De onde vem o suingue deste cara?

É impossível não se deter na música de Marcelo Camelo e se enternecer com ela na voz deste Rubi. “De Onde Vem a Calma” é a faixa que abre Paisagem Humana (Eldorado), o terceiro CD de Rubi, fruto do patrocínio da Petrobras e de sua participação na 8ª edição do Prêmio Visa, em 2005, em que foi classificado em terceiro lugar pelo júri que se fez de surdo diante do público que o aclamava.

Calmo, Rubi gravou as 17 canções em três sessões realizadas no meio de 2006 e o disco foi lançado no fim do ano seguinte em uma temporada no Sesc Avenida Paulista. Quem teve o privilégio de assistir ao show, dirigido por Marcelo Romagnoli, com a participação do bailarino Cristiano Karnas, saiu literalmente chapado.
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Auxiliado por Estevan Sinkovitz e Luciano Barros nas cordas, baixo, sete cordas, violões, guitarras, bandolim e cavaquinho, e Luiz Gayotto na percussão, Rubi literalmente passeou pelo repertório com uma sinuosidade que aliava a dança de Krishna ao moonwalking de Michael Jackson. Foi ovacionado. Todas as noites.

Rubi tem uma voz privilegiada, aguda, não como a de Ney Matogrosso ou Edson Cordeiro, mas um falso falsete. Garganta mesmo. Uma lâmina de veludo. O amigo Gero Camilo escreveu no encarte que “sua voz canta bem pertinho do ouvido do olhar”. E, à maneira de Marisa Monte, escolhe canções, melodias e temas exatamente de seu próprio tamanho, da sua capacidade de emocionar-se e de emocionar. Escolhas milimétricas.

Nenhuma das músicas de Paisagem Humana foi escrita por Rubi, mas todas passaram a lhe pertencer assim que as interpretou. E isso vale tanto para clássicos como “Fica Comigo Esta Noite”, de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves, quanto para novidades como “Santana”, do pernambucano Junio Barreto, já gravada por Gal Costa. Nascido em Goiânia e criado em Brasília, na cidade-satélite de Taguatinga, Rubi freqüentou o seminário por três anos, de onde saiu para a faculdade de teatro, tornando-se bacharel em artes cênicas. Um de seus maiores orgulhos foi ter tido aula com Dulcina de Moraes.

A música entrou em sua vida pelo teatro. Fez seu primeiro show, exclusivamente com músicas próprias, em 1985, e logo se viu cantando em bares com a também iniciante Cássia Eller. Já era calmo. Chegou a São Paulo em 1992, e durante dez anos foi o Cascão da Turma da Mônica, aliando sua experiência com música e teatro. Paralelamente foi se enturmando. Estava presente na gravação de Aos Vivos, disco de estréia de Chico César, a quem admirava, quando conheceu Tata Fernandes, então parceira do paraibano, que se tornou uma espécie de fada madrinha de Rubi – physique du rôle ela tem, diga-se de passagem. Foi por meio dela que conheceu Gero Camilo e Ceumar, por exemplo.

Com a cantora mineira fez uma temporada de um mês em Hong Kong, e o lançamento do livro do ator cearense A Macaúba da Terra marcou a estréia do grupo Canto de Cozinha e Canções de Invento, formado por Rubi, Tata e mais tarde Ceumar e Kléber Albuquerque, autor de várias das músicas gravadas pelo brasiliense.

Ex-seminarista, bacharel em artes cênicas, Cascão, intérprete, compositor, violonista, Rubi ainda encontra tempo para participar de uma peça infantil, Sapecado, como integrante da Banda Mirim (Tata, Lelena Anhaia, Nina Blauth, Claudia Missura, Olívio Filho, Nô Stopa, Edu Mantovani, Simone Julian e Foquinha), e se exercitar como crooner na Banda Glória, de Fred Mazzucchelli. Mas tudo com muita, muita calma.


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