De volta às origens

Foi em um casarão no número 408 da Rua Venâncio Aires, no bairro da Pompeia, em São Paulo, que o músico Arnaldo Dias Baptista cresceu e fundou – ao lado do irmão Sérgio e da ex-namorada Rita Lee – a banda que mudaria os rumos da música brasileira. Quase cinco décadas após a criação de Os Mutantes, ele volta ao seu bairro de origem para duas apresentações do show solo Sarau o Benedito?, no teatro do SESC Pompeia.

“Vai ser uma coisa histórica para mim. Vou ter lembranças do bairro onde passeava com o cachorro, onde conheci meus amigos antigos”, diz ele, em entrevista à Brasileiros. Depois de ter sua história contada no documentário Lóki (2008), de Paulo Henrique Fontenelle, e realizado sua primeira exposição como artista plástico (Lentes Magnéticas, neste ano), o ex-mutante prepara agora o lançamento de seu álbum Esphera.

“Tenho oito ou nove músicas gravadas, estamos em fase de acabamento do CD. Já pintei a capa e tenho a impressão de que o disco será lançado em breve, mas não sei exatamente quando”, afirma Arnaldo, que promete tocar três novas canções nos shows, além de clássicos dos Mutantes e de sua carreira solo. Inusitados covers também devem aparecer no set do artista. “Eu me baseei no improviso. Posso ir desde Tico Tico no Fubá até Concerto de Brandenburgo. É difícil prever, mas do jeito que me sentir vou fazer.”

Beatles e Elton John também podem aparecer no repertório do músico, que neste ano voltou aos palcos em apresentações apenas ao piano. A predileção pelo formato surgiu depois de sua insatisfação em não encontrar os famigerados amplificadores valvulados, tema das entrevistas que concede. “É por isso que parei de tocar bateria, contrabaixo, órgão. Não me sinto bem com esses amplificadores digitais.”

Questionado se há alguma chance de voltar aos Mutantes, banda que continua em atividade com o irmão Sérgio Dias Baptista, guitarrista, e uma formação totalmente nova, Arnaldo é cético. Para ele, o tempo com o grupo – que em 2006 realizou uma volta aos palcos com Arnaldo, Sérgio e Zélia Duncan no lugar de Rita Lee (que recusou o convite) – acabou.

Com certa mágoa, Arnaldo também revela não manter contato frequente com Sérgio. “Eu o convidei para ir lá em casa e ele não foi nenhuma vez. Ele está muito distante, não tenho mais nada em vista com os Mutantes.”

Depois de passar por cidades como Porto Alegre, Santos e Sorocaba, e de apresentar o clássico álbum Lóki, no Theatro Municipal de São Paulo – durante a 8a Virada Cultural, em maio – Arnaldo se empolga em retornar a Pompeia, onde surgiram outras bandas históricas do rock brasileiro, como Made in Brazil e Tutti Frutti.

Para ele, é a chance de revisitar o passado e apresentar seu presente. “Acho que vai ser uma espécie de retorno às origens. Vou poder tocar coisas que tocava naquela época, com conjuntos da época, e vou tentar improvisar da maneira possível com o equipamento que terei.”

Sarau o Benedito?                                                             


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