Começou, não para!

A imagem era aterradora! Sábado no final da tarde, depois do primeiro dia de trabalho, uma intensa jornada debaixo de uma fina e desagradável chuva, diga-se, a imagem de um caminhão carregado com 100 painéis (bases das casas de madeira) não era fácil de ser absorvida. [nggallery id=14600] Pedíamos aos voluntários que encerrassem os trabalhos e se dirigissem ao caminhão estacionado na estrada que beira a favela Jardim Gardênia Azul, em Suzano (SP). Precisávamos retirar todos os 100 painéis e levá-los até o terreno da associação de moradores. Uma distância pequena a pé, mas tarefa árdua com 150 kg nos braços!LEIA TAMBÉM:
Um Teto para meu País
Voluntários em obras…
O começo da mudançaEm fila e em contagem regressiva, nós voluntários retirávamos, um por um, os painéis com uma alegria que já virou marca das construções do Teto. E, ao final, a imagem que guardarei para sempre dessa construção, os 120 voluntários pulando em volta do caminhão, gritando incessantemente o inesquecível slogan do Teto Brasil: “Começou, não para!”.Foi com essa energia que trabalhamos esses três dias.Logo na chegada a Suzano, percebemos que aquela chuva que ecoava no telhado da escola onde ficamos hospedados iria nos acompanhar em todos os momentos da construção.Em seguida, apresentamos todo o staff do final de semana.Dinâmicas de apresentação dos voluntários, leituras de textos e discussões entre as equipes e rapidamente fomos para a cama. O dia seguinte seria longo!Cedo, às seis da manhã, os animados intendentes acordam os voluntários com música, café e chocolate quente. Capacitação técnica dos voluntários, leitura de mais um texto para reflexão, alongamento para aquecer o corpo e logo saímos para a favela, a poucos metros da escola.No meio do caminho, o grupo de voluntários se completa com outros 50 jovens que se hospedavam em uma outra ONG da região e que, gentilmente, cedeu seu espaço. Era tanta gente e tanta animação que a escola pública não comportava! E lá estava a fina garoa nos acompanhando…Mais uma vez, o contato com a favela. Forte, mas dessa vez mais acalorado.Cada equipe se dirige a seu respectivo terreno de trabalho e começam a interagir com as famílias. Começam a cavar os buracos onde serão fixados quinze pilotis. Espécie de toras de madeira que sustentarão a casa a 30 cm acima do chão. Tarefa nada fácil!Mede daqui, mede dali, arruma-se o esquadro, acertam-se prumo e nível e lá se vai um dia inteiro.Dependendo do terreno, algumas casas se adiantam ou se atrasam. Às vezes, o declive é tanto que mal se pode pregar a estrutura do piso, muito menos as tábuas!A chuva teimou em aparecer durante o dia e atrapalhou bastante o nosso trabalho!No meu caso, pela primeira vez não botava as mãos na massa! Ao invés de comprometer braços e mãos cavando e martelando, os quatro chefes de escola puseram-se a andar. Andar demais! O trabalho é manter o contato com todas as famílias e com cada equipe. E, de vez em quando, ajudar no que for necessário. Seja para procurar um piloti mais longo, seja para avisar que o caminhão da logística se atrasara por estar atolado!À noite, já de volta à escola depois da epopeia dos 100 painéis, jantamos na companhia de Dona Sônia, uma das moradoras a receber a casa. Sozinha e com bronquite crônica, a nova casa aponta para uma vida menos sofrida. A cada palavra, um agradecimento aos “filhos” que ela ganhara no final de semana. E a cada frase, uma lição de vida! Difícil não se emocionar diante de Sônia. E, como pensamento recorrente depois de cada construção, às vezes creio que ganho mais do que ofereço como voluntário!As lições são, de fato, valiosas.No dia seguinte, menos chuva e mais trabalho. E cada equipe teve de carregar dez painéis para seus terrenos. Estavam todos na futura associação de moradores. As mais adiantadas ajudaram as mais atrasadas.O bater dos martelos ecoava pela favela. Um dia inteiro correndo contra o tempo. Erguendo, encaixando e pregando painéis.Às 18h30, prazo final dos trabalhos, apenas uma casa estava inaugurada. Estendemos para as 20h30 e mais duas terminadas. Restavam sete casas e uma frustração por não havermos cumprido nossa meta inicial!Aos chefes de escola, a difícil tarefa de conversar com voluntários e famílias. Foi unânime a opinião de que não havia faltado empenho. Faltaram tempo e bom tempo!A noite chegou e ficou a promessa de terminarmos todas as casas no dia seguinte, segunda-feira (27 de julho).Embora a maioria dos voluntários tenha voltado para casa, foi emocionante vê-los, mais uma vez, pulando e gritando no pátio da escola antes de embarcarem no ônibus para São Paulo. Os trinta e poucos voluntários que lá ficaram receberam uma carga extra de energia positiva!O terceiro dia de trabalho raiou e lá fomos nós, calmamente, terminarmos mais uma construção bem feita. Dona Sônia ficou radiante em nos ver martelando mais um dia!Aos poucos, o trabalho foi terminando.No final, uma divertida comemoração na lama! A mesma que nos acompanhara sob nossos pés por três dias!E, de volta a São Paulo, foi duro colocar os pensamentos no lugar!O fim de semana do Teto foi emocionante! Dez famílias receberam um lar mais digno e a chance de criarem seus filhos com mais paz.*Felipe é estudante de Relações Internacionais e Psicologia da PUC-SP, voluntário do Teto desde 2007 e já trabalhou na construção de seis casas.Mais imagens da construção, em fotos de Paula Marina, clique aqui.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.