Datafolha: a crise política nada altera para Lula e 2010

Os mais comentados
Publico abaixo, como faço todos os domingos desde a estréia do blog, os três assuntos mais comentados da semana no Balaio, na Folha e na Veja, as duas publicações impressas de maior circulação no país:

Balaio
Marina Silva: 632
Diploma de jornalista: 117
Boa notícia: 108

Folha
Senado: 182
Lei antifumo: 75
Sarney: 54

Veja
Rozângela Alves Justino: 189
Senado mal-assombrado: 113
Roberto Pompeu de Toledo: 36

***

A grande novidade da pesquisa Datafolha publicada neste domingo é que não apresenta nenhuma grande novidade.

A crise política que dominou o noticiário nacional nos últimos meses nada alterou nos índices de popularidade do presidente Lula nem na corrida sucessória para 2010, ficando tudo na mesma dentro da margem de erro.

Ao contrário do previsto por dez entre dez dos maiores colunistas políticos do país, o festival de denúncias, baixarias e escândalos dos últimos meses, tendo como epicentro o Congresso Nacional, os números do Datafolha de agosto são praticamente os mesmos da pesquisa anterior divulgada em maio.

Nem a doença de Dilma e as denúncias contra ela, nem a gripe suína, nem a surpreendente entrada em cena da senadora Marina Silva como provável candidata do PV à Presidência da República, nada foi capaz de mudar as intenções de voto para 2010 e a avaliação positiva do governo Lula.

O líder das pesquisas José Serra perdeu um ponto (foi de 38 para 37), Dilma manteve os mesmos 16% da pesquisa anterior, assim como Ciro repetiu o índice de 15%. Logo atrás, Heloísa Helena subiu de 10 para 12%.

Marina Silva apareceu com apenas 3%, desmentindo os números do Ipespe, o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas do cientista político Antonio Lavareda, que trabalha para o consórcio PSDB-DEM, na qual a senadora aparecia com índices entre 10 e 27% das intenções de voto – argumento utilizado pelos verdes para convencê-la a sair candidata pelo partido.

“Lula passa por crise sem perder alta aprovação”, parece lamentar a Folha, em modesta matéria de uma coluna espremida na página A11, na qual informa que o presidente caiu apenas dois pontos (de 69 para 67) no auge de mais uma crise do fim do mundo.

O que para mim mais uma vez ficou claro nesta pesquisa do Datafolha é que há uma clara separação entre o Brasil real da grande maioria da população, satisfeita com a recuperação da economia e com a vida que leva, e o Brasil midiático, que emenda uma crise política na outra.

Outra constatação óbvia é que o quadro sucessório continua indefinido, não se sabendo até agora quem serão os candidatos para valer. Mas parece mais distante a possibilidade de uma eleição plebiscitária entre Serra e Dilma, como queria o governo.

Ciro será candidato a presidente ou a governador de São Paulo?

Heloísa Helena, a líder do PSOL que hoje é vereadora em Maceió, sairá candidata a presidente ou ao Senado por Alagoas?

Qual rumo tomará Aécio Neves, que continua na rabeira da pesquisa em diferentes cenários, mas não abre mão da sua candidatura por enquanto?

Até onde pode crescer Marina, se for mesmo candidata pelo nanico PV de Gabeira, o candidato do PSDB-DEM no Rio?

Enquanto estas perguntas não forem respondidas pelos fatos, tudo não passa de chute, a apenas 14 meses do dia de irmos às urnas.

Em tempo: o leitor Pedro Franhi, das 16:04, me chama a atenção para o dado mais importante da pesquisa Datafolha, que me escapou, publicada no pé da matéria principal da página A4: 42% dos eleitores ouvidos votariam num candidato apoiado pelo presidente Lula para presidente. Esta informação mereceria maior destaque, em condições normais, convenhamos.

***

Notícias do bem
Na minha eterna campanha para falarmos também de notícias boas e pessoas do bem, mesmo em momentos de tristeza, recebi esta semana e reproduzo abaixo um belo texto do nosso leitor Robson de Oliveira sobre o trabalho social de uma família muito ligada à turma do Balaio.

Central de Ajuda Bom dia!

Existem pessoas que priorizam as mais diversas culturas.

Uns cultivam plantas, outros cultivam árvores, mas há aqueles que cultivam pessoas e, entre essas pessoas, tive a oportunidade de conhecer recentemente três grandes mulheres.

Através de uma participação minha no Balaio do Kotscho, recebi em minha caixa de e-mails uma mensagem da leitora Ana Luíza Berlinotti Aguiar, moça de 29 anos, que já perdeu uma filha pequena, e também se tornou viúva precocemente.

Durante nossas conversas diárias, pude conhecê-la um pouco melhor, e também as suas duas companheiras, dona Vera Lúcia de Souza Alves Ferreira, mais conhecida e carinhosamente tratada por vovó, e também a sua prima Blenda, ambas também participantes do Balaio.

Ana Luíza, essa menina carioca já vivida (como costumava me dizer), ao invés de culpar o mundo por seus infortúnios, resolveu junto com sua avó e sua prima abraçar uma causa pequena em uma comunidade carente na cidade de Pirajuí, no interior de São Paulo, que se torna gigantesca pelo exemplo que nos oferece.

Tudo começou quando tiveram uma idéia. Iriam ajudar todas as pessoas que passassem por elas, solicitando algum tipo de ajuda.

Por morarem num bairro de periferia, os problemas são muitos e diversificados, em questões como saúde, segurança e educação. Forneciam pequenos auxílios financeiros, providenciavam consertos de eletrodomésticos e o encaminhamento a órgãos do governo para receberem auxílios como os da Bolsa Família.

Vovó Vera cuidava da orientação e auxílio junto de Blenda. Ana Luíza desenvolvia atividades com as crianças. Ensinava-as a tocar instrumentos musicais, além de promover alguns passeios e excursões, em que constantemente até adultos também participavam.

Praticavam, enfim, e também ensinavam a praticar, a cidadania, para moradores constantemente esquecidos nas periferias.

Atendiam ao telefone sempre anunciando: “Central de Ajuda”!

Juntas elas também acompanhavam pessoas com dúvidas sobre seus direitos até o centro da cidade, onde iam receber auxílios ou até para abrir uma simples conta bancária.

Com extrema paciência, cuidavam e orientavam os membros dessa comunidade no que lhes fosse possível.

Se alguém solicitava ajuda para um problema de eletrodoméstico com defeito, lá iam elas para resolver o problema ou buscar alguém com conhecimento para isso.

Vovó Vera me disse, certa vez, que um senhor chegou quando ela estava conversando com uma vizinha. Ele parou e perguntou:

– A senhora lembra de mim? Fui eu que limpei aquele canteiro para a senhora- e apontou para umas flores amarelas.

A vizinha no mesmo instante se retirou apressadamente, mas vovó Vera convidou-o para um café, e mais tarde para o almoço.

Aquele senhor acabou efetuando pequenos reparos na casa, obteve sua refeição e, além do calor humano, recebeu R$50,00 pelos serviços prestados.

Ana Luíza também participava ativamente das reuniões políticas, onde eram discutidos os problemas da comunidade.

Ela me confidenciou que o lugar é realmente muito triste, carente de tudo, mas as pessoas são muito boas.

Hoje, infelizmente, ela não esta mais entre nós. Um problema cardíaco detectado de forma tardia surpreendeu a todos.

Sua prima Blenda mudou-se da cidade. E vovó Vera continua seguindo, embora de maneira solitária, e dentro de suas mais limitadas possibilidades, com o programa que as três criaram e desenvolveram.

Vovó Vera, é leitora do Balaio e também uma profunda admiradora do Ricardo Kotscho.

Participava através de sua neta dos comentários.

Bem, meus amigos. Descrevi apenas algumas coisas que a Central de Ajuda proporcionava, e de certa forma ainda proporciona àquelas pessoas.

Atitudes de pessoas normais, que olham para o seu semelhante, e conseguem enxergar essa “semelhança”!

Criaturas que se despem de artifícios efêmeros criados por uma sociedade muitas vezes desumana.

Seres humanos iluminados em sua capacidade de entender que na verdade somos todos irmãos.

Lembro-me do final da história já conhecida do menino que salva as estrelas do mar e diz, quando questionado, estar fazendo a parte dele.

Isso gera uma cobrança.

Prefiro o final em que ele diz olhando para a que está em suas mãos.

-Para essa eu faço a diferença!

Para a pequena comunidade de Pirajuí, a Central de Ajuda faz uma grande diferença.

O Balaio perde uma leitora participativa

Vovó perde uma neta linda.

Eu perdi mais que uma amiga

O mundo perde um ser iluminado

Mas todos nós acabamos ganhando com o exemplo dela, que será eterno

Robson de Oliveira


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