“O Manchester City tem ambições e, sinceramente, não vejo nenhuma diferença entre o City e o Real Madrid ou a Seleção Brasileira”.
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A frase acima foi dita na quinta-feira (6) por Robinho, da seleção brasileira, com passagem pelo Real Madrid, e uma das estrelas do cada vez mais “galáctico” elenco do Manchester City. Na atual janela de transferências na Europa, o rival do Manchester United foi o clube que mais gastou. Foram R$ 288 milhões com as contratações de pesos-pesados. O City tirou o argentino Carlitos Tevez do United, além do zagueiro Kolo Touré e do atacante Emmanuel Adebayor do Arsenal.
“Quando me transferiram do Real Madrid no ano passado, havia uma mentalidade diferente, já que o City não pensava como um grande clube. Agora, esta equipe tem um equilíbrio real e acho que está pronta para competir”, analisa Robinho.
As palavras de Robinho resumem o desejo fundamental do City: ser grande. No entanto, o sonho está longe da realidade. Na última temporada, a equipe foi somente a 10ª colocada no Campeonato Inglês. Fora de campo, do dia para a noite, o primo pobre do Manchester tornou-se rico, forte e poderoso. Dentro dele, há muito que se fazer.
Há outro aspecto importante em jogo: o torcedor do City. A transformação de fraco e oprimido para forte e amparado pelos petrodólares está mexendo com a cabeça da torcida.
Em brilhante reportagem assinada por Rob Hughes, o jornal The New York Times relatou a metamorfose da equipe azul e as diferentes reações que a mudança provoca nas cabeças dos fanáticos torcedores.
A matéria começa com uma pergunta: “Qual é o papel – e quais são os direitos – do torcedor que, desde o dia do seu nascimento segue religiosamente um clube de futebol?”
Depois, reconstrói o panorama da transformação do Manchester City. Da compra do clube, em julho de 2007, pelo primeiro-ministro deposto da Tailândia, Thaksin Shinawatra, por R$ 300 milhões, até a nova aquisição do time, pelo Abu Dhabi United Group, grupo da família real dos Emirados Árabes, controlado por Sulaiman al Fahim, que pagou mais de R$ 600 milhões para ser o novo dono do rival do United, em agosto de 2008.
Nesse furacão que passou pelo City, há uma única força imóvel e pouco ouvida no novo cenário: o torcedor. Mas, será que a paixão não foi afetada?
Na segunda-feira, continua a reportagem do NYT, um indignado torcedor do City, o escritor Colin Shindler, escreveu ao jornal britânico Daily Mail: “Nosso time vendeu-se para um homem da Tailândia que estava na lista dos mais procurados pela Anistia Internacional. O dinheiro de Shinawatra era sujo. Ao menos, é somente dinheiro que o grupo de Abu Dhabi tem. Eles levaram todo o meu amor, que Shinawatra transformou numa prostituta, vestiu-a na melhor roupa de seda e, agora, ela está perfumada com fragrâncias árabes. Ela pode parecer linda, mas está maculada até o último fio de cabelo”, disparou o indignado Shindler.
A ácida crítica de Shindler abriu a polêmica. Na internet, segundo a reportagem, choveram respostas ao escritor. “Torcedor ranzinza e velho”, disseram uns. “Fora dos tempos modernos atuais, a era do business“, bradaram outros. “É a hora do City de ser grande, após décadas de domínio do rival United”, afirmaram outros opositores da opinião de Shindler.
O hábil Rob Hughes ainda conversa com Thad Williamson, professor da Universidade de Richmond, Virgínia (Estados Unidos), um improvável admirador do Manchester City. Estudioso de ciências políticas, religião e teologia, Williamson trata da paixão por uma entidade esportiva em livro sobre o time universitário de basquete da Carolina do Norte, um caso à parte de cumplicidade e amor da torcida pelo time.
Na reportagem, o professor analisa as transformações do City, as consequências na mente da torcida e, principalmente, como isso afeta a paixão. Faz um pouco o contraponto da opinião de Shindler, mas vê dilemas “existenciais” entre clube e torcida.
Vale a pena ler a reportagem.
A conclusão que se chega é que dinheiro não compra tudo. Paixão é paixão. Tem uma história, tem uma intensidade e precisa ser respeitada.
Para ser grande, o Manchester City terá de se haver com seus fiéis torcedores.
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