Faltam 10 minutos para as 18 horas de uma segunda-feira. O plenário da Câmara de Campinas, cidade do interior de São Paulo, está praticamente vazio. Porém, sentada na quarta fileira de cadeiras destinadas ao público, está a professora aposentada Maria Aparecida de Souza Ferreira Fulfule, de 67 anos. Ela não tem mandato, mas todos a consideram a 34ª vereadora da cidade. Cida Fulfule, como é conhecida, bate cartão em todas as sessões ordinárias e atividades públicas da Câmara. Ela chega antes do que muitos vereadores e é mais assídua do que muitos deles. Temida entre os 33 legisladores de Campinas, Cida não se intimida em dar-lhes puxões de orelhas e, se preciso for, escreve ofícios exigindo uma resposta por escrito às suas reclamações. A política está em seu DNA. Herança do avô, Júlio Padilha de Souza Aranha, que a carregava para todos os eventos políticos nas décadas de 1940 e 1950. Com 7 anos, ela adorava acompanhar os comícios do ex-governador Adhemar de Barros e do ex-presidente Jânio Quadros, no Largo do Rosário – praça que até hoje é reconhecida por ser palco de grandes eventos políticos da cidade. “Quando o Getúlio (Vargas, ex-presidente do Brasil) foi deposto, eu e meu avô fomos a várias passeatas de protesto. Nós fizemos parte dessa história”, relembra.

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Os anos dedicados ao exercício da cidadania transformaram Cida em uma profunda conhecedora da legislação sobre assistência social. Tanto que em 2001 foi eleita presidente do Conselho Municipal de Assistência Social. Para que fosse respeitada e para argumentar com conhecimento de causa, estudou o regimento interno (uma compilação de regras que devem ser obedecidas pelos parlamentares) e a Lei Orgânica do Município. Tanta ousadia já lhe rendeu algumas discussões com parlamentares. “Sei que incomodo, mas estou numa idade que não tenho de ter medo”, argumenta.

Mesmo não gostando de algumas intervenções da “34a vereadora”, os parlamentares de Campinas reconhecem que se a Câmara tivesse mais Cidas Fulfules sentadas nas cadeiras, a cidadania seria exercida de forma plena. “Sua participação é sempre marcada pela cobrança. Em várias oportunidades, fui criticado por ela, mas também já recebi inúmeros elogios”, diz o presidente da Câmara, Aurélio José Cláudio (PDT). Para o vereador Tadeu Marcos Ferreira (PTB), a aposentada foge do perfil caricato. “Ela é inteligente e conhece as leis”, diz. Mas nem todos concordam. “Ela fala demais. Quer decidir mais do que os vereadores”, diz o vereador José Carlos Silva (PDT). Independentemente da aprovação ou não dos vereadores, o fato é que Cida não é uma brasileira coadjuvante. Ela é dona da sua própria história.


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