Para tratar do assunto de capa, a questão árabe e seus desdobramentos, Salem Hikmat Nasser, professor de Direito Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi entrevistado por Cândida Del Tedesco e Luiza Villaméa.
Com elas, o professor falou sobre Estado Islâmico e sobre terror que, para ele, além da essência, do significado, também a palavra é perigosa:
“ Se eu sair usando a etiqueta, assumo o discurso do distribuidor de etiquetas…quando se cola a etiqueta do terrorismo sobre alguém, despiu-se esse alguém de todos os seus direitos…na retórica ocidental, se o cara é terrorista ou se ele é suspeito de terrorismo, pode-se torturar, matar sem perguntar, matar a família dele, destruir a casa dele. Mas isso para dizer que, usando ou não a palavra, para mim, o que Estado Islâmico faz é um absurdo. É barbárie. É uma violência totalmente ilegítima. Os meios que eles usam são ilegítimos. Os alvos não são legítimos. A justificação não é legítima e por isso mesmo eles são um grupo perigosíssimo”.
Além da entrevista, Nasser, que é nosso colunista e cujo trabalho pode ser acessado no blog, nos mandou sua mais recente coluna e, junto, a consulta sobre seu formato, diferente do usual.
Ainda de maneira pouco usual, a coluna de Salem Nasser foi para a capa por simbolizar, com eficiência, o complexo problema.
Também colaboraram nesta edição William Waack e Roberto Godoy, especialistas no assunto, dois dos jornalistas mais competentes que o Brasil já produziu. Escrevo isso com a tranquilidade de ter trabalhado com ambos, com William na cobertura da primeira Guerra do Golfo e com Godoy na Agência Estado e Estadão, onde ele, até hoje, escreve sobre armamentos, como poucos o fazem.
William, hoje no Jornal da Globo e na Globo News Painel, fala aqui das complicações atuais da diplomacia e das dificuldades de diferenciar o que é política externa do que é política doméstica neste teatro de operações em que se transformaram as redes sociais. Roberto Godoy mostra como o Estado Islâmico vai às compras, o que escolhe e como adquire, nas prateleiras deste mercado mortífero.
Jorge Artur dos Santos, professor de História, volta à gênese da questão árabe e nos conta como, em meio à Primeira Guerra Mundial, em 1916, antes mesmo de seu término, os diplomatas Mark Sykes, inglês, e François Georges-Picot, francês, produziram o plano secreto que levou o sobrenome dos dois e dividiu entre França e Inglaterra, numa gigantesca bomba relógio, o botim que estava prestes a sobrar do derrotado Império Otomano.
O professor cita em sua peça o jornalista britânico Robert Fisk, outro dotado de rara competência, em cujo artigo para o The Independent se refere à democracia:
“Para os árabes, democracia não quer dizer liberdade de expressão ou liberdade para eleger seus líderes, a palavra se refere, sim, às nações ocidentais ‘democráticas’ que continuam a apoiar os cruéis ditadores que os oprimem”.
Por outro lado, não ignoramos nem diminuímos e muito menos ocultamos as responsabilidades da tragédia social e ambiental de Mariana, Minas Gerais. Na reportagem assinada por Fernanda Cirenza, Alex Tajra, Mônica Tarantino, Vinicius Mendes e Wanderley Preite Sobrinho, contabilizamos e lamentamos a inacreditável incompetência que gerou a catástrofre. Segundo o médico especialista Paulo Saldiva, da USP, entrevistado pelo nosso canal Saúde!Brasileiros a lama vai formar um tapete mortal nos leitos do Rio Doce e de seus afluentes.
A lama de Mariana, a lama da Samarco, da Vale, da BHP Billiton, já chegou ao litoral do Espírito Santo. Apesar disso, neste número 101 da Brasileiros, Ligia Braslauskas, a editora do nosso site, sugere 40 roteiros irresístiveis para visitar nas próximas férias.
A Costa Verde, entre Rio e São Paulo, o cânion do Xingó, em Sergipe, Maragogi, em Alagoas, e mais outros belos destinos.
Escolha para onde ir, desfrute, use com prazer, mas cuidado, porque é frágil.
Deixe um comentário