Com Serra e Dilma, um 2010 civilizado

Eu sei que é cedo para tratar do assunto, posto que ainda faltam quase dois anos para a eleição que escolherá o próximo presidente da República.

Mas, com todo mundo já falando de 2010, como se 2009 fosse só uma rápida passagem, também me animei a escrever sobre o quadro sucessório.

O que me motivou a falar de política, tema que não está entre meus favoritos no Balaio, foi uma foto publicada nas capas dos jornais de hoje em que aparecem sorridentes o governador de São Paulo, José Serra, e a ministra Dilma Rousseff, ao lado do presidente Lula, que ameaça, brincando, jogar um sapato em jornalistas.

Tudo parece caminhar mais uma vez para uma disputa PT X PSDB, como vem acontecendo desde 1994. Desta vez, Serra é o candidato da oposição, hoje favorito nas pesquisas, e Dilma a candidata do governo, cada vez mais abertamente apoiada pelo presidente Lula.

Em 2002, quando Lula, pelo então oposicionista PT, foi eleito pela primeira vez, Serra era o candidato do governo FHC, assim como Geraldo Alckmin teve este papel em 2006.

Em 2010, após 16 anos destes dois partidos se alternando no poder, tudo indica que o próximo presidente também será tucano ou petista.

À medida em que o tempo passa e o quadro sucessório vai se afunilando, o tucano Aécio Neves, governador de Minas, e o deputado Ciro Gomes, do PSB, foram sumindo do noticiário, sem achar espaço entre Dilma e Serra.

A partir do momento em que Lula abriu seu jogo em Dilma, Ciro perdeu a esperança de ser uma das opções de candidato do governo. E Aécio agora joga todas as suas fichas numa improvável convenção do PSDB para disputar no mano a mano a indicação com o governador de São Paulo.

Resta a vereadora alagoana Heloisa Helena, do PSOL, outra vez no papel de franco atiradora. Ela vem se mantendo bem posicionada nas pesquisas, mas também sumiu da mídia e carece de estrutura e discurso para enfrentar uma campanha polarizada como a que se avizinha.

E é só. Dificilmente outro nome vai aparecer nestes 19 meses que faltam para a eleição presidencial.

Os sorrisos de Lula, Dilma e Serra na abertura de uma feira de artigos de couro em São Paulo, na segunda feira, podem ser um bom sinal de que teremos uma campanha civilizada em 2010, baseada em projetos para o país e não nos ataques pessoais para a desclassificação do adversário.

Com Serra ou Dilma, que têm uma trajetória política bastante semelhante, vindo da esquerda que comandou a resistência ao regime militar e agora caminhando para o centro, penso que o país estará bem servido no pós-Lula. Não há cacarecos nem salvadores da pátria no horizonte.

Arrisco-me até a dizer que, assim como FHC não ficou nem um pouco contrariado ao passar a faixa presidencial a Lula naquela grande festa popular de 1° de janeiro de 2003, também Lula não fará cara feia se o vencedor for José Serra, de quem é amigo e com quem tem muitas afinidades políticas.

Assim, poderemos ter uma disputa eleitoral em que estará em debate o futuro do país e não o passado nem a vida pessoal dos candidatos – adversários, mas não inimigos.

É um quatro alentador para um país que teve poucas sucessões tranquilas, de presidente eleito para presidente eleito, dentro das normas e seguindo a ordem natural de um regime democrático. Até aqui, estamos indo bem.

Em tempo:

Temas políticos, sabemos todos, costumam gerar acirrados debates entre petistas e tucanos. Por isso, faço um apelo aos leitores para que, assim como os prováveis candidatos, mantenham o nível mínimo de civilidade, sem partir para ofensas e agressões. Usem seus argumentos.


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