” e “casa comigo”, sobrou até um “ai se eu te pego”.

Ao longo de quase duas horas de show, mais de 30 canções. Entre clássicas e novas composições, o público foi à loucura. A apoteose aconteceu com Geni e o Zepelim. Mal começaram os primeiros acordes da música, e a plateia, num misto de êxtase e surpresa, aplaudiu convulsivamente.

Durante os versos da música, parte da Ópera do Malandro, de 1986, a quantidade de focos luminosos, acima de cabeças encobertas pelo escuro do auditório, espantou. Eu já estava incomodando com a quantidade de filmagens, mas Geni elevou a coisa a outro nível. Infelizmente, perdi boa parte da música pensando nisso: o show, para muita gente, incluindo meu vizinho de mesa, foi visto através da tela de LCD de um celular.

Chico, o “lindo”, como gritava a mulherada em polvorosa, estava lá. De carne e osso. Mas o registro, que tenho minhas dúvidas se um dia será visto, parecia ser mais importante. Pode soar um tanto quanto ranzinza, mas acho que o comportamento tem algo de esquizofrênico.

O show? Foi bom. Chico é um mestre de gerações e gerações, que bebeu diretamente da fonte de mestres de outras gerações e gerações. Suas canções, gênero que ele próprio disse estar morto, não param de emocionar. Mas talvez Chico, realmente, seja o último dos moicanos. A canção deve estar mesmo morrendo. Ela parece pertencer a um tempo de delicadezas incompatível com os tempos de hoje.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.