Debate X futebol: uma noite tensa

Durante todo o dia, me perguntaram se iria assistir ao jogo decisivo entre o meu São Paulo e o Internacional pela Libertadores ou ao primeiro debate dos presidenciáveis na TV, marcados para o mesmo horário na noite de quinta-feira. Claro que minha escolha foi ver o futebol, minha grande paixão desde moleque, embora meu time não inspirasse nenhuma confiança.

Como minha mulher preferiu ver o debate, a toda hora um informava o outro sobre o que estava acontecendo e nós pudemos acompanhar os dois grandes eventos de uma noite tensa no gramado do Morumbi e nos estúdios da TV Bandeirantes. Vez ou outra, dava uma espiada no debate para ver a cara dos candidatos, mas não me animei a trocar de canal.

Assim como o São Paulo, que perdeu o primeiro jogo em Porto Alegre por 1 a 0, o candidato José Serra entrou em campo precisando reverter a desvantagem apontada em três das quatro pesquisas divulgadas nas últimas duas semanas. No mesmo dia, a mais recente, do Instituto Sensus, dava Dima dez pontos à frente (41 a 31), a maior diferença já apontada pelas pesquisas.

O São Paulo foi logo ao ataque e conseguiu marcar um gol aos 30 minutos, deixando tudo igual, mas Serra evitou bolas divididas e temas polêmicos, enquanto Dilma e o Inter procuravam tocar a bola no meio de campo.

Havia uma razão para isso: o São Paulo jogava o tudo ou nada em 90 minutos e, para Serra, era apenas o primeiro dos cinco debates já programados.

Pelo que minha mullher me falou, o pouco que vi no final, depois que o jogo acabou, e li agora de manhã nos jornais e portais, não houve grandes momentos de emoção no debate, que transcorreu burocraticamente, com os dois principais candidatos jogando na retranca.

Quem leu o noticiário da véspera sobre os preparativos dos candidatos e o de hoje com um resumo do que aconteceu no debate, chega à conclusão que Serra e Dilma fizeram exatamente o que seus técnicos, quer dizer, os marqueteiros lhes recomendaram para este primeiro confronto. Ninguém ganhou. Deu zero a zero, o que foi um bom resultado para Dilma.

No Morumbi, o São Paulo levou o gol de empate logo no começo do segundo tempo, fez 2 a 1 em seguida, mas até o final não conseguiu fazer pelo menos mais um para levar o jogo aos penaltis. Melhor assim: como já escrevi aqui outro dia, com esse time, com esse técnico e com essa diretoria, o Tricolor foi até longe demais na Libertadores.

Acabou a supremacia do São Paulo entre os grandes times do futebol brasileiro e já passou da hora de reformular tudo no Morumbi. Já que não dá para trocar a diretoria, que pelo menos se contrate logo um novo técnico e mande embora meia dúzia de jogadores cansados para abrir vaga às jovens revelações das equipes de base do Morumbi.

Até o final do ano, não resta muito o que esperar, a não ser escapar do rebaixamento. O Internacional e o Santos, que na véspera conquistou o inédito título da Copa do Brasil, são os grandes times brasileiros do momento e devem disputar pau a pau o Brasileirão, restando ao São Paulo o papel de figurante, mais ou menos como aconteceu com Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio no debate.

Já no caso de José Serra, que só mantém o jogo equilibrado no Datafolha, fica mais difícil saber o que é possível fazer para mudar o cenário que, neste momento, lhe é bastante desfavorável. Mudar de marqueteiro não resolve e não há mais como mudar o time.

Se partir para o ataque contra Dilma, Lula e o PT, pode ficar vulnerável na defesa, assustar a torcida e perder mais pontos nas próximas pesquisas; se ficar na retranca, corre o risco de ver a eleição sendo decidida já no primeiro turno.

A não ser que nos próximos debates ou nos programas eleitorais no rádio e na TV, que começam a ir ao ar no próximo dia 17, surja algum fato novo fantástico capaz de virar o jogo, a atual tendência é a consolidação das curvas das pesquisas, com a “boca do jacaré” se abrindo a favor de Dilma.

Acontece que as pesquisas e as enquetes feitas após os debates, qualquer que seja o rendimento dos candidatos, mostram que historicamente o eleitor costuma dar a vitória ao nome que já escolheu, como se pode ver pelos resultados da votação no iG. Até as 10h50 desta manhã de sexta-feira, 42% dos leitores/eleitores do portal apontavam a vitória de Dilma no debate e 29% votaram em Serra, quase os mesmos índices divulgados pelo Sensus.

A única certeza que fica, além do São Paulo ter dançado na Libertadores, a julgar pelos índices do Ibope, é que o futebol ainda rende muito mais audiência do que a política: deu 31% para a Globo, que transmitiu o jogo, e 3% para a Bandeirantes, a promotora do debate.

Esta campanha eleitoral de 2010 está demorando a empolgar a torcida. Faltam apenas 58 dias para irmos às urnas.

Em tempo: leitores me chamaram a atenção para dois erros no texto acima:

1. Se o São Paulo tivesse marcado mais um gol, não haveria disputa de penaltis. O time estaria classificado para a final da Libertadores no lugar do Inter.

2. Ao constatar que o Inter e o Santos são neste momento, para o meu gosto, os melhores times do futebol brasileiro e deverão disputar o título do Brasileirão, esqueci de incluir entre os favoritos Fluminense e Corinthians, que até aqui vêm se revezando na liderança do campeonato.


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