Como não fazer jornalismo

Hoje estamos assim: Num misto de emoções. Como bem definiu a página "Site dos Menes".
Hoje estamos assim: Num misto de sensações. Saudades do velho jornalismo. Mágoa do jornalismo que dá voz a gente cruel e reacionária. Ciuminho dos direitos humanos para adolescentes ricos. Deja vu golpismo pré-eleições.

No final do mês de janeiro, falamos do antijornalismo que o programa Manhattan Connection, da Globo News, fez ao entrevistar a presidente do Magazine Luiza (leia), onde mostraram um show de ignorância e manipulação com os números do Brasil.

Na terça-feira (4), o metrô de São Paulo apresentou falhas na linha 3 vermelha (Palmeiras-Barra Funda/ Corinthians-Itaquera) às 19 horas. O metrô afirmou que houve vandalismo e não falhas. Alckmin afirmou que “não foi espontâneo”. Esta foi a abordagem do fato ao ser noticiado pelos grandes veículos, nesta quarta (5). Os dispositivos de segurança foram acionados por passageiros que estavam em sete vagões diferentes – o que acabou paralisando a linha por cerca de 5 horas. Os usuários do transporte público tiveram que andar nas vias para fugir do sufoco. 

Reprodução.
Reprodução.

Em meio ao tumulto provocado pela falha, centenas de passageiros permaneceram por este tempo dentro dos trens, resistindo à tentativa dos seguranças de esvaziar as estações República e Sé. Entre eles, idosos, grávidas, pessoas com dificuldade de locomoção e com crianças de colo. “Falaram [os seguranças da estação] para a gente que iam chamar a PM para jogar bomba de gás”, narrou uma mulher grávida em matéria publicada na Folha de S. Paulo

Essa abordagem, esta maneira de noticiar lembra 2010, durante a campanha presidencial, os comentários de Soninha Francine sobre uma falha no mesmo metrô. O que remete aos desvios e esquemas de corrupção denunciados ano passado pela revista IstoÉ

Diariamente, recebemos uma enxurrada de informações que mediamos com os filtros e nossa percepção dos meios de comunicação que veiculam. Você sabe, isso não é novidade. Existem distorções, muitas. Existem interesses, muitos. Como no tom de denúncia desproporcional e irresponsável do ministro do STF Gilmar Mendes, divulgado pela internet e depois pelos meios de comunicação, em que ele diz “suspeitar” das doações aos petistas processados na ação penal 470. Mendes insinuou, em declarações à imprensa, que as doações poderiam, inclusive, ser fruto de lavagem de dinheiro (amanhã, dia 6, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, vai interpelar em juízo para que o ministro esclareça e prove o que disse). 

Tudo é absurdo. Tudo é informação. Tudo é condução, significado e posicionamento que as vezes toma proporções absurdas. Mas nada é tão absurdo como um vídeo que hoje se espalhou nas timelines das redes sociais. Na noite de ontem, terça-feira (4), o jornal noturno do SBT veiculou o comentário de Rachel Sheherazade – voz atroz do senso comum. Ela defendeu o grupo de “justiceiros” que acorrentou e torturou um garoto de 15 anos em um poste no Rio de Janeiro. 

A “jornalista” parece acreditar que a violência e preconceito definem e resolvem as equações mais complexas. Vídeos dela circulam na internet, como o que ela destila o senso comum sobre o carnaval. Em um outro ela questiona uma acadêmica de ciências sociais e sua dissertação sobre a cantora de funk Valeska Popozuda. Os mais céticos se questionam: Há esperanças em um mundo onde Rachel Sheherazade é formadora de opinião? Abaixo, o comparativo entre o vídeo polêmico sobre o garoto de 15 anos que teve parte da orelha arrancada por ser suspeito de um roubo e do astro teen Justin Bieber que vive se metendo em confusão. Dois pesos duas medidas. Adolescência é para as celebridades e quem tem posses. Direitos humanos virou adjetivo pejorativo.

Enquanto isso, o SBT deixa “claro”, nesta quarta (5), que o polêmico comentário da “jornalista” no jornal SBT Brasil não reflete a posição da emissora de Silvio Santos. Isso foi o que eles disseram para a reportagem do Virgula Diversão

Bônus: Todo mundo tem vergonha de Rachel Sheherazade.


Comentários

2 respostas para “Como não fazer jornalismo”

  1. “Há esperanças em um mundo onde Rachel Sheherazade é formadora de opinião?” em um país que possui a globo como formadora de opinião ou melhor manipuladora de massas, vc acha que alguém que apenas fala oq a população sente na pele, não acho que ele esteja esticando coisa alguma, já que ela apenas é um “espelho” dos pensamentos das massas, que não acreditam na justiça e pelo que vemos todos os dias não devem realmente acreditar, já que um moleque que mata um pai de família, um amigo de escola, trafica, tortura e que após 3 meses tá nas ruas novamente matando, roubando e traficando, vc espera que a população continue paciente com isso? esse assunto não pode ser olhado apenas por um ponto de vista, deve ser visto todo um “panorama” do assunto, a muito tempo o jornalismo deixou de ser algo imparcial, hj qualquer jornalista defende seu ponto de vista, ou melhor tele jornal, mais se nossa população acabou se tornando uma grande massa de manobra, sem o mínimo de instrução para forma sua opinião, me desculpe mais a culpa não é da Rachel Sheherazade.

  2. Avatar de Renato Rios de Fane
    Renato Rios de Fane

    Observem a “jornalista” Rachel Sheherazade, em comentários preenchidos com o pensamento comum, apenas o reflexo de uma população intimamente marginalizada e que marginaliza. No caso do garoto de 15 anos, defende a violência ao citar os crimes que o tal menino teria cometido. Só não fala da necessidade de julgamento em um estado de direito. Democrático.
    Sou leigo em marketing, mas parece que finalmente a emissora do ex-dono do Baú, conseguiu encontrar a fórmula para ter um “telejornal” competitivo, pelo menos na polêmica. Rachel deve ser até mais comentada e vista no youtube do que em seu jornal, de qualquer maneira trouxe badalação ao SBT. Portanto, total falácia não ser a opinião da emissora.
    Um exemplo interessante são as emissoras especializadas do agronegócio brasileiro. Na maioria dos programas não há “TP”, os programas são opinativos, mas os jornalistas são especialistas em pecuária ou agricultura, economia e até com mestrado no setor. Trata-se de um público exigente e que conhece muito do tema, os jornalistas precisam estar no mesmo patamar.
    Em resumo, o tom opinativo, no meu entendimento, começou a espalhar pela tv aberta do País. Entretanto, há uma questão fundamental: os jornalistas “opinativos” da tv aberta, são como seus colegas do setor agro do País. Expert nos assuntos de seu público. O problema é que Rachel Sheherazade é apenas um leve reflexo do pensamento da maior parte da população brasileira. E a parte citada do País quer ver seu pensamento também expresso na telinha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.