Qualquer semelhança com o cenário atual não é uma simples coincidência. Duas siglas encobriram forças políticas conservadoras e de extrema-direita que conspiraram para influenciar os rumos do Brasil e prepararam o terreno para o golpe civil-militar de 1964. Eram o Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais). Em um mundo polarizado entre os Estados Unidos e a hoje extinta União Soviética, Ibad e Ipês formaram uma rede com estrutura clandestina que acenava com a “ameaça comunista” para fazer valer os próprios interesses. Não por acaso o arquivo do Ipês, instalado no edifício Avenida Central, na época o mais moderno do Rio de Janeiro, foi o ponto de partida para o SNI, o Serviço Nacional de Informações, criado em junho de 1964. À frente do Ipês e do SNI esteve o mesmo homem: o general Golbery do Couto e Silva.
Hoje, o mais importante think tank brasileiro de direita é o Imil (Instituto Millenium), um “centro de pensamento virtual”, com sede no Rio e 225 articulistas, entre eles um dos fundadores, Hélio Beltrão, filho do ex-ministro Hélio Beltrão, proeminente apoiador do Ipês. Três vezes ministro da ditadura, Beltrão pai presidiu o grupo Ultra e a Petrobras. Beltrão Filho integra o conselho de administração do grupo Ultra, da Le Lis Blanc e da Artesia Investimentos. Além do Imil, ele é fundador do Instituto Ludwig von Mises Brasil, cujo lema é Liberdade, Propriedade e Paz, inspirado nas ideias do economista austríaco Ludwig von Mises. É esse economista quem inspira cartazes nas manifestações de direita com os dizeres “Menos Marx, mais Mises”.
Na trama que culminou com o golpe contra Goulart, o Ibad foi o primeiro instituto a ser criado, em maio de 1959, vinculado de forma direta à agência americana de inteligência, a CIA. O interesse dos Estados Unidos era consolidar e ampliar suas áreas de influência no mundo, em especial depois que guerrilheiros liderados por Fidel Castro tomaram o poder em Cuba, a cerca de 170 quilômetros de Key West, na Flórida. No Brasil, o foco inicial era o estilo populista de Juscelino Kubitschek, que levantava multidões, além de uma capital modernista. Insatisfeitos com a disparada da inflação durante o governo JK e com “a ameaça comunista” no horizonte, a elite empresarial se agrupou em torno do Ibad, comandado pelo publicitário Ivan Hasslocher.
O general Golbery do Couto e Silva comandou o Ipês, instituto que acenava com a “ameaça comunista”
Hasslocher não era uma figura conhecida no Brasil, embora seu avô tivesse sido deputado federal e o pai, deputado estadual vinculado ao integralismo, além de embaixador. Depois de passar quase toda a vida entre os Estados Unidos e a Europa, Hasslocher voltara ao Brasil em 1951 e abrira a Promotion, uma pequena agência de publicidade no Rio de Janeiro. Onze anos depois, ele respondia por 80 programas semanais de rádio em todo o País e publicava a revista mensal Ação Democrática. Impressa na mesma gráfica que as Listas Telefônicas da Light, empresa que ajudava a financiar o Ibad, a revista tinha preço de capa, não exibia anúncios e seus mais de 200 mil exemplares eram distribuídos de graça.
Hoje a maior parte das publicações é digital. Com o time de articulistas cevando o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff desde que ela foi reeleita, o Imil tem como personagem mais conhecido o economista Armírio Fraga, que seria ministro da Fazenda caso Aécio Neves tivesse ganhado as eleições em 2014. O instituto foi lançado há dez anos no Fórum da Liberdade, evento anual promovido há quase três décadas, em Porto Alegre, pelo empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, um dos mantenedores do Imil. Os outros são a Pottencial Seguradora e o grupo Suzano. A editora Abril, o grupo Évora e o Bank of America Merill Lynch também estão na parceria. Na condição de apoio, alinham-se o Estadão e os grupos M&M e RBS.
Como é usual em organizações do gênero, doações são o grosso da receita. Na contabilidade do Imil, elas representam quase a totalidade do orçamento anual, que saltou de R$ 620 mil em 2009 para R$ 1,29 milhão em 2015. A Gerdau, mantenedora do Imil, divide com a Ipiranga, do Grupo Ultra, o patrocínio do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), cuja meta é preparar novos líderes, afinados com os conceitos de economia de mercado e livre iniciativa. Desde 1988, o IEE é o instituto responsável pela organização do Fórum da Liberdade. Nesse mesmo campo ideológico, o emaranhado de siglas envolve ainda o Estudantes pela Liberdade (ELP), espécie de filial brasileira da americana Students for Liberty, que tem como financiadora a Atlas Network.
Com sede em Washington, nos Estados Unidos, a Atlas Network conecta 453 “organizações de livre mercado” de 94 países “com as ideias e recursos necessários para fazer avançar a causa da liberdade”. Dez organizações brasileiras se beneficiam “das ideias e recursos” da Atlas Network, entre elas o Imil, o IEE, o Mises Brasil e o Estudantes pela Liberdade. O que integra todos eles – e também o Tea Party americano – são os ideais libertários (do inglês libertarians). Trata-se da filosofia política que defende o máximo em termos de liberdade individual e o mínimo em termos de deveres do Estado. Libertários tendem a maximizar a autonomia, a liberdade de escolha e o julgamento individual. Na prática, defendem o Estado mínimo e a liberdade absoluta para o mercado. O economista Ludwig von Mises era, é claro, um libertário.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com políticas públicas que permitiram a ascensão social de pobres e miseráveis, é tudo o que os libertários combatem. Já que não foi possível impedir a reeleição de sua sucessora, a saída foi maximizar os erros dela e inviabilizar o governo. No horizonte, a perspectiva é, com a ajuda do Judiciário, tornar Lula inelegível em 2018. E também com a ajuda da grande mídia, repetindo o que aconteceu em 1964. Os caminhos para derrubar governos e potenciais candidatos variam, mas a conquista da opinião pública é quase sempre fator imprescindível. Atualmente, nada como a internet para multiplicar valores. Daí, além de treinamentos presenciais, em Washington, a Atlas Network fornece assistência individualizada, online, a quem estiver interessado em atuar a favor do livre mercado. “Você está no negócio de mudar o mundo e nós estamos aqui para ajudar”, anuncia a instituição especializada em criar institutos libertários. “Ao conectá-lo com mentores, melhores práticas, estratégias e ferramentas, a nossa experiente equipe está pronta para ajudá-lo a alcançar seus objetivos – sejam eles começar um novo projeto, preparar uma transição de liderança ou tornar realidade o seu think tank.”
No passado, o Ipês, um dos institutos que abriram espaço para o golpe de 1964, atuava sob a fachada de grupo voltado a estudos sobre a realidade brasileira. Promovia cursos e seminários e ficou popular pelos documentários que produzia. Projetados nos cinemas, os filmes também eram exibidos em empresas, sindicatos, grêmios estudantis e praças do interior. Um deles, O Brasil Precisa de Você, depois de mostrar cenas do Holocausto, coloca no mesmo patamar Benito Mussolini, Adolf Hitler e Fidel Castro. No final, conclama: “Para atender a suas finalidades, o Ipês precisa de você e sua colaboração. Muitos estão de braços cruzados, esquecidos que a democracia não pode ser defendida por comodistas”.
A Atlas Network, com sede em Washington, conecta hoje pelo menos dez organizações de direita do Brasil com “ideias e recursos”
Fundado em agosto de 1961, dois anos e três meses depois do Ibad, o Ipês patrocinava ações de intervenção política, operava para manipular a opinião pública e buscava influenciar diferentes setores da sociedade, a começar pelas Forças Armadas, Igreja e imprensa. O instituto também atuava na organização de mulheres, em grupos como a Campanha da Mulher Democrata, no Rio de Janeiro; a União Cívica Radical, em São Paulo; e a Liga da Mulher Democrata, em Belo Horizonte. Esses grupos organizavam marchas anticomunistas, sendo que a maior delas, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reuniu cerca de 500 mil pessoas em São Paulo, em 19 de março de 1964, dia de São José, padroeiro da família.
“Fidel Castro é o padroeiro de Jango. É o padroeiro dos comunistas”, bradava padre Calazans, senador da República, referindo-se ao presidente João Goulart, quando a marcha chegou à praça da Sé. À frente, estava Leonor de Barros, enquanto o marido, o governador Adhemar de Barros, acompanhava a manifestação do alto, a bordo de um helicóptero. O Ipês, patrocinador da marcha, da mesma forma que o Ibad, financiou dezenas de publicações. A atuação dos dois institutos era tão sincronizada que o cientista político uruguaio René Dreifuss cunhou o termo Complexo Ibad/Ipês em doutorado defendido na Universidade de Glasgow, na Escócia.
Não há dúvida de que hoje em dia a atuação da rede de institutos que influenciam os rumos da política brasileira também é sincronizada. Basta tomar como referência um dos mais conhecidos líderes dos protestos de direita que sacodem o País, Kim Patroca Kataguiri, que este ano virou colunista do jornal Folha de S.Paulo. Filho de um metalúrgico e de uma dona de casa, Kataguiri largou o primeiro ano do curso de Economia da Universidade Federal do ABC, em Santo André, para se dedicar integralmente ao Movimento Brasil Livre (MBL). Uma das estrelas do 29º Fórum da Liberdade, celebrado em abril em Porto Alegre, Kataguiri já deu palestra até em Washington, a convite do Cato Institute, que atua em parceria com a Atlas Network, aquela organização especializada em criar think tanks libertárias. Ao contrário de Hélio Beltrão, do Imil, que se declara um liberal, Kataguiri não se irrita quando é associado com a direita ou com a extrema-direita.
Obviamente, Kataguiri é fã do juiz Sergio Moro, da Lava Jato. A lojinha virtual do MBL começou até a vender canecas estampadas com o rosto de Moro. Cada uma custa R$ 50. A camiseta com a inscrição “Eu derrubei o PT” sai mais barato, por R$ 40. Na prática, o MBL de Kataguiri é um movimento derivado do Estudantes pela Liberdade (ELP), a filial brasileira da americana Students for Liberty, financiada pela Atlas Network. Como a legislação tributária americana não permite que a Students for Liberty se envolva em atividades político-partidárias, sua representante brasileira optou por criar o MBL e fazer política por meio do movimento. No final das contas, todos esses institutos e movimentos acabam recebendo recursos das mesmas fontes: fundações como o Cato Institute e o Charles Koch Foundation, vinculadas à família Koch, uma das mais ricas do mundo, com vastos interesses no setor petrolífero.
No que diz respeito ao Brasil, a origem dessas organizações converge para o Instituto Liberal, criado no Rio, em 1983, pelo engenheiro civil Donald Steward Jr., que realizou muitas obras para os governos militares. Hoje o instituto é presidido pelo economista Rodrigo Constantino, que atravessa um período de baixa, mas já funcionou como ponta de lança dos valores libertários na mídia nacional. No passado, a imprensa foi crucial para a derrubada do governo João Goulart. Levantamentos feitos pelo Ibope às vésperas do golpe de 1964 contrariam a imagem de presidente fraco e isolado, divulgada pela imprensa do período. Na última pesquisa feita antes do golpe, posteriormente engavetada pelo Ibope, o governo Goulart aparecia com 72% de aprovação. Entre as camadas mais pobres da população, o índice subia para 86%. Esses dados só vieram à tona recentemente, em trabalho do historiador Luiz Antonio Dias, da PUC-SP, divulgado pela Brasileiros.
Notícias favoráveis ao governo Goulart não saíam nos grandes jornais na época em que a rede montada pelo Ibad e Ipês atuava no Brasil. Outro aspecto fundamental do processo que culminou no golpe de 1964 foi o fato de a maior parte da população não ter percebido o que estava por trás das frenéticas atividades anticomunistas e das loas aos “democratas”. Para usar uma expressão associada ao Vietnã, a batalha por corações e mentes, empreendida pelos Estados Unidos e seus aliados, surtia efeito. Em 1962, o Ibad interferiu tanto nas eleições que virou objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. Instaurada em maio de 1963, a primeira mesa da comissão acabou afastada por causa do envolvimento dos parlamentares com o próprio Ibad.
Na sequência, com Ulysses Guimarães na presidência, Rubens Paiva na vice e Pedro Aleixo na relatoria, a CPI avançou. O publicitário Ivan Hasslocher, que se recusava a prestar depoimento, finalmente atendeu à convocação dos parlamentares. O então deputado Eloy Dutra, combativo integrante da CPI, contou no livro IBAD, Sigla da Corrupção que, para dar uma mostra de boa vontade, Hasslocher “admitiu o que todo mundo já sabia, isto é, que o Ibad apoiou em 1962 nada menos de 250 candidatos a deputado federal, oito a governador e 600 a deputado estadual”.
Naquele tempo, a Câmara dos Deputados era formada por 409 parlamentares. Nos bastidores da política, comentava-se que 150 deles eram controlados pelo Ibad. Para atuar de forma exclusiva nas eleições de 1962, o instituto criou outra organização, a Ação Democrática Popular (Adep). Na CPI, assim que Hasslocher assumiu ter financiado centenas de candidaturas, o interesse voltou-se para a origem dos recursos. O publicitário negou que houvesse “dinheiro estrangeiro” nas operações que espalharam milhares de panfletos e cartazes pelo Brasil afora: “Os financiadores do Ibad são 126 cidadãos, em sua maioria paulistas”. Inquerido pelo deputado Bocayuva Cunha, Hasslocher se recusou a dizer quem eram os 126 cidadãos.
– Não posso revelá-los. Os que contribuíam tinham seus nomes anotados num caderninho, onde, na qualidade de presidente da entidade, eu fazia a contabilidade, limitou-se a dizer o publicitário na CPI.
O caderninho de Hasslocher jamais apareceu, mas documentação levantada pela CPI indica que praticamente toda a elite empresarial brasileira, assim como grupos estrangeiros com atividade no País, ajudou a financiar a rede que preparou o terreno para o golpe de 1964. O total do “investimento” americano continua nebuloso, mas um personagem central das articulações clandestinas, Lincoln Gordon, então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, falou ao repórter Geneton Moraes Neto, da Rede Globo, sobre os gastos da CIA nas eleições de 1962. “A minha estimativa é de que foram US$ 5 milhões”, disse Gordon 40 anos depois, no Hotel Glória, Rio de Janeiro, durante a sua última viagem ao Brasil.
A grande mídia manipulou informações em 1964, em processo muito parecido ao que está acontecendo agora
Gordon comentou que nos anos 1960 os Estados Unidos estavam muito influenciados pela situação política da Itália depois da Segunda Guerra Mundial: “Historiadores acham que o apoio aos anticomunistas italianos, inclusive com dinheiro e propaganda, foi o que tornou impossível a vitória eleitoral dos comunistas”. Na entrevista, o antigo embaixador se recusou a citar nomes dos políticos brasileiros beneficiados com a intervenção americana: “Houve um grupo de candidatos, geralmente à direita do centro, simpatizantes dos Estados Unidos. Nunca vi a lista”.
Como seria de se esperar, Gordon argumentou que não esteve envolvido no processo: “Era uma ação da CIA. Um dos objetivos seria suprir literatura sobre a economia liberal, para contestar a enorme quantidade de literatura de esquerda. O governo cubano e, possivelmente, o governo russo estavam fornecendo dinheiro para publicação de material no Brasil”. Na verdade, o que se encontrava País afora era muita propaganda gerada pela rede montada pelo Ibad e Ipês. Em todo o mundo, o período era de polarização. Só para lembrar, as eleições de 1962 ocorreram às vésperas da chamada crise dos mísseis, o confronto entre Estados Unidos e União Soviética devido à implantação de armamentos nucleares em Cuba.
Nesse cenário, um lado e outro do conflito investiam nas regiões que desejavam consolidar como área de influência. Um reflexo dos recursos movimentados pelo Ibad no Brasil pode ser depreendido de correspondência enviada por Hasslocher, presidente do instituto, ao tesoureiro, Arthur Oscar Junqueira, que tinha sido presidente da Caixa Econômica Federal da Guanabara durante o governo Jânio Quadros (de janeiro a agosto de 1961). Na carta, de 26 de setembro de 1962, Hasslocher determina que todas as unidades da Adep, o braço do Ibad para as eleições daquele ano, sejam proibidas de negociar qualquer material “desde grampeadores até veículos e o avião”, mesmo aqueles que “possivelmente se tornarão sobressalentes ou desnecessários depois de 7 de outubro”.
A ideia era que, passadas as eleições de 7 de outubro, o próprio Hasslocher cuidasse do patrimônio adquirido para influenciar o resultado das urnas. O tema das finanças foi tão recorrente na CPI do Ibad que parlamentares alinhados com o instituto defendiam-se atacando colegas da outra ponta do espectro ideológico. Foi o caso do deputado Amaral Neto, que mais tarde ficaria famoso por produzir reportagens favoráveis à ditadura, o que lhe rendeu o apodo de Amoral Nato. Na Câmara, em fala que ficou conhecida como o discurso da mala, Amaral Neto disse que só daria satisfações sobre o Ibad depois que outro deputado, “líder de um partido dentro do qual estão maleteiros”, se explicasse a respeito do dinheiro que carregavam: “E a mala? E a mala? Eu quero saber da mala. Eu quero saber da mala, para depois explicar outras malas, se quiserem”.
Na prática, a mala que aprofundou as investigações e fez a diferença na CPI do Ibad foi a levada pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, como mostra matéria de Denise Assis, a partir da página 32. Vitorioso nas eleições de 1962, embora tivesse sofrido todo tipo de sabotagem por parte do Ibad, Arraes levou para a CPI uma mala com 500 documentos. Suas denúncias foram essenciais para os trabalhos da comissão, que culminaram no fechamento do Ibad, em dezembro de 1963, quando as condições para o golpe estavam postas. Seu presidente, Hasslocher, voltou a viver entre a Europa e os Estados Unidos. Morreu em maio de 2000, na cidade americana de Houston.
Vinte anos antes, o cientista político uruguaio René Dreifuss, aquele que cunhou o termo Complexo Ibad/Ipês, revelou em trabalho de doutorado como a elite empresarial brasileira contribuiu para preparar o terreno para o golpe de 1964. Na tese, Dreifuss mostrou como banqueiros e industriais ativistas do Ipês “eram também contribuintes, representando uma substancial fonte de apoio econômico”. Na relação de banqueiros, ele cita, entre outros, Angelo Calmon de Sá (Banco Econômico), Egydio Setubal (Banco Itaú-América), Israel Klabin (Finasa) e Walter Moreira Salles (Banco Moreira Salles). No rol dos industriais, Dreifuss relaciona, entre outros, José Ermírio de Moraes Filho (Votorantim), José Luiz Moreira de Souza (Ducal), Antônio Galotti (Light) e Henning Boilesen (Ultragaz). Com esse passado, não é de se estranhar que a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), financiada em parte por recursos públicos, tenha se tornado referência da direita na campanha para derrubar o governo Dilma Rousseff.
Dreifuss sustentou sua tese com vasta documentação do próprio Ipês, que atuava como uma espécie de unidade tática do Ibad e perdeu importância à medida que o golpe se consolidou. Fechou as portas em 1972. Seu legado incluiu três mil dossiês de líderes políticos, sindicais e empresariais, que, logo depois do golpe, Golbery levou embora, para criar o Serviço Nacional de Informações, o SNI. No momento, ainda não se sabe qual será o legado dos think tanks que atuam no Brasil em pleno século XXI. Por enquanto, está claro que ajudaram a acuar as forças mais à esquerda do espectro ideológico, que não souberam nem reagir nem corrigir os próprios erros. Ao mesmo tempo, trouxeram o retrocesso nas políticas sociais e fizeram emergir uma direita antes adormecida pelos crimes da ditadura.
Entre as organizações financiadoras dos institutos envolvidos com o golpe do passado estava a Fiesp, que hoje atua sem intermediários
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