A mudança de opinião da candidata Marina Silva no começo desta semana para uma posição contrária à revisão da lei de anistia a quem praticou crimes políticos na ditadura militar já rende dividendos a ela. O Clube Militar, composto por oficiais da reserva e tradicionalmente de perfil conservador, anunciou sua preferência por ela. Divulgado na quarta-feira no site da entidade, o manifesto “Pensamento do Clube Militar — Um fio de esperança” diz que a candidata do PSB é “esperança de algo novo e diferente, que rompa com a tradição negativa representada pelos atuais homens públicos”.
O autor do texto, o general da reserva Clóvis Purper Bandeira, explicou que Marina é a grande aposta dos militares para derrotar o PT. Para ele, embora tenha começado a carreira política e se elegido sempre pelo PT, Marina representa mudanças. O Clube Militar, assim, considera prioritárias a melhoria dos salários nos quartéis, a revisão do papel do ministro da Defesa, permitindo que o cargo seja ocupado por um oficial. Inclui, ainda, a preservação da Lei da Anistia, de modo a evitar que os agentes da repressão no regime militar sejam punidos, enquanto os ex-militantes das organizações da esquerda armada permaneçam impunes.
Bandeira lembra que, com 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais, em 2010, Marina é “séria pretendente ao cargo nas próximas eleições”. A candidata venceria por ter incorporado o “desejo vago de mudanças que levou o povo às ruas em junho do ano passado”. Por outro lado, o manifesto sustenta, em forma e crítica, que a “sua figura messiânica, suas declarações vagas, suas promessas iniciais muito generosas, mas fora do alcance do cofre nacional, acenam com uma “nova política” misteriosa, mistura de propostas esquerdistas e ambientalistas, entre as quais maior participação direta, governar com pessoas e não com partidos, participação direta popular no governo, por meio de plebiscitos e consultas populares (cheiro de bolivarianismo), criação de conselhos do povo (cheiro dos sovietes petistas), orçamento participativo etc”.
De acordo com o manifesto, cálculos preliminares “orçam suas promessas – entre as quais 10% do orçamento para a saúde, outros 10% para a educação, aumento da bolsa esmola, do efetivo da Polícia Federal – em quase 100 bilhões de reais por ano, cuja origem não é esclarecida”. Por fim, ressalta ainda como contraponto que “seu calcanhar de Aquiles é o fraco apoio político, pois na verdade não tem o apoio firme de nenhum partido. Seus apoiadores são aqueles interessados em pegar carona em sua súbita popularidade, sem nenhum compromisso com a realidade política durante seu possível governo”.
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