De novo mesmo, só a amizade premiada

Ano novo, vida nova, costuma-se dizer, mas a leitura dos jornais e do noticiário da internet me deu a estranha sensação de estar assistindo a um video-tape em preto e branco de fatos vividos em tempos passados, remotos ou recentes.

Desde que acordei e abri o computador fiquei caçando alguma novidade para comentar neste primeiro post de 2011. Está difícil. Para começar, na área política, o PMDB continua insatisfeito, fazendo biquinho e exigindo mais cargos, agora no segundo escalão. É a primeira crise anunciada do governo Dilma.

O resto é o de sempre:

* os novos governos estaduais anunciam cortes de gastos e demissão de funcionários ociosos;

* a nova ministra dos Direitos Humanos defende a apuração de crimes da ditadura e o general que assumiu o GSI diz que o importante é “olhar para a frente”;

* deslizamento de terra soterra três jovens em Petrópolis;

* tiro acidental mata soldado no Alemão;

* mais 88 empresas incluídas na ficha suja do trabalho escravo ( e estamos em 2011!)

* aumentos nas taxas e impostos municipais;

* governo federal quer fazer a reforma tributária no primeiro semestre;

* aeroportos estão com 21% dos vôos atrasados;

* chove desde sábado em São Paulo e a previsão é de mais chuva até o final da semana

Não é porque o ano mudou na folhinha e o Brasil trocou de presidente que as notícias vão mudar de uma hora para outra, eu sei. Mas será que não tem nenhuma coisa boa e realmente nova acontecendo no mundo neste começo de 2011?

Pois tem, procurando a gente acaba encontrando. Está lá nos destaques da capa do iG nesta terça-feira: “Aposentado argentino retribui visita de amigo com bilhete da loteria premiado”. Era um bilhete de loteria chamada de “Gordo de Natal”, que pagou um premio de 500 mil pesos (cerca de R$ 260 mil).

A notícia sobre a amizade premiada, a única que me chamou a atenção nesta selva de informações no papel ou on-line, vem da BBC Brasil, uma agência que não se preocupa apenas com política, negócios, desgraças e futilidades, e reserva sempre um espaço para a vida real.

O caso aconteceu na pequena cidade de Concórdia, na província de Entre Rios, no Uruguai. Ao dar um bilhete de loteria de presente em agradecimento a um amigo que o visitou no hospital, o aposentado argentino Alberto Castro, de 77 anos, sem saber acabou fazendo a festa de um monte de gente.

Embora Castro tenha mantido no anonimato o nome do amigo, o jornal Diário Rio Uruguay identificou o dono do bilhete premiado como o sacerdote da paróquia local. “Ele é uma pessoa que faz muitas obras beneficentes e tenho certeza de que saberá usar este dinheiro”, limitou-se a dizer o aposentado, que é ex-funcionário de uma lotérica na cidade, de onde se afastou por problemas de saúde.

Outras duas vezes Castro já tinha dado o mesmo presente ao amigo. “Estou feliz. E, evidentemente, a sorte era para ele. Eu estava internado, depois de ter sido submetido a uma operação de visícula, e esse amigo me visitou. Ele me apoiou emocional e espiritualmente e eu quis retribuir”.

Aos que buscam uma explicação para tudo, a história destes dois amigos de fé serve para mostrar que a solidariedade humana sem interesse às vezes pode ser mais gratificante do que a tal responsabilidade social bem remunerada que está na moda. E nem é preciso ganhar um bilhete premiado

Diante desta notícia, espero que mais gente se anime em 2011 a visitar seus amigos enfermos. Não custa nada arriscar. Só pode fazer bem.


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