A pequena vila de Jericoacoara, com suas belas praias e dunas, é famosa por atrair milhares de turistas estrangeiros, principalmente europeus e americanos. Encantados com o cenário, muitos decidem ficar, o que cria no povoado um ambiente peculiar para o litoral cearense: mais do que forró, repentes e MPB, ouve-se por ali música eletrônica, reggae e rock.
Pois é justamente em Jericoacoara que vem sendo organizado, desde 2009, o Festival Choro Jazz que, em sua 4a edição, se consolida como um dos grandes eventos anuais de música no País. “Os gringos compraram tudo por ali, mas é importante não deixar as raízes nacionais morrerem”, diz Capucho, coordenador do festival, que ocorre entre 29 de novembro e 9 de dezembro.
A programação, que este ano terá um braço em Fortaleza, inclui grandes nomes da música nacional (Guinga, Cristovão Bastos, Mônica Salmaso, Trio Madeira Brasil, Duo Assad e Raul de Souza) e estrangeira (Lindigo, da França, e Gabriele Mirabassi, Itália). Sobre o nome do evento, Capucho explica: “O choro é a música mais representativa do Brasil, o nosso primeiro ritmo. E o choro se aproxima do jazz pela riqueza dos dois e pelo caminho que leva aos improvisos”. Mas o foco não é fechado nos dois estilos. “A ideia é que seja um festival de música boa”, diz o coordenador, ao falar de outros destaques, como Almir Sater (MS), Tampo do Bando (RS) e Antonio Nóbrega (PE), identificados com estilos mais regionais. Nóbrega encerra o festival com show em homenagem a Luiz Gonzaga.
Paralelamente às apresentações, o evento reúne uma agenda de oficinas e atividades educativas. Realizado em parceria com os governos estadual e federal, o Choro Jazz foi responsável pela fundação, em 2009, de uma escola homônima na vila, que se mantém em atividade durante todo o ano. “O que me deixa mais feliz é ver aquele monte de crianças andando pelas areias quentes com seus violõezinhos embaixo do braço”, diz Capucho.
Especialmente durante os dias do evento, mais “professores” chegam para as oficinas, com ênfase na música instrumental. Uma rara oportunidade para assistir às aulas de Alessandro Penezzi, Teco Cardoso, Mauricio Carrilho, Toninho Carrasqueira e Arismar do Espírito Santo.
Destaque do festival, o trombonista Raul de Souza, 78, vai a Jericoacoara pela primeira vez. Ele afirma não se incomodar com a distância (300 km de Fortaleza, com trecho de difícil acesso). “Estou com muita energia. Eu acho que dos trombonistas anciões, sou um dos poucos que ainda está tocando.”
O músico acaba de lançar CD e DVD, reunidos no pacote O Universo Musical de Raul de Souza. No registro, a participação de Altamiro Carrilho – seu mestre e padrinho – ganhou valor histórico, já que foi a última apresentação do flautista antes de sua morte, aos 87 anos, em agosto. “Para mim, ele foi o melhor, seja na sonoridade, na interpretação, tudo.” Raul de Souza diz ainda que músicos como Carrilho mostram a dimensão e a importância do choro no Brasil, reforçando a relevância de um festival como o de Jericoacoara.
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