O subsecretário-geral de Política 3 do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Paulo Cordeiro, alertou que se a tendência atual de repressão e violência se mantiver no Egito, a situação no país pode ficar mais grave. Para ele, a detenção de oposicionistas e aliados do presidente deposto Mohamed Mursi, em 3 de julho, é uma ameaça às instituições e à democracia como um todo. Cordeiro lembrou, em entrevista à Agência Brasil que geralmente o “enfrentamento leva a tragédias, que geram sofrimento, muitas vezes duradouro”.
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O alerta de Cordeiro ocorre dias depois de que manifestantes e forças policiais se enfrentaram, no Cairo, por três dias, em conflitos que acabaram com pelo menos 750 mortes. “O governo do Brasil espera que o Egito retorne à institucionalidade democrática. Esperamos, sinceramente, que as autoridades egípcias tenham a sabedoria de ser inclusivas e não tomem o caminho oposto”, disse.
O emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto, acrescentou à Agência Brasil que com a prisão de cerca de 8,3 mil integrantes da Irmandade Muçulmana e o anúncio da ordem de detenção do líder Mohamed ElBaradei, o governo do Egito encerra a possibilidade de diálogo.
“Todas as vias de diálogo estão interrompidas, as forças políticas [de oposição às Forças Armadas] estão alijadas e se havia dúvidas sobre o processo de destituição de Mursi, democraticamente eleito, agora não há mais”, destacou Melantonio Neto.
Nos últimos meses, diariamente há protestos nas principais cidades do Egito. Sob a liderança da Irmandade Muçulmana, simpatizantes de Mursi ocupam as ruas, acampam em praças públicas e defendem o presidente deposto – que é mantido preso desde sua destituição em local não divulgado. As forças policiais reagem de forma intensa e violenta.
Apesar do agravamento da situação, no último dia 21, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, defendeu que quaisquer medidas de sanção ou restrição ao Egito sejam adotadas em nível multilateral. Ele descartou a hipótese de o Brasil suspender os acordos existentes, pois para ele as medidas devem ser definidas com base nas orientações do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“O que nós defendemos é que haja um debate multilateral e que se houver alguma razão para a adoção de sanções, que sejam desenhadas de tal maneira que tornem ainda maior o sofrimento da população civil maior do que já é em função dos distúrbios e da violência”, disse Patriota após reunião com o chanceler do Níger, (África), Mohamed Bazoum, no Palácio Itamaraty.
Mesmo com as dificuldades causadas pelos impactos da Primavera Árabe, em 2011, no Egito, o país não reduziu o volume de comércio com o Brasil. Ao lado da Arábia Saudita, da Turquia e do Irã, o Egito está entre os principais parceiros do Brasil envolvendo os países muçulmanos. Em 2012, o volume do comércio bilateral atingiu US$ 2,7 bilhões.
A reação do Brasil, de evitar a adoção de sanções, ocorre no mesmo momento em que os chanceleres dos 28 países que integram a União Europeia (UE) anunciaram a suspensão das licenças de exportação de equipamentos de segurança e de armas para o Egito. Os chanceleres decidiram rever a ajuda ao Egito, em resposta à onda de violência na região.
Tradicionalmente, o governo do Brasil condena a violência e a violação aos direitos humanos no Egito. Após a onda de violência, o embaixador do Egito no Brasil, Hossam Edlin Mohamed Ibrahim Zaki, foi chamado ao Itamaraty para prestar esclarecimentos e ouvir das autoridades brasileiras o protesto em relação aos confrontos no país.
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