Meus caros, Como Esquecer, com a belíssima Ana Paula Arósio no papel principal, não é um filme gay, mas sim um filme com gays, destinado a todos os públicos. Também não é um filme leve, muitíssimo pelo contrário, é pesado até dizer chega. Apoiado em um roteiro muito bem construído, na interpretação brilhante de uma das atrizes mais lindas do Brasil, e também em um excelente Murilo Rosa, o filme foi uma surpresa completa. Arósio é linda, mas não é em torno de sua beleza que constroi a personagem, e sim em seu talento. Ela dá vida a Júlia, uma professora de literatura inglesa, homossexual, que perde uma grande paixão e, completamente desestruturada, tenta se reerguer. Sofre, e não faz concessão, nenhuma risada, quase nenhum sorriso. Ela mostra a dor, vive a dor, e passa a dor para os espectadores sem nenhuma misericórdia. Pesa uma tonelada, é irritante, e você que aguente, pois não foi criada para agradar. Outras personagens também são lésbicas, mas o filme não tem como foco a homossexualidade. Os héteros que se conformem, os gays que aproveitem a parte que lhes cabe naquele latifúndio. Murilo Rosa arrasa, vive um gay charmoso, sem grandes afetações, o amigo delicioso que todos nós gostaríamos de ter, e faz um belo contraponto com a plúmbea Arósio. Aos dois personagens são apresentadas novas relações, a dele na pele do sempre lindo Pierre Baitelli, que nos reserva uma deliciosa mas rápida surpresa, e novamente mostra que não tem medo de ser gay nas telas. Natália Lage está bem, uma personagem um pouco chata, não sobra espaço para ela entre os outros dois.
Salvo o refresco de imagens feitas com uma câmera de mão em Londres, mostrando recordações felizes do passado da protagonista, não se explora o visual de forma alguma, muito pelo contrário, quase tudo se passa no ambiente sufocante de uma casa, com direito a duas cenas belíssimas do píer de Guaratiba, próximo ao Rio de Janeiro, que conseguem tornar parecido com a Normandia, cinzento e frio. Em meu ver, o filme, não deveria chamar-se Como Esquecer, mas sim Como Ser, pois mostra uma pessoa que, ao perder a cara-metade, descobre-se vazia, incapaz de ser uma pessoa sem a existência de outra, que, ou se reinventa, ou viverá como uma alma penada. Não contarei como termina, pois vale a pena ver o filme, recomendo a todos. Abraços do Cavalcanti.
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