Deboche e anarquia na tela

Foto Flavio Gusmão/Divulgação
Foto Flavio Gusmão/Divulgação

A partir deste fim de semana, cinemas de sete capitais brasileiras passam a exibir um dos filmes brasileiros mais premiados e comentados de 2013. Produção pernambucana, “Tatuagem” marca a estreia na direção de Hilton Lacerda, com o talentoso Irandhir Santos no papel principal. O longa venceu o Festival de Gramado como melhor filme. Também levou estatuetas nos eventos de Brasília e Festival do Rio. Santos interpreta Clécio, líder do grupo de teatro Chão de Estrelas, que movimentou a periferia recifense na década de 1970. Numa época de repressão e preconceito, ele se relaciona com o jovem soldado Fininha (Jesuíta Barbosa). A trama se baseou livremente na história do coletivo Vivencial Diversiones, que se destacou no underground pernambucano a partir de 1978, quando a ditadura militar dava sinais claros de estagnação e caminhava para seu melancólico fim.

Se é novo na direção, Lacerda tem uma longa e bem sucedida trajetória como roteirista, principalmente dos filmes do diretor Cláudio Assis. São dele as histórias que ganharam a tela como “O Baile Perfumado” (1997), “Amarelo Manga” (2003) e “A Febre do Rato” (2011). E ele se sai muito bem, com uma história que pode incomodar os moralistas por contar com grande intimidade – o que não significa sexo explícito – a relação entre um ator veterano e um jovem recruta do exército. São cenas bem delicadas e, ao mesmo tempo, sem ser caricatas de uma relação gay masculina. Como no momento em que os dois dançam na privacidade do quarto. Segundo o diretor, em coletiva durante o lançamento do filme, “Tatuagem é um longa que não faz concessões, mas acho que ele envolve quem assiste”.

Sem esconder seu caráter político de tratar as mazelas políticas e morais do país na época, a trama se passa em 1978, em um cabaré no Recife, onde Clécio se apaixona pelo jovem soldado Fininha. Este se vê num dilema maior do que eventuais triângulos amorosos: participar da repressão a subversivos como Clécio ou abandonar o exército e, por extensão, “seu país”. O resultado é um filme sem mensagens diretas e didáticas, porém como elementos mais libertários que provocadores. Muita coisa funciona, como o ótimo elenco, em interpretações marcantes, mesmo no caso dos papéis não tão relevantes. Como Rodrigo Garcia, que interpreta Paulette, cunhado do protagonista.


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