Filho de um casal de biólogos apaixonados por música, Kastrup enveredou pelos estudos ao formar, aos 15 anos, uma banda imaginária de heavy metal. No conjunto fictício, seria o baterista. Converteu a possibilidade em fato, ao seguir conselho oportuno dos pais: ganharia a primeira bateria somente após descobrir se tinha ou não vocação. No Conservatório Musical Villa-Lobos, conteve a ânsia e só foi pegar em um par de baquetas seis meses depois de muita teoria. A paixão por Black Sabbath e Led Zeppelin fez surgir a tão sonhada banda, de vida breve, Santo Graal.
Na Universidade Estácio de Sá, onde bacharelou em Música, Kastrup expandiu horizontes ao integrar uma big band chamada Balança & Dança. Foi nela que aprofundou pesquisas sobre o rico universo percussivo brasileiro e decifrou gêneros como o jongo, o congado, o coco, o maracatu e a capoeira. Na divisa dos anos 1990 para 2000, já morando em São Paulo, ele passou a se interessar por percussão eletrônica e estudar processos de gravação. Em 2003, Kastrup comprou os primeiros softwares de áudio e um instrumento divisor: o sample MPC, da japonesa Akai, fundamental para seu primeiro disco. No trajeto, consolidou-se requisitado músico profissional que, até o momento, integrou mais de 150 álbuns. Entre os quais, obras autorais de Adriana Calcanhoto, Arnaldo Antunes, Chico César, Elba Ramalho e Vanessa da Mata. Como produtor assinou mais de 20 títulos, entre eles álbuns celebrados, como Ilha do Destino (2002), do pernambucano Ortinho; Vol. I (2007), a estreia da cantora Andreia Dias; A Vontade Superstar (2009), que trouxe à tona as belas canções de Bruno Morais; e De Pés no Chão (2012), segundo álbum de Márcia Castro.
Para, enfim, dar voz à própria produção, Kastrup abusou das colagens orgânicas de bases feitas por músicos que passaram pelo Toca do Tatu. Também registrou, via sample, canjas de convidados especiais, como o mestre Cartola, que inspirou o tema Tá Maluco, Rapaz: “Numa entrevista para o programa Ensaio, ele conta como vendeu seu primeiro samba. Um amigo sobe o morro e diz: ‘Tem um cara querendo comprar um samba teu’. E ele: ‘O quê!? Tá maluco, rapaz?’. Ele conta a história de forma muito musical. Sampleei a entrevista, recortei a fala e comecei a fazer a música a partir do ‘Tá maluco, rapaz?’”.
O álbum teve acabamento de fino trato com a participação de amigos, como Zé Pitoco (clarinete e sax), Márcio Arantes (contrabaixo), Edgard Scandurra (guitarra e violão) e o pianista Benjamim Taubkin, presente em quase todas as faixas. O título surgiu de uma brincadeira feita pelo baiano Tom Zé, que escalou o músico para cinco de seus recentes álbuns e, certa feita, ao vê-lo lidando com suas percussões e parafernálias eletrônicas, disparou: “Pronto, começou o kastrupismo!”. Para Kastrup, até mesmo pelo sufixo “ismo”, o título remete a uma “doença crônica qualquer”. Que ela não tenha cura e renda álbuns tão saudáveis como esse.
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