Como startups estão ajudando a redesenhar as cidades

Programa Vivenda oferece kits de reforma a preços acessíveis para moradores de baixa renda. Foto: Divulgação
Programa Vivenda oferece kits de reforma a preços acessíveis para moradores de baixa renda. Foto: Divulgação

Cidades são o lar para cerca de 50% da população mundial, um número que é responsável por 75% das emissões de gás estufa e que tende a crescer a medida que a população urbana avança. Atualmente, 4 bilhões de pessoas vivem em cidades e a previsão é que este número chegue a 6 bilhões até o ano de 2050.

Problemas trazidos pelo avanço da urbanização integram uma pauta antiga entre governos e organizações. No entanto, são jovens empresas mundo afora que têm trazido um novo respiro para antigos desafios. Startups, com seus modelos de operação enxutos, têm se mostrado hábeis para repensar estratégias e soluções para mobilidade, água, energia, coleta de lixo e habitação.

Criada em 2013, o Programa Vivenda é um dos exemplos de pequenas empresas com grande impacto social. Com base na cidade de São Paulo, a companhia oferece kits de reforma de rápida execução destinados à população de baixa renda. Há kits para banheiro, cozinha, sala, e soluções que visam não somente aprimorar a estética das moradias, como também eliminar patologias habitacionais que impactam a saúde dos moradores, como excesso de umidade e falta de ventilação.

“Quando se olha a habitação, a solução base é construir casas. E, de fato, são 6 milhões o déficit habitacional quantitativo no Brasil. Porém, temos mais de o dobro quando falamos de habitações que precisam de melhoria, que é o déficit qualitativo”, ressalta Fernando Assad, um dos cofundadores do Programa Vivenda. “No primeiro, você tem o Minha Casa, Minha Vida, e para o segundo você não tem um programa que cuide desse número. A nossa motivação é que se não existe nada que resolve isso, nós vamos fazê-lo”, completa. 

Em resumo, o Programa Vivenda usa soluções integradas para entregar obras planejadas e desenvolvidas por mão de obra qualificada e parcerias com o varejo. Tais parcerias possibilitam a entrega de materiais de construção por valores mais competitivos com o mercado. O resultado dos esforços de Assad, dos sócios Igiano Lima, Marcelo Coelho e equipe são obras que levam cerca de cinco dias e são oferecidas a custo acessível aos moradores das favelas – os kits custam cerca de R$ 5 mil e podem ser parcelados em até 15 vezes.

A estratégia sempre parte do ponto de vista local, daí a importância do escritório estar baseado na própria comunidade, no Jardim Ibirapuera. Além do caráter mais óbvio de uma reforma – o estético – o Programa Vivenda proporciona outros efeitos colaterais: as reformas aumentam a autoestima dos moradores e geram renda para os profissionais locais, tendo em vista que a iniciativa emprega pedreiros, ajudantes e equipe de venda da comunidade.

“A gente entende que a moradia é o ponto de partida para pensar o desenvolvimento. Reformar um banheiro é bacana, mas o impacto da reforma transcende a dimensão da obra. A reforma é uma plataforma para o desenvolvimento comunitário, é algo que acende a vontade das pessoas de quererem progredir, melhorar a casa, a viela, a relação com o vizinho”, reflete Assad.

Economia circular

Dar um destino correto para o lixo é uma pauta central para o desenvolvimento das cidades e a brasileira WiseWaste tem repensado o uso de resíduos desde que se lançou ao mercado há quatro anos. A empresa desenvolve produtos a partir do reaproveitamento de materiais que normalmente não seriam aproveitados no mercado de reciclagem.

Para chegar nesse modelo, o engenheiro de materiais e CEO da companhia, Guilherme Brammer, defende o envolvimento de agentes importantes no processo: cooperativas de catadores, pesquisadores e grandes empresas.

“Nossa ideia nasceu ao buscar aplicação de mercado para produtos que não têm interesse para a reciclagem tradicional. A ideia é sempre fechar o ciclo de produção, usando bastante tecnologia e cooperativas como agentes sociais”, resume Brammer.

Na prática, grandes companhias como a Procter & Gamble, Natura, Nestlé e PesiCo contratam a WiseWaste para desenvolver soluções de reciclagem. É ela quem tratará os resíduos como insumos para a própria companhia geradora ou para outra. Um ciclo que reduz custos, aumenta a vida útil do material e reaproveita o resíduo pós-consumo, usado como fonte de matéria-prima.

Para desenvolver novas resinas plásticas, a WiseWaste não só inova ao focar seus esforços em pesquisa e desenvolvimento, mas também ao integrar como parte de seu modelo de negócios as cooperativas.

Segundo Brammer, materiais que não são plásticos são direcionados para outras indústrias, como aquelas que aproveitam o uso de aço em sua operação. “As cooperativas são agentes ambientais, sem eles é muito caro o processo da política reversa. As cooperativas já estão pulverizadas, faltava apenas uma conexão direta deles com a indústria e é isso que a gente tenta fazer”, ressalta.

Atualmente, a WiseWaste conta com mais de 2.500 cooperados no Brasil e equipe técnica operando no País todo. Na conta, mais de 25 grandes empresas já contrataram as soluções da empresa fundada por Brammer. 

“Nada é lixo, tudo tem valor na sociedade. A valorização de resíduos inverte a ideia do lixo. O lixo é produto, matéria-prima para a sociedade”, ressalta o empresário.

Agricultura orgânica nas sacadas

Com a premissa de que qualquer espaço pode dar origem a uma horta, a startup luso-brasileira Noocity Ecologia Urbana desenvolveu um módulo para hortas de baixa manutenção. Além de proporcionar o cultivo de orgânicos em varandas, sacadas, coberturas de prédios ou pátios, o método poupa água ao usar um sistema de sub-irrigação inteligente.

A iniciativa dos sócios Pedro Monteiro, Leonor Babo, José Ruivo e Rafael Miranda nasceu na cidade do Porto, em Portugal, e começou sua operação no Brasil em 2015. Um dos principais produtos é a Noocity Growbed, uma espécie de cama para plantações que o próprio usuário monta. O sistema irriga a plantação na altura de suas raízes, algo que, segundo Laís Andrade, diretora comercial da Noocity, consegue economizar até 80% de água uma vez que o método consegue ampliar o intervalo das regas para três semanas.

“No cultivo tradicional, a rega é feita por cima. Grande parte da água fica, então, na superfície e nas folhas das plantas, e ela acaba evaporando e não atingindo as raízes, que é a parte mais importante. Com a subirrigação, otimizamos o uso da água, atingindo a parte em que ela precisa estar”, resume Laís.

Laís explica que a Noocity tem como um de seus propósitos incentivar a produção orgânica de alimentos em casa, restaurantes e até mesmo em escolas e também tem caráter educativo.

Os três projetos integram a segunda edição do Braskem Labs, programa de apoio à inovação e ao empreendedorismo social promovido pela petroquímica em parceria com a Endeavor, agência global de promoção do empreendedorismo. Neste ano, o Braskem Labs selecionou 12 projetos brasileiros que se propõem a inovar seus setores, incluindo aí soluções que incorporem a química e o plástico e projetos que se proponham a combater o mosquito Aedes aegypti.

O programa tem como objetivo ajudar empreendedores brasileiros a identificarem e a superarem os principais desafios no desenvolvimento de seus projetos, produtos e soluções, um suporte que visa dar mais condições para o sucesso dos negócios.

Para saber mais sobre o Braskem Labs, acesse o site: http://www.braskemlabs.com


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