Cidade paulista já enfrenta sistema de rodízio no abastecimento

A falta de chuvas e o intenso calor nos primeiros dois meses do ano têm deixado cada vez mais crítica a situação dos reservatórios de água em São Paulo. O município de Valinhos, a 87 quilômetros (km) da capital paulista, já enfrenta as consequências da estiagem.

Na última segunda-feira (3), o Departamento de Águas e Esgotos de Valinhos (Daev) precisou suspender o abastecimento em 13 bairros do município para levar água a outras dez localidades. Caso não chova, o órgão estima que o sistema tenha capacidade para operar de forma autônoma por mais 100 dias.

O revezamento entre os bairros do município durou dez horas, das 12h às 22h. Ele ocorreu porque o manancial João Antunes dos Santos reduziu a produção de 50 litros por segundo para 10 litros por segundo. De acordo com o órgão, isso afetou 10% da água tratada disponível para a cidade. A manobra para levar água a bairros que estavam desabastecidos desde sexta-feira (31) pode ser repetida nos próximos dias.

A ideia é que as casas que têm caixa d’água possam reabastecê-las para enfrentar o período de seca. As que não têm, no entanto, já sentem o impacto da falta d’água nas torneiras. Outros mananciais da cidade também estão em estado de atenção. O Santana de Cuiabanos está 1 metro abaixo do normal, o Figueiras chega a 1,2 metro e o Moinho Velho está 50 centímetros (cm) abaixo do nível máximo.

Segundo o Daev, metade da água consumida em Valinhos é oriunda do Rio Atibaia, que recebe reservas do Sistema Cantareira. O sistema, por sua vez, está com apenas 20,9% da capacidade, conforme dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Cerca de 45% do abastecimento são feitos por quatro mananciais próprios e, para bairros mais distantes do centro, aproximadamente 5%, a água é oriunda de poços profundos.

De acordo com o departamento, a previsão é chuva apenas para o dia 14 de fevereiro. Para superar esse período de estiagem, considerado atípico no verão, o município contratou carros de som para pedir que a população diminua o consumo, além de folhetos informativos que estão sendo distribuídos pelos funcionários que fazem a leitura do hidrômetro.

Em Campinas, a baixa no Atibaia tem um impacto ainda maior, pois 95% da cidade, segundo a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), são guarnecidos por esse rio. Ontem (5) o nível do rio havia chegado a 12 cm, quando o normal é 30 cm. Na semana passada, ele estava em 10 cm. Esse ganho no nível de referência, na avaliação da Sanasa, foi resultado do trabalho de desassoreamento do rio, iniciado no dia 29 pela prefeitura.

Outra medida adotada no município foi a ampliação do período considerado como de estiagem, para permitir que pessoas que desperdiçam água sejam notificadas ou multadas. A partir deste mês, pessoas que utilizem água para limpeza de calçadas, tanto residenciais como comerciais, podem ser autuadas e, caso sejam reincidentes, serão multadas em três vezes o valor da última fatura de água.

Para evitar o racionamento na região de Campinas, Piracicaba, Limeira, o comitê que representa as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, o Consórcio PCJ, reivindica a mudança na partilha de água em relação à região metropolitana de São Paulo. Alexandre Vilela, gerente técnico do consórcio, explica que em momentos de cheia dos reservatórios, São Paulo tem direito a 31 metros cúbicos por segundo (m3/s) e o PCJ, a 5 m3/s. Agora, em que se vive uma estiagem, a proporção é de 24,8 m3/s e 3 m3/s. Esses valores são definidos pela Agência Nacional de Água (ANA).

Segundo o gerente, a Sabesp, que opera a região metropolitana de São Paulo, está conseguindo fornecer, neste momento, 32 m3/s, por causa de uma reserva de água que existe para os períodos sem chuva. “O PCJ, em novembro, esgotou toda a água que havia na reserva, porque, seja 5 ou 3 [m3/s], essa quantidade já é insuficiente para essa região”, justificou. Por isso, o Ministério Público Estadual, com aprovação do consórcio, propôs à ANA, na última segunda-feira (3), a partilha do excedente que está sendo usado pela Sabesp.

“Ainda que com vazões menores, isso prolongaria até que a gente consiga ter chuvas”, apontou Vilela. Ele destaca que a região abastecida pelo Consórcio PCJ, que compreende 62 municípios e cerca de 5 milhões de pessoas, é responsável por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Em termos econômicos, essa situação tem um grande significado quando se fala em ter ou não ter água, pois concentra importantes parques industriais e agrícolas”, destacou.

Na região metropolitana de São Paulo, a baixa no Sistema Cantareira pode prejudicar cerca de 9 milhões de habitantes. O sistema, que é o maior do estado, opera com o menor nível desde sua criação, na década de 1970. Esta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que ainda não trabalha com a possibilidade de racionamento de água no estado em razão da falta de chuvas. Ele espera que a medida de estímulo de combate ao desperdício com um bônus na conta de água e a expectativa de chuvas a partir da segunda metade deste mês sejam suficientes para garantir o abastecimento.

Para incentivar a economia de água, a Sabesp lançou uma campanha em que oferece um desconto de 30% no valor da conta de quem conseguir economizar 20% em relação ao gasto médio dos últimos 12 meses. Podem participar os consumidores residenciais, comerciais e industriais que são abastecidos por esse sistema.

A companhia pede para que a população economize água, adotando medidas como tomar banhos mais curtos, usar vassoura em vez de mangueira para limpar quintais e calçadas, acumular as roupas para utilizar a máquina de lavar na capacidade máxima e fechar a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba.


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