O ano é de recessão no Brasil, tempo em que exemplo de sucesso é empresa que dribla a crise e cresce apesar dos pesares. Mas, em geral, os lucros de todos os setores da economia evaporam, com exceção de um deles: o financeiro. Do alto de quem cria e manda implantar o ajuste fiscal no Brasil, os bancos com atuação no País fecham o primeiro semestre batendo recorde de lucros.
A produção industrial brasileira despencou 6,9% nos oito primeiros meses do ano e os serviços recuaram 2,6% até julho, diz o IBGE. Mas os bancos não têm do que reclamar. Pesquisa da consultoria Economatica informa que a lucratividade do Itaú no primeiro semestre foi de R$ 11,7 bilhões, 25% superior à de igual período de 2014 (R$ 9,3 bi). Embora tenha tido o maior lucro nominal, ninguém viu seus ganhos dispararem tanto quanto o Santader: lucrou R$ 1,046 bilhão nos seis primeiros meses do ano passado, contra R$ 4,5 bilhões este ano: 336% de aumento. O Banco do Brasil registrou lucros 60% superiores (R$ 8,8 bi contra R$ 5,5 bi) e o Bradesco lucrou 20,7% mais (R$ 8,7 bi contra R$ 7,2 bilhões).
Mas, afinal, por que os bancos ganham tanto dinheiro em plena recessão? O professor de Economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Claudemir Galvani lista alguns motivos. “O principal é que o banco vende a mercadoria mais valorizada no sistema capitalista, o dinheiro. E,nos países em desenvolvimento, esse é um produto escasso, caro.” Diferentemente do comércio, que compra mercadoria para vender, o banco ganha investindo os depósitos bancários, sem custo. “Ele se remunera de um artigo que não é dele.” Mas não é só. O setor financeiro também é dono de boa parte a indústria e comércio. “Essas redes de farmácias pertencem a fundos de investimento.”
No Brasil, especialmente, os juros nas alturas são um porto seguro para essas instituições. Por que emprestar dinheiro a desempregados se é mais seguro comprar títulos públicos, cujos rendimentos crescem à medida que os juros se elevam? Ironicamente, esse é o jeito encontrado pelo governo para atrair dinheiro do mercado financeiro. “Difícil encontrar o culpado.”
Mais do que juros, os bancos ganham mesmo é com inflação alta, acredita o professor de Economia João Frois Caldeira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Todos os dias, as pessoas deixam nos bancos dinheiro parado na conta-corrente. A instituição aproveita e investe. É como emprestar ao banco a juro zero.”
O País fica sem muita alternativa quando quem escolhe sua política econômica é o mercado financeiro. Mas o professor da UFRGS defende o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ex-diretor-superintendente do Bradesco. “Se não for feito nenhum ajuste, a inflação e os juros ficarão ainda maiores. O motor do investimento não é o governo, mas o empresariado, que precisa e confiança para voltar a investir.”
Presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino diz que “só a Febrabam apoia o ajuste” como está. “Por que não se pode mexer nas reservas internacionais, a terceira maior do mundo? Esse ajuste vai nos transformar na Grécia. A quem serve isso?” O engenheiro lembra que o corte no investimento público, como recomenda o mercado, paralisa obras e causa demissões, desaquecendo a economia. Ele estima em sete meses o atraso nos repasses do governo apenas a obras do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
A Petrobras anunciou corte de R$ 42 bilhões em investimentos entre este e o próximo ano. A estatal mandou parar a construção de uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS) juros da dívida, um dinheiro caro ao mercado financeiro. “Então recomenda-se aumento de impostos e corte nos gastos para garantir esse capital.” Se faltou verba, o governo pega emprestado, aumentando ainda mais a dívida e os juros sobre ela: mais empréstimos. Como no Brasil não há taxação sobre renda e patrimônio, como em países desenvolvidos, quem banca é a população, diz Galvani. “Quando o governo quer aumentar a receita, ele sobe os impostos indiretos, que atingem o assalariado. Se a opção é cortar gastos, sobra para os programas sociais” porque as despesas fixas são protegidas pela Constituição. No momento, o drama da presidenta Dilma Rousseff é se acata a recomendação do relator do Orçamento no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família para compensar o rombo de R$ 117 bilhões.
Estudo do Ministério da Fazenda estima em 1,7% o encolhimento do PIB brasileiro só com a redução nos investimentos da estatal, mais da metade da recessão prevista para 2015.
Galvani, da PUC, explica por que o ajuste só é bom para o mercado financeiro. Ele diz que o pacote se concentra no controle de receitas e despesas do governo porque o que sobra – o superávit primário – serve para pagar os juros da dívida, um dinheiro caro ao mercado financeiro. “Então recomenda-se aumento de impostos e corte nos gastos para garantir esse capital.” Se faltou verba, o governo pega emprestado, aumentando ainda mais a dívida e os juros sobre ela: mais empréstimos. Como no Brasil não há taxação sobre renda e patrimônio, como em países desenvolvidos, quem banca é a população, diz Galvani. “Quando o governo quer aumentar a receita, ele sobre os impostos indiretos, que atingem o assalariado. Se a opção é cortar gastos, sobra para os programas sociais” porque as despesas fixas são protegidas pela Constituição. No momento, o drama da presidenta Dilma Rousseff é se acata a recomendação do relator do Orçamento no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família para compensar o rombo de R$ 117 bilhões.
Frois acredita que os bancos também sentirão os efeitos da crise. “Eles sofrem a retração com certa defasagem. Esses lucros devem cair no próximo trimestre, principalmente em razão do aumento da inadimplência.” Para reduzir esses efeitos, as instituições financeiras já tomam suas providências. Itaú e Bradesco demitiram 6,6 mil funcionários no segundo trimestre, enquanto os oito maiores bancos do
País reajustam as taxas de sua cesta de serviços. Segundo a Proteste (associação de defesa do consumidor), o aumento médio foi de 169% de janeiro de 2013 a agosto deste ano, 8,6 vezes acima da inflação do período, de 19,63%.
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