Não existem mais escravos no Brasil desde 1888. Fomos o último país no mundo a abolir a prática vergonhosa, 23 anos depois dos Estados Unidos. Lá, o presidente Abraham Lincoln determinou a libertação dos escravos durante a Guerra de Secessão que começou em 1861 e acabou em 1865. Mas os negros recém-libertos nada tinham a comemorar. No sul, eram caçados e mortos pelos brancos e assim continuaram por mais um século. Duas semanas depois do fim da guerra, Lincoln foi assassinado num teatro em Washington, no dia 14 de abril de 1865.
Lá como cá, o trabalho escravo teve no racismo um substituto à altura de sua baixeza. O nosso, mais sutil, pouco assumido. O americano, escancarado, violento. Aqui a segregação social substituiu a senzala. Lá também. A diferença é que lá essa segregação era assegurada pelo uso da violência. Muita violência. Um pescoço negro, um pedaço de corda e um galho de árvore deixavam clara a delimitação de territórios. Para os brancos tudo, para os negros nem a justiça.
Graças a muita luta, pode-se hoje dizer que as coisas já foram piores.
Aqui no Brasil, mantemos viva na lembrança a história de Zumbi. Um herói brasileiro, descendente dos bantus de Angola, líder do quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga (AL). Nesse morro se refugiavam os escravos dos engenhos do nordeste, na então capitania de Pernambuco. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695 pelas tropas da corte portuguesa.
Hoje, novembro vem carregado de símbolos. A eleição de Barack Obama, senador pelo estado de Illinois, como o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos é o mais espetacular e alvissareiro de todos. Quase uma catarse, a eleição do descendente de quenianos traz esperança e expectativa colossais, num mundo em aguda mutação.
Um pouco antes, o piloto inglês Lewis Hamilton, seguindo os passos do genial golfista Tiger Woods, tornou-se o primeiro negro campeão de Fórmula 1, esporte antes exclusivo para brancos. Como o golfe.
A primeira edição da Brasileiros, em julho de 2007, já trouxe o racismo como preocupação nossa. Para este mês da Consciência Negra escolhemos para capa o brasileiro André Carlos Conceição dos Santos. Nascido em uma comunidade remanescente de um quilombo na Bahia, André faz parte de um grupo de jovens que trabalha numa parceria entre a Fundação Odebrecht e a ONU. Trata-se de uma iniciativa focada no desenvolvimento comunitário e simboliza a crescente quebra de barreiras e um investimento efetivo no crescimento social, ambiental e educacional, tripé de sustentação de uma Nação.
Portanto, dá-lhe André!
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