Conhecimento em jogo

Vinte e cinco mil pessoas. Ingressos a R$ 2 mil. Três dias de evento. Os homens engravatados deixam claro que não se trata de uma rave nem de um show de rock. Chamado de HSM ExpoManagement, o evento, realizado anualmente em São Paulo, é um “encontro de conhecimentos”. Mais precisamente, de conhecimentos para executivos.Trazer informações e ideias novas para profissionais do meio empresarial – geralmente, pessoas muito bem qualificadas, com MBA, mestrado, etc. – não é tarefa fácil. “Para escolher o tema de nossas palestras, temos de pensar no que vai ser assunto daqui um ano”, afirma Marcos Braga, CEO da HSM. E eleger muito bem quem serão os “gurus”, pensadores que vão desde teóricos do meio acadêmico internacional até consultores do mundo corporativo que ditam as tendências do universo dos negócios e costumam cobrar fortunas por suas apresentações. Na edição deste ano, que aconteceu em novembro, entre as estrelas estavam John Elkington, considerado o principal nome na área de sustentabilidade voltada para negócios; Philip Kotler, conhecido como o “pai” do marketing; e Gary Hamel, o mais influente pensador de gestão do mundo. Entre os brasileiros, Hans Donner e Henrique Meirelles foram as grandes atrações. “Nosso objetivo é que os executivos saiam de lá com, ao menos, quatro ou cinco boas ideias, baseadas no conhecimento que absorveram e, a partir daí, consigam implantá-las e tomar boas decisões”, afirma Braga.A missão de “educar” executivos não para por aí. A empresa também atua em outras frentes – revista, site e um canal de TV, a Management TV. “Único canal de gestão 24 horas do mundo”, diz ele. O próximo passo é uma escola de negócios. “Vamos focar na educação de alto nível, principalmente MBA e programas desenvolvidos sob medida para empresas”, afirma. “Nossa ambição é ter uma escola do nível de uma GV e Ibmec do ponto de vista da respeitabilidade”, completa.A grande queixa das empresas hoje, segundo o CEO, é a falta de líderes. A constatação veio de uma pesquisa realizada durante o evento. “Não há quantidade suficiente e os que existem não estão suficientemente preparados”, afirma.Há 11 anos na HSM, sendo os últimos três como presidente da empresa, Braga percebe pontos em comum entre o ambiente corporativo e a experiência que teve nas quadras. Aos 50 anos, ele dispõe de um currículo esportivo admirável. Participou dos Jogos Pan-americanos de Porto Rico, em 1979, e da Copa Davis, em 1982. “O esporte ensina a ser competitivo, mas com absoluta ética e eu acredito muito nisso”, diz. “E enquanto o jogo não acaba, dá para continuar brigando. Isso, de certa forma, mesmo de uma maneira mais subjetiva, acaba servindo nos negócios”, conclui.Brasileiros – O que chama a atenção em um evento como esse, realizado pela HSM, é o corpo docente, ou seja, os “gurus”. Como vocês conseguem trazer todos esses nomes? Marcos Braga – Este é um mérito de José Salibi Neto, fundador da empresa e nosso gestor de conhecimento. Ele cuida disso com muito cuidado e carinho. Jim Collins, por exemplo, disse que só aceitou participar graças à amizade e grau de confiança que tem com ele. Temos uma relação muito forte com o meio acadêmico internacional e com o principal bureau que representa essas pessoas. Temos o cuidado de manter esses relacionamentos no mais alto nível.Brasileiros – O que os executivos buscam hoje?M.B. – O Brasil tem hoje uma necessidade muito grande de desenvolvimento de lideranças. Realizamos uma pesquisa que, entre diversas outras questões, levantou quais eram os sonhos e pesadelos dos empresários e executivos brasileiros para os próximos cinco anos. Mais de 60% das empresas declararam que não tinham líderes suficientes para executar as suas estratégias. E mais de 60% também declararam que os líderes que elas tinham não estão suficientemente preparados para exercer a sua função. Concluindo: não há quantidade suficiente e os que existem não estão suficientemente preparados.Brasileiros – O que leva os executivos a essas maratonas de palestras?M.B. – Acredito que, no fundo, vão em busca de inspiração. São executivos de alto nível, mais de 75% são pessoas que estão em alta gerência, diretorias ou presidências. Além disso, tem consultores. É gente que decide nas empresas. Ou apoiam decisões. O que eles estão buscando são subsídios para tomar melhores decisões. Nosso objetivo é que eles saiam de lá com ao menos quatro ou cinco boas ideias, baseadas no conhecimento que absorveram e, a partir daí, consigam implantá-las e tomar boas decisões.Brasileiros – O senhor disse que as empresas têm necessidade do desenvolvimento de lideranças. O que seria um bom líder hoje?M.B. – Acho que o líder precisa conciliar conhecimento técnico com habilidade de lidar com pessoas. Saber que as pessoas vão fazer toda a diferença na empresa. Essa é a essência de um bom líder. Muita gente fala que liderança é aquela coisa nata, ou é ou não é. Na verdade, isso é uma grande balela. A pessoa pode sim desenvolver essa habilidade. Até porque hoje em dia há cada vez menos espaço para aqueles líderes carismáticos. Aquele que vira o “grande guia”, essas coisas. As empresas precisam hoje de uma liderança compartilhada. Não é o líder, mas sim a liderança da empresa que faz a diferença. Com mudanças mais rápidas, as decisões têm de ser tomadas com mais velocidade e frequência. Decisões importantes e estratégicas. A empresa tem menos chance de errar. Você não pode depender de um super-herói. Hoje, ainda existem os super-heróis, mas, muitas vezes, são mais midiáticos que eficientes de fato.Brasileiros – Quer dizer, por mais que estejamos na Era da informação e do conhecimento, algo bem mais prosaico, como a relação humana, é o que faz a diferença. M.B. – Se você não tiver capacidade de lidar com pessoas, não vai poder liderar pessoas. Ou, se for fazer isso, colocará em risco a estabilidade do time. As pessoas começam a ficar insatisfeitas. Acredito que hoje cursos, como o de Administração de Empresas, deveriam dar maior ênfase a disciplinas relacionadas às relações humanas, como Psicologia, Sociologia e Antropologia. Justamente para preparar profissionais capazes de trabalhar com gente com maior eficiência, criando espírito de equipe e times de alta performance.Brasileiros – Você tem um currículo esportivo. O esporte contribui para o desenvolvimento desse espírito de equipe?M.B. – Acho que o esporte é espetacular. Normalmente, quem tem sucesso em esporte coletivo tem espírito de equipe. Sabe que se um lado está mais fraco, vai lá e cobre. O esporte, mais o individual que o coletivo, desenvolve a competitividade, o que é fundamental para o mundo dos negócios. Seria uma ilusão imaginar que você pode ter sucesso sem ser competitivo. Muito competitivo. O esporte ensina a ser competitivo, mas com absoluta ética e eu acredito muito nisso, na competitividade com ética. No caso do tênis, esporte que pratico, as crianças aprendem a jogar cedo e, nos campeonatos, na grande maioria das vezes, não há juiz. É a própria criança quem é o juiz do seu lado, que irá dizer se a bola bateu na linha, fora ou em cima dela. Normalmente, eles desenvolvem um padrão ético desde cedo.Brasileiros – Como é hoje o tênis na sua vida?M.B. – Atualmente, jogo duas vezes por semana. Comecei a jogar com nove anos. Joguei intensamente toda a minha juventude: campeonato brasileiro, sul-americano, mundial. Participei dos Jogos Panamericanos de Porto Rico em 1979, e em uma circunstância especial fui convidado para a Copa Davis, em 1982. Alguns profissionais estavam em desentendimento com a Confederação Brasileira de Tênis e aí chamaram alguns jogadores que se destacavam e não estavam jogando profissionalmente. E aí fui chamado. Tenho planos de continuar jogando tênis ainda por um bom tempo. Tanto é que tenho uma meta escrita de jogar o Campeonato Mundial de 2040. Com 80 anos.Brasileiros – Você acha importante traçar metas?M.B. – De preferência. Acho que acaba virando uma referência mesmo. Não se pode fixar nem criar metas distantes, pouco atingíveis. Se você tem uma meta como a que eu tenho para 2040, é preciso ter um monte de outras no meio do caminho. Uma de saúde, outra de condição financeira.Brasileiros – Como foi a experiência de uma Copa Davis, um dos campeonatos de tênis mais importantes do mundo?M.B. – Para mim, foi uma experiência completamente nova e inusitada, apesar de eu ter perdido meu jogo para o equatoriano Andrés Gomes, após uma batalha de quatro horas. Foi uma honra ter conseguido fazer um jogo duro com ele. Uma semana antes, ele tinha ganhado de Jimmy Connors, um dos maiores tenistas da história. Na época, o preparador físico dos atletas brasileiros era Antônio Marques e o técnico, Fred Muniz.Brasileiros – Você pensava em ser tenista profissional?M.B. – Sim. Quando cheguei aos meus 16, 17 anos veio aquele dilema. Eu jogava em um nível que poderia seguir carreira profissional. Tinha três opções: carreira profissional, estudar nos EUA com bolsa ou seguir com o tênis como hobby, que foi o que acabei fazendo, bastante influenciado pelo meu pai, que achava importante a questão dos estudos. Eu não estava maduro para estudar fora, então acabei ficando por aqui. Mas não me arrependo. É mais gostoso fazer como hobby do que como profissão.Brasileiros – Há algo que você levou das quadras para o trabalho, além da competitividade com ética?M.B. – Levei mais trabalho para as quadras, porque a quadra serve para você desafogar, desestressar. Funciona muito bem. Das quadras para o trabalho, levei, além da questão da competitividade com ética, o fato de nunca desistir. Enquanto o jogo não acaba, dá para continuar brigando. Isso, de certa forma, mesmo de uma maneira mais subjetiva, acaba servindo nos negócios. Enquanto tem jogo, tem batalha. O tênis, por ser individual, também acaba desenvolvendo certa autossuficiência e autoconfiança, consciência de que você é responsável por aquilo que está conseguindo ou deixando de conseguir, algo que qualquer executivo deve ter em mente. A gente tem de dividir os méritos e assumir os erros. Quando dá errado, não adianta ficar distribuindo culpas. O líder é o responsável. Agora, quando acontece o êxito, o sucesso foi do time.Brasileiros – Como empresário, qual a sua previsão para o País daqui a cinco anos?M.B. – As perspectivas são todas boas, mas eu vejo que temos sérios problemas de infraestrutura, que comprometem o crescimento do País. Também acredito que, se não houver uma reforma política que dê efetivamente qualidade para a nossa classe política, vamos estar o tempo todo como se estivéssemos crescendo, mas carregando uma âncora. O Brasil também tem uma defasagem na Educação, raiz desse problema que temos hoje de não haver talentos suficientes para tocar os negócios.Brasileiros – Você acha que a Copa e a Olimpíada no Brasil podem contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura?M.B. – Acho que geram oportunidades incríveis. A parte de infraestrutura vai atender uma parte, principalmente a voltada para o turismo. Nós vamos receber um fluxo enorme de pessoas. Mas isso não resolve a questão das estradas, dos portos, por exemplo. Vejo com muita preocupação a questão dos aeroportos. Acho que esses eventos no Brasil vão gerar muitas oportunidades e negócios e quem estiver atento vai acabar se beneficiando. É inegável que eventos como esses movimentam bilhões, mas é um risco também porque se não fizer bem-feito, o País perderá dinheiro.

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