Ciência democrática

O último painel do dia “O uso democrático da ciência como agente de transformação no Brasil” é o mais heterogêneo do dia de debates sobre inovação. No entanto, a fala dos palestrantes segue a mesma linha dos outros painéis: o Brasil vive um momento único, mas, para avançar, deve der atenção com os próximos passos.

“Eu vou derrubar dois mitos: primeiro que o brasileiro não gosta e não tem afinidade com ciência; o segundo que somos incapazes de criar uma ciência genuinamente brasileira”, começou o neurocientista Miguel Nicolelis, colunista da Brasileiros e professor titular da Duke University. Para tanto, Nicolelis apresentou exemplos de projetos em que ele está envolvido. A Comissão do Futuro é um site feito em modelo de crowdsourcing (conhecimento construído colaborativamente) criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com a intenção de traçar um diagnóstico do estado atual da pesquisa cientifica no País. Os resultados, depois de apenas um mês de fundação, já são notáveis. O site já conta com mais de 3000 usuários e 142 grupos de discussão. Para Nicolelis, este exemplo e o projeto educacional Cérebro, desenvolvido no sertão do Rio Grande do Norte, derrubam os mitos citados pelo cientista no começo da palestra.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Marcio Pochmann, começou sua palestra na esteira da fala de Nicolelis, dizendo que o “O Brasil não aceita mais ser liderado, o Brasil quer liderar.” Pochmann deu motivos concretos para essa aspiração nacional ser mais do que um sonho. “É a primeira vez, desde 1929, que os países ricos estão perdendo espaço no cenário global”, disse o presidente do IPEA. Segundo ele, este é um sinal claro de que o Brasil começa a assumir um papel de liderança no mundo. “Estamos diante de novas centralidades econômicas”, concluiu. No entanto, apesar do momento favorável para o País, ainda temos alguns problemas para o avanço. Os principais são: a criação de uma moeda de curso internacional, o fomento de uma indústria de defesa e a construção de um complexo de difusão e produção de conhecimento.

O Deputado Federal Newton Lima Neto, que foi coordenador setorial nacional de Ciência & Tecnologia do PT, concorda com os obstáculos apresentados por Pochmann, mas acredita que o “novo desenvolvimentismo”, a sustentabilidade e a inclusão social – ações em curso no Brasil – são a solução. Newon Lima faz questão de ressaltar também a importância da educação para a superação dos obstáculos e, por isso, lembra do Plano de Educação Nacional, que não tem tido muito destaque na grande mídia. Mario Sergio Salerno, coordenador executivo do Observatório da Inovação e Competitividade do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Estadual de São Paulo (USP) volta a discussão do primeiro painel, jogando a responsabilidade do problema da inovação no Brasil para as empresas.

Quem teve a voz em seguida foi Thaisa Storch-Bergmann, astrônoma do Instituto de Física da UFRGS e um doa grandes nomes em pesquisa do fenômeno do Buraco Negro. Após apresentar algumas curiosidades de sua pesquisa, a astrônoma comemorou o fato do protagonismo brasileiro na astronomia. “Fazemos parte do ESO, o Observatório Europeu do Sul, nós e mais 14 países europeus”, comentou, antes de anunciar um possível acordo entre esses 15 países para a construção do telescópio mais moderno do mundo, com um custo aproximado de 1 bilhão de euros. Antes de finalizar, Thaisa apontou o caminho para que consigamos entrar de vez no primeiro escalão dos países no mundo: o investimento em educação desde a infância e uma qualidade especial no ensino fundamental.

Valdomiro Lopes Junior, Prefeito de São José do Rio Preto assumiu o palanque e, antes de mais nada, parabenizou a pesquisadora que precedeu sua palestra. “Precisamos resgatar nosso ensino público. Lembro que, em minha época, só estudava em instituições particulares quem não conseguia não conseguia passar em escola pública”. O prefeito falou brevemente sobre os investimentos de sua cidade, terminando com citação de Miguel Nicolelis, que havia falado pouco antes dele, porém, por conta de sua agenda atribulada, já não se encontrava mais na mesa. “O genial Nicolelis disse que os cientistas querem mudar o mundo, pois me vejo semelhante a ele nesse quesito, afinal, o político, aquele que prática a boa e decente política, também tem esse desejo, mudar o mundo e dar uma vida melhor para aqueles que eu represento!”.

Para finalizar o bem sucedido Seminários Brasileiros: Inovação: O Brasil na Rota do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Rogério de Paula, Diretor de Inovação da Intel Brasil palestrou de maneira muito rápida, porém, sucinta e direta. “Estudei muito tempo nos EUA e, quando voltei, há algum tempo atrás, reparei que o brasileiro sempre pensou mal do Brasil. Felizmente, isso está mudando”, analisou. De Paula apresentou dados e contou histórias sobre o trabalho da Intel em comunidades carentes, fez questão de salientar o crescimento do País e do brasileiro, que não mais vive a margem da Internet, hoje tem conhecimento e ocupa lugar de destaque na realidade conectada mundial.


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