Após quase duas semanas de festival, com andanças, shows, oficinas e muita festa, terminou na noite de quinta-feira (8), em São Paulo, o 10º Mercado Cultural, com show da orquestra espanhola de percussão, Coetus, pela primeira vez na capital paulista. Em Salvador, quem fechou o evento foi o compositor e multi-instrumentista carioca Egberto Gismonti, que, por acaso, fez 63 anos na noite do espetáculo, no Teatro Castro Alves completamente lotado, no domingo (5). Na noite anterior, no sábado (4), quem roubou a cena foi a cantora paulista Tulipa Ruiz, ao se emocionar vendo o público cantando suas canções com as letras na ponta da língua.
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Mas, nem tudo acabou. Na pacata cidade de Ibirataia, situada no Médio Rio das Contas, ao Sul da Bahia, o Mercado Cultural prossegue na exposição Ibirataia, no Espelho da Mata, que fica aberta ao público até o fim de janeiro. Entre as instalações, três caleidoscópios gigantes com TVs projetando imagens da cidade, uma coleção de objetos antigos doados por moradores, como ferro de passar roupa em que se usava brasa, máquina fotográfica, pilão, aparelho de telefone e ainda uma amostra da variação de termos e vocábulos da região, retratada em espiral no painel Parede de Palavras. A partir de fevereiro, a exposição segue pelas cidades do Médio Rio das Contas.
Balanço
Fim da Linha. Sãos e salvos, terminamos a caravana do 10º Mercado Cultural. Mas e lá atrás, por onde passamos, o que ficou? Pergunto ao diretor do Mercado Cultural, Ruy Cesar. O saldo, segundo ele, é, mais uma vez, positivo, afinal, o objetivo da caminhada foi cumprido.
Valorizar a cultura local, destacar a diversidade brasileira, dialogar com a produção mundial e promover impactos nos territórios onde esses encontros ocorrerem. É essa a intenção da caravana e do Mercado Cultural como um todo, afirma Cesar.
“Queremos colocar a cultura como o ponto que fomenta o desenvolvimento de uma região, que se encontra desesperada, perdida, com a juventude sem esperança”, diz.
Com a semente da cultura, é possível que possa mesmo brotar alguma coisa nesses lugares. De fato, as cidades por onde a caravana do Mercado Cultural já passou estão cheias de planos. “Muitos estão achando que vão mudar o mundo”, comenta Cesar. Claro que, na prática, mudar a realidade de escassez não é tarefa simples.
No caso de Ibirataia, por exemplo, o orçamento, que já era pequeno, deve ficar ainda menor. O motivo são os números atualizados do recente levantamento do IBGE, que apontam acentuada queda populacional. Muita gente se mandou do município, que detinha a quinta maior produção de cacau do País, após grave crise na década de 1980, devido a uma praga chamada vassoura de bruxa.
“Desde então, a cidade vem buscando diversificar sua economia, investindo em pecuária, na produção de frutas e piscicultura”, informa o prefeito Jorge Abdon. “Exportamos peixes para o Brasil inteiro”, acrescenta. “Aqui é o berço do pirarucu”. E a economia, garante o prefeito, começa a dar sinais de revitalização.
Ibirataia não está só. Outras prefeituras sofrem com o mesmo problema. “Estamos em uma das regiões mais pobres da Bahia”, diz Ruy Cesar. Seguindo em frente, rumo ao sudoeste baiano, encontramos Boa Nova, a mais de 450 km de Salvador, ao lado de Dário Meira, por onde a caravana também passou. O município de Boa Nova é outro no topo da lista dos piores IDH. “Resolvemos começar por onde é mais difícil”, afirma Ruy César.
Apesar da gigantesca quantidade de analfabetos e a baixa qualidade de vida, Boa Nova chama a atenção por sua organização, limpeza e simpatia. “A convivência aqui é muito tranquila. É essa cachaça que estamos bebendo”, brinca Ruy César. Ele completa dizendo que é a dificuldade toda – com a qual tem cruzado pelo percurso da caravana – que o tem instigado e reanimado. “Estava cansado de encontrar sempre a mesma elite intelectual, por isso decidi levar esse pessoal pra roça, pro sertão, pro meio do nada, para ver se alguma coisa nova brota”.
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