“Uhhhhhhhhh”. Uma vaia agressiva. Você vê uma presidenta ser desrespeitada – de forma machista e vulgar – em meio à multidão de pessoas que pagaram para assistir a abertura da Copa do Mundo, numa transmissão ao vivo. O mau humor quer te pegar… Dilma responde. UFA.
Então, você descobre que o neurocientista brasileiro que desenvolveu uma interface cérebro-máquina (que possibilita paraplégicos andarem de novo) está sendo hostilizado por uma parte da “imprensa” e por pessoas que enxergam a vida num eterno dualismo infantil. O mau humor te pegou!
É neste momento que você desliga tudo e vai para internet, onde a zoeira (e entre outras coisas) não tem limite. Neste mês, a Brasileiros que chega às bancas tem como destaque o humor, aliás, o bom humor no teatro, cinema, TV, jornais e na… internet.
E um dos personagens que se destacam na web é Jeferson Monteiro, 24 anos, criador da Dilma Bolada (hoje com 1 milhão e 200 mil seguidores no Facebook). Ele apresentou uma presidenta que ninguém conseguiu: eficaz e meiga – que curte ouvir Raça Negra no fim do expediente. Estendendo a conversa por aqui, Jeferson falou sobre humor, desrespeito com a presidenta na cerimônia de abertura da Copa do Mundo e sobre as tendências e embates digitais na pré-campanha. Segue!
Brasileiros – Consegue listar diferenças e o que mudou na internet de quando você começou com a sátira da então candidata Dilma, há quatro anos, para hoje?
Jeferson Monteiro – Muita coisa mudou, mas acho que o principal foi o fato das pessoas terem percebido que a internet dá um poder que antes era exclusivo de uma minoria. A ascensão e crescimento exponencial de redes sociais como o Facebook, Youtube, Twitter e Instagram retratam bem isso: deixamos de ser populares apenas entre o nosso grupo de amigos para ganhar o mundo. Há 5 anos, era o máximo você ter 1000 amigos no Orkut e um scrapbook com mais de 10 mil recados, mas isso passou, hoje as pessoas buscam cada vez mais dezenas, centenas de milhares de seguidores, amigos e compartilhamentos. Muitas fazem de tudo para conseguir isso. Acredito que a maior mudança foi essa: a internet virou um grande palco onde cada um que ter seus 15 minutos de fama.
Brasileiros – E qual foi a repercussão máxima que um post teve? A que atribui o sucesso do personagem na internet?
Jeferson Monteiro – Coincidentemente, os posts com maior repercussão nas redes sociais são relacionados à Copa. No Facebook, foi uma montagem com uma foto da Dilma que diz “Estamos de olho em você… que fica no Facebook dizendo ‘Não vai ter Copa’ mas já marcou churrasco com os amigos no dia de jogo”. Teve mais de 36 mil compartilhamentos e mais de 2,1 milhões de pessoas alcançadas. No Twitter foi uma frase que virou meme e “Vai ter Copa sim e se ficar reclamando muito, vai ter duas” teve mais de 20 mil RTs, um número surpreendente. O sucesso da Dilma Bolada se dá principalmente pela identidade da personagem. É importante para personalidades e marcas entenderem que criar uma identidade própria na rede é fundamental. Eu construí uma identidade ao longo de 4 anos e isso faz com que o meu público conheça e sempre fique na expectativa de coisas novas. Feito isto, é só se dedicar para criar conteúdo relevante: todo mundo pode estar falando do mesmo assunto, mas você deve ter um jeito diferente, único de falar para que seja diferente e atraia a atenção das pessoas.
Brasileiros – Você não usa memes prontos apenas, você trabalha muito a imagem e a criação de conteúdo. Acredita no humor como linguagem para discutir?
Jeferson Monteiro – Sem dúvidas. Muitas das vezes nas entrelinhas eu falo o que eu quero e o que eu penso, seja sobre política, comportamento ou situação social que vivemos.
Brasileiros – Gostaria que você comentasse o caso recente em que uma agência fez proposta gorda – R$ 500 mil reais – para contratar Dilma Bolada para falar bem de Aécio Neves. Esse assédio, que sempre ocorreu, é demonstração da força e da abrangência do seu personagem ou é demonstração de ineficiência dos caras? Como você analisa?
Jeferson Monteiro – Eu acredito que é uma fragilidade que as pessoas tem de se comunicar na rede. Seja lá qual era a intenção dele (a tentativa de comprar propriamente dita ou uma forma de destruir a Dilma Bolada – como ele mesmo disse), só demonstra o quanto despreparadas e desesperadas as pessoas, sobretudo políticos, são quando o assunto é comunicação. Eu criei algo que é único mas não é a única forma de se comunicar. Poderiam concentrar os esforços deles para mostrar seus méritos e tentar criar algo de bom que os valorize também e não tentar atacar ou acabar com quem eles não gostam. Mas acho compreensível, o indivíduo em questão é um programador de sistemas, não entende nada de publicidade ou marketing, é um curioso que se utiliza de métodos duvidosos, acho, inclusive, muito amadorismo delegar funções de comunicação para alguém assim. Mas, fazer o que, né?
Brasileiros – Pode dar alguma dica de comunicação para eles? Aliás, para todos?
Jeferson Monteiro – Mas eu acho que existe uma dica fundamental: em qualquer hipótese, coloque-se sempre no lugar do outro e sempre analise os prós e os contras. Acho que esse é o maior problema da internet, hoje em dia. Muitas das vezes as pessoas não se preocupam com os danos que podem causar às outras pessoas por conta de coisas que são criadas e disseminadas com o objetivo apenas de atacar e humilhar alguém.
Brasileiros – E o que você achou da postura os pagantes que vaiaram Dilma durante a abertura da Copa?
Jeferson Monteiro – Achei uma falta de civilidade, um desrespeito a todos os brasileiros e brasileiras. Eles não tinham o direito de apelar para a baixaria como fizeram. Falou-se muito em falta de educação mas aquilo lá não foi demonstração de falta de educação, foi falta de caráter mesmo que envergonhou todo mundo.
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