A convite do professor de História Gonçalo de Andrés Fernandez e dos alunos da 7ª e da 8ª séries estive na manhã chuvosa desta terça-feira batendo um papo com a turma que faz o jornalzinho da Escola Municipal Maria Antonieta D’Alkimin Basto, na Vila Olímpia.
Em tempos de predominância do audiovisual e das novas mídias eletrônicas é uma boa surpresa para este velho repórter voltar a uma escola e encontrar adolescentes que ainda se dedicam a escrever para um jornal impresso, que batizaram de “At!tude” – assim mesmo, com ponto de exclamação no meio. Embora de periodicidade irregular, o boletim já está em seu quarto ano e não falta gente para preparar o próximo número.
São apenas oito páginas bem ilustradas em formato de papel ofício, mas dá para ter uma boa idéia das atividades dos alunos e do que eles pensam da vida. Na nossa conversa, que durou o tempo certo de um jogo de futebol e só parou quando tocou a campainha anunciando o almoço, deu para perceber pelas perguntas que existe muita curiosidade da moçada em saber como é a profissão de jornalista e como funciona (ou não) a nossa imprensa.
“Qual o papel de um jornal?”, perguntam os alunos na primeira página do boletim da escola, e eles mesmos respondem: “Entre muitas outras coisas, defender ideias que podem ajudar a transformar o mundo”.
Podemos até não conseguir, procurei mostrar a eles. Mas, apesar de tudo, este sonho ainda move boa parte dos que escolheram a nossa profissão, sempre tão criticada, e ainda capaz de despertar muito fascínio nos jovens.
“Sabemos que nosso desafio é grande – afinal, nunca se imprimiu tanto. E nunca se aproveitou tão pouco. Devoram-se toneladas de papel impresso em todas as línguas, mas a porcentagem de coisas de qualidade é quase nada, na maioria publicações fajutas”, escreveram eles no editorial da edição de setembro, mostrando que sabem onde estão pisando, mas nem por isso desanimam: “Não devemos nos esquecer, contudo, que um aluno que se dedica à elaboração de uma matéria jornalística pode escrever melhor e se tornar melhor leitor.”
Tudo é assunto: a visita a uma aldeia índígena, em Parelheiros, na zona sul da cidade; o filme “As melhores coisas do mundo”, que eles assistiram em sessão especial no Espaço Unibanco, aproveitando para entrevistar a diretora, Laís Bodanzky; a palestra sobre sexualidade dada pela psicóloga Viviane Hercowitz, da Fundação Tide Setubal; a história de uma aluna de 65 anos que voltou às aulas no curso noturno do Alkimin e a do casal que se conheceu ali naqueles mesmos bancos escolares onde hoje estuda seu filho, o Dia dos Pais
Já em casa, ao dar uma passada d’olhos no jornalzinho que me deram para levar, encontrei o pequeno poema “Meu pai”, escrito pela menina J., da 7ª série, que transcrevo abaixo:
Para mim meu pai é como algo
Sem importância, ele é simplesmente
Uma folha seca que eu aturo
Duas vezes ao ano.
Eu me sinto alguém vazia
Quando estou com ele, algo sem vida.
Então, para mim, ele não é um parente,
Ele é somente uma pessoa.
Para conhecer a realidade desta menina, da cidade e do país em que vivemos, é preciso conversar mais com estes jovens e seus dedicados professores, saber o que eles pensam e sentem, em vez de ficar só repetindo que o nosso ensino é ruim. Claro que pode sempre melhorar, mas fiquei muito bem impressionado com a paisagem humana que encontrei nesta escola pública.
Ao me convidar para este encontro com seus alunos, o professor Gonçalo me explicou que a maioria não mora perto da escola. Seus pais trabalham por ali e deixam as crianças antes de entrar no serviço. Alguns alunos moram no Grajaú, em Taboão da Serra, bairros bem distantes, e acordam muito cedo para ir à escola, que tem mais de 800 alunos. As aulas começam às sete da manhã. Pelo que vi, vale o sacrifício. Eu, pelo menos, ganhei o dia.
Em tempo:
Recebi agora uma boa notícia: o blog do programa “Papo de Mãe” (TV Brasil, aos domingos, 19 horas) foi classificado entre os três finalistas na categoria Comunicação do prêmio Top Blog 2010. O vencedor será conhecido no dia 18 de dezembro. A equipe do blog me pediu para agradecer aos leitores do Balaio que votaram no “Papo de Mãe”.
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