Em 17 segundos, o velho estádio Octávio Mangabeira virou entulho. Dos escombros da demolição, realizada no último dia 29, uma nova arena vai nascer: a Nova Fonte Nova, na bela Salvador. Uma arena multiuso e sustentável para ser um dos 12 palcos da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Estádio sustentável?
Sim. Para começar, literalmente, dos escombros da demolição nascerá um novo palco. Isso porque grande parte dos quase 30 mil m³ de concreto da velha Fonte Nova será usada na nova arena, com capacidade para pouco mais de 50 mil pessoas. O material será britado e utilizado na pavimentação do novo estádio e também em obras de urbanização da capital baiana para a Copa de 2014. O aço do velho estádio também será reciclado.
Esses são somente alguns aspectos que fazem da nova arena uma construção sustentável. Responsável pelo projeto da arena em Salvador, o arquiteto brasileiro Marc Duwe explica que o conceito de sustentabilidade em uma obra desse porte é muito mais amplo do que se pensa.
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“Quando se fala em sustentabilidade, se pensa imediatamente em sustentabilidade ambiental, mas o conceito formado por três componentes: ambiental, econômico e social. Então, uma obra sustentável deve ter, além de medidas ambientais, medidas que garantam a viabilidade econômica e ações sociais”, afirma Duwe.
O arquiteto é da Setepla Tecnometal Engenharia, empresa de São Paulo que se associou ao escritório de arquitetura alemão Schulitz Architektur + Technologie para realizar o projeto da Nova Fonte Nova. O projeto de Duwe e do alemão Claas Schulitz foi o escolhido, entre outros seis, pelo consórcio responsável pela construção e operação da arena baiana, formado pela Odebrecht e OAS. Em Salvador, a Setepla tem experiência na obra de recuperação do Pelourinho.
Duwe lembra que a avaliação das propostas foi realizada pelo Núcleo Técnico do governo do Estado da Bahia, com o suporte da FIA (Fundação Instituto de Administração, da FEA-USP), e baseada em mais de 50 critérios técnicos nos itens de sustentabilidade, instalações e jurídicos.
O projeto da Nova Fonte Nova, segundo o arquiteto, está seguindo o conceito amplo de sustentabilidade. No aspecto ambiental, por exemplo, além da utilização do entulho do estádio demolido, a obra cumpre à risca as exigências do programa Green Goal ou Gol Verde, da FIFA. Criado em 2007, o programa institui metas para serem cumpridas com foco na sustentabilidade.
O programa, já aplicado na Copa de 2010, na África do Sul, visa minimizar ao máximo possíveis problemas ambientais decorrentes da organização de um evento como a Copa do Mundo. Na construção de estádios, o Gol Verde tem orientações para quatro itens: armazenamento de água de chuva para irrigação e uso racional da água potável; diminuição de desperdícios no estádio e separação dos resíduos; uso de energia solar e procedimentos que reduzam o uso de ar condicionado; estímulo do transporte público e mecanismos mais saudáveis de transporte (Veículo Leve sobre Pneus – VLP, por exemplo).
“O projeto, desde o início, seguiu as orientações do Green Goal e, além disso, foi concebido com grandes espaços abertos nas áreas de circulação, priorizando a ventilação e iluminação natural. Nas áreas fechadas, como camarotes e lounge VIP, os vidros serão protegidos por filmes da radiação solar para diminuir gastos com o sistema de ar condicionado. Outro aspecto é o sistema da cobertura com anéis de compressão-tração e cabos tensionados, que traz economia de matéria-prima (aço), em relação aos métodos construtivos convencionais” (a Odebrecht fala em redução de 30% a 40% no consumo de aço), conta Duwe, sobre o projeto da Nova Fonte Nova.
A estrutura do novo estádio ainda vai preservar dois aspectos simbólicos da velha Fonte Nova: o formato de ferradura e a abertura para o Dique do Tororó, segundo Duwe, muito importante para a ventilação do local. A grande novidade é a moderna cobertura em estrutura tensionada protegendo toda a arquibancada. O estádio baiano terá ainda 70 camarotes (pode chegar a 100) e 1.978 vagas de estacionamento.
Sobre o conceito de sustentabilidade na área econômica, o arquiteto diz que a construção tem de prever gastos baixos de manutenção e uso para outras atividades, depois do grande evento, nesse caso, a Copa do Mundo. Ele cita os estádios europeus como exemplos de locais utilizados para as mais diversas atividades e eventos fora do futebol. Além disso, os gastos na obra também entram no conceito de viabilidade econômica. No caso do novo estádio baiano, a obra está orçada em quase R$ 600 milhões e deve ficar pronta no final de 2012.
O terceiro pilar do conceito de sustentabilidade pode ser resumido em uma palavra: legado. O que uma obra como a Nova Fonte Nova traz de benefícios à população de Salvador, depois que a Copa de 2014 for encerrada? Duwe fala na recuperação e reurbanização de áreas degradadas como o principal legado para a sociedade soteropolitana. Os quesitos de transporte público limpo, uso racional de energia e modo sustentável de tratar o problema do lixo, previstos no programa Gol Verde, são outros itens que deixam algo para a população após a Copa.
Arena Recife e Cidade do Futebol
Outro grande projeto que pretende ser modelo de sustentabilidade envolve mais que um estádio de futebol. Na cidade de São Lourenço da Mata, a 19 km do centro de Recife, uma arena e um complexo residencial com nove mil habitações serão construídos. É a Arena Recife e a Cidade da Copa.
O consórcio Cidade da Copa, formado pela Odebrecht e pelo governo de Pernambuco (parceria público-privada), é o responsável pela grande obra, orçada em R$ 2 bilhões. A Arena Recife ou Arena Capibaribe vai custar R$ 532 milhões, terá capacidade para 46.146 torcedores, estacionamento com seis mil vagas e 130 mil m² de área construída. Assim como a Cidade da Copa, o estádio ficará sob responsabilidade do consórcio por 33 anos.
O projeto envolve inúmeras ações sustentáveis. Para começar, os pouco mais de 46 mil assentos do estádio serão feitos do chamado plástico verde. Uma iniciativa inédita no mundo inteiro. Desenvolvido pela Braskem (braço petroquímico da Odebrecht), as cadeiras serão produzidas a partir da cana-de-açúcar. O plástico verde é feito a partir da desidratação do etanol da cana-de-açúcar e tem sido utilizado na indústria automobilística e de produtos de beleza. O assento, que na verdade será de cor vermelha, tem matéria-prima 100% renovável
Outras medidas sustentáveis na Arena Recife, que deve ficar pronta no final de 2012, seguem o programa Gol Verde, da FIFA, como uso de energia solar, reaproveitamento de água e tratamento de esgoto, lembrando que o estádio vai ficar muito próximo ao Rio Capibaribe. Segundo a Odebrecht, serão preservados 600 mil m2 de Mata Atlântica nativa na área e o complexo vai garantir o desenvolvimento da região, com centros comerciais, moradias e equipamentos para uso público, de acordo com a ideia de sustentabilidade econômica.
A Cidade da Copa teve autorização da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) de Pernambuco para início das obras. Assim, já foram iniciados os trabalhos de topografia, implantação de canteiro, colocação de tapumes e de acesso viário ao local, com uma área de 150 hectares.
Serão construídas nove mil casas, com previsão total de conclusão até 2020. As habitações terão um sistema de energia elétrica produzido por células fotovoltaicas, ou seja, energia solar. A Odebrecht prevê que a água dos vestiários e das cozinhas do estádio será aquecida pela energia captada do sol. Com isso, pode-se ter uma redução de até 85% da energia convencional, que vem da rede Celpe (Companhia de Eletricidade de Pernambuco).
Há compromisso do consórcio em melhorar a mobilidade urbana na região metropolitana e arredores, onde estádio e Cidade da Copa estarão situados. Novas vias serão construídas para o acesso ao complexo de nove mil unidades habitacionais.
O SONHO DA CASA PRÓPRIA |
Depois de inúmeros projetos, promessas e desilusões, finalmente o fiel torcedor corintiano verá o velho sonho ser realizado. Às vésperas do centenário do clube (no dia 1o de setembro), foi anunciado o projeto para o estádio do Corinthians, que será em Itaquera, Zona Leste da cidade de São Paulo. A nova casa corintiana deve ser o palco paulista na Copa do Mundo de 2014. Em princípio, o estádio terá capacidade para 48 mil espectadores e custará R$ 335 milhões, quantia bancada pela Odebrecht. Em troca, a construtora terá o direito de vender os naming rights (explorar o nome da arena) por um período de 15 anos. Segundo o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, se a Odebrecht não conseguir o valor integral de volta, o clube vai ressarcir a empreiteira. A nova arena do Corinthians deve ser a sede paulista para a Copa de 2014. Caso queira pleitear o jogo de abertura do mundial, o estádio tem de aumentar em 20 mil pessoas a sua capacidade, o que geraria um gasto de mais R$ 170 milhões. O projeto ainda pode passar por modificações, já que ainda não foi aprovado pela FIFA, e há também a possibilidade de elevação nos gastos totais da obra. Realizado por dois escritórios do Rio de Janeiro (Coutinho, Diegues e Cordeiro e DDG), não tem especificações sobre itens de sustentabilidade, como as duas arenas no Nordeste. A previsão é a de que o estádio fique pronto até o primeiro semestre de 2013, antes da Copa das Confederações, evento-teste para sediar a Copa de 2014. De qualquer forma, o sonho corintiano de um novo estádio saiu do papel e promete virar realidade. |
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