O jogador brasileiro nascido em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e naturalizado português Anderson Luis de Souza, ídolo da seleção de Portugal e atual meia do time inglês Chelsea, abriu as portas de sua casa no bairro londrino de Fulham para um papo descontraído com a Brasileiros. Vestindo jeans e camiseta, após sua sessão diária de fisioterapia para recuperar uma lesão no quadril, Deco – como é internacionalmente conhecido – contou passagens marcantes de sua vida e carreira, como a vinda para Europa quando ainda era um menino de 17 anos e desconhecido da grande maioria dos torcedores brasileiros, embora tenha saído do Corinthians, onde jogou no time profissional por apenas duas partidas.

Com 31 anos, sua voz mansa e suave revela que, por trás de um jogador considerado “explosivo” em campo, é uma pessoa tranquila, simples e, assim como fez recentemente Ronaldo Fenômeno, hoje a maior alegria da torcida corintiana, e Adriano, artilheiro do Flamengo, deseja sair da Europa e voltar para o seu país de origem. O tempo vivido no continente europeu, a conquista da nacionalidade portuguesa, sua passagem vitoriosa pelo time do FC Porto, as participações marcantes na seleção lusa e a ida para equipes da Espanha e da Inglaterra. Nada disso foi suficiente para Deco esquecer sua terra natal. Com os olhos mareados, o craque admite sentir muita saudade da família e de amigos que conviveu na infância, passada em Indaiatuba, onde cresceu e participou das primeiras peladas de futebol. Não é à toa que essa pequena cidade do interior de São Paulo foi escolhida para abrigar o Instituto Deco 20, que atende crianças carentes com programas socioeducativos e esportivos, um local onde o jogador faz questão de estar quando visita o Brasil e palco do seu terceiro casamento, celebrado discretamente em 28 de junho.
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O jogador brasileiro nascido em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e naturalizado português Anderson Luis de Souza, ídolo da seleção de Portugal e atual meia do time inglês Chelsea, abriu as portas de sua casa no bairro londrino de Fulham para um papo descontraído com a Brasileiros. Vestindo jeans e camiseta, após sua sessão diária de fisioterapia para recuperar uma lesão no quadril, Deco – como é internacionalmente conhecido – contou passagens marcantes de sua vida e carreira, como a vinda para Europa quando ainda era um menino de 17 anos e desconhecido da grande maioria dos torcedores brasileiros, embora tenha saído do Corinthians, onde jogou no time profissional por apenas duas partidas. Com 31 anos, sua voz mansa e suave revela que, por trás de um jogador considerado “explosivo” em campo, é uma pessoa tranquila, simples e, assim como fez recentemente Ronaldo Fenômeno, hoje a maior alegria da torcida corintiana, e Adriano, artilheiro do Flamengo, deseja sair da Europa e voltar para o seu país de origem. O tempo vivido no continente europeu, a conquista da nacionalidade portuguesa, sua passagem vitoriosa pelo time do FC Porto, as participações marcantes na seleção lusa e a ida para equipes da Espanha e da Inglaterra. Nada disso foi suficiente para Deco esquecer sua terra natal. Com os olhos mareados, o craque admite sentir muita saudade da família e de amigos que conviveu na infância, passada em Indaiatuba, onde cresceu e participou das primeiras peladas de futebol. Não é à toa que essa pequena cidade do interior de São Paulo foi escolhida para abrigar o Instituto Deco 20, que atende crianças carentes com programas socioeducativos e esportivos, um local onde o jogador faz questão de estar quando visita o Brasil e palco do seu terceiro casamento, celebrado discretamente em 28 de junho.

Brasileiros – De onde vem o apelido Deco?
Deco – Na realidade, eu nem sei exatamente. Um tio meu começou a me chamar assim porque minha mãe não gostava. Eu era bem pequeno, tinha meses, era um apelido para irritar a minha mãe e acabou ficando.

Brasileiros – Por que você tomou a decisão de sair do Brasil e morar na Europa?
Deco – Tinha 17 anos quando vim para a Europa. Estava no Corinthians (seu time de coração). Na época, a empresa que era dona do meu passe veio com essa proposta de me trazer para Portugal. Eu até não queria muito, achava que era ainda muito novo. Mas eles pressionaram e acabei vindo. O primeiro ano, logo que cheguei, foi complicado, mas depois fui me adaptando.

Brasileiros – Qual foi o seu maior obstáculo quando veio morar em Portugal?
Deco – O fato de eu ser muito novo. Vim sozinho, sem meus pais, pois meu pai tinha de trabalhar também. Passei por dificuldades de adaptação.

Brasileiros – Você passou por alguma situação engraçada de imigrante chegando num país novo?
Deco – Foram várias, a primeira logo que cheguei a Portugal, quando achava que ia para um grande clube de lá e acabei indo para outro, de pouca expressão. Era minha primeira viagem para fora do Brasil. Esperava jogar no Benfica, o mesmo clube para onde na época estava indo um jogador que já era bastante conhecido no Brasil, o Paulo Nunes. Eu e um amigo, também jogador, viajamos juntos no mesmo voo do Paulo Nunes, considerado a contratação do ano em Portugal. Quando a gente chegou, estava toda a imprensa esperando no aeroporto, fãs e tudo mais. Mas era para esperar o Paulo Nunes. Durante o trajeto para o nosso novo clube, que pensávamos ser o Benfica, comecei a ver placas na estrada e não acreditava! A gente achava que ia para o Benfica e no final não foi nada disso, era no Alverca, clube da segunda divisão, fora de Lisboa, que jogaríamos. Na época foi complicado, mas agora é um episódio engraçado de lembrar.

Brasileiros – O que você mais sente falta do tempo que morou em Portugal?
Deco – Já faz cinco anos que saí de lá. Cheguei a ficar um ano em Alverca, mas tenho saudades mesmo da época do Porto. Morei sete anos lá, sendo que seis anos e meio joguei pelo Porto e os outros seis meses num time pequeno chamado Salgueiro. Fiz muitos amigos no Porto, que visito ainda hoje. Sempre gostei de sair para comer e lá há restaurantes bem pequenos, de amigos mesmo, que nem turistas chegam. Foi um tempo muito feliz jogando no Porto, pois o clube tem um jeito diferente de tratar a gente. Os jogadores que passaram por lá se tornam membros de uma grande família. A relação com a diretoria… O próprio presidente está lá há 30 anos. Essa amizade é muito difícil ter nos clubes grandes. Fui muito feliz e só saí do Porto porque queria conquistar outras coisas, alcançar outros objetivos.

Brasileiros – Foi em Portugal que você realmente conseguiu brilhar como profissional. Primeiro no Benfica, depois Porto.
Deco – Eu saí do Brasil muito cedo e, normalmente, com 17 anos os jogadores estão começando. A maioria dos jogadores faz sucesso no Brasil e depois vem para a Europa. Fiz o contrário. Vim desconhecido e acabei tendo sucesso, sendo reconhecido no Brasil pelo que fiz na Europa. Desde os primeiros anos no Porto, já comecei a me destacar. Tive várias propostas de outros times grandes, mas nunca quis sair do Porto sem ter feito alguma coisa importante, sem ter conquistado algo para o clube. O Porto é um time grande em Portugal, mas na Europa é considerado uma equipe de médio porte, sem muito poder financeiro, o que impede a contratação de jogadores famosos. Mesmo assim conseguimos vencer uma Liga dos Campeões (o mais importante campeonato europeu de clubes).

Brasileiros – Quando você ainda estava no Porto, vários clubes da Itália e Inglaterra queriam comprar seu passe, mas sua opção foi pelo Barcelona. Por que escolheu o time espanhol?
Deco – Na verdade, o Barcelona sempre foi o time que eu quis jogar, meu time dos sonhos, que desde pequeno eu assistia aos jogos. Até deixei de aceitar outras propostas, pois esperava que o Barça me chamasse, como ocorreu. Fui realizar o meu sonho, jogando no clube que eu queria. Conquistar tantos títulos e vitórias foi realmente fantástico.

Brasileiros – No ano passado, o Brasil venceu a seleção portuguesa num amistoso. Como é jogar contra o Brasil para você?
Deco – Nós já havíamos jogado outras duas vezes e Portugal havia ganhado. Os dois jogos foram amistosos, nunca houve jogo oficial. Nesse último, perdemos de 6 a 2. Como das outras vezes que joguei contra o Brasil, a sensação sempre é um pouco estranha. Desta vez, jogando no Brasil, foi ainda mais estranho. É o país onde nasci e cresci, onde está a minha família e amigos, aonde vou sempre e desenvolvo vários projetos. Mas, por outro lado, Portugal é o país onde eu conquistei tudo, que me acolheu e que serei eternamente grato. Óbvio que quando começa a partida você acaba se esquecendo um pouco disso, mas é difícil ignorar essa situação por se tratar do Brasil. Foram jogos muito especiais para mim.

Brasileiros – Qual a relação entre você e os jogadores brasileiros que atuam na Europa, como o Ronaldinho Gaúcho, que foi seu companheiro de equipe?
Deco – Nós somos amigos. Eu e o Gaúcho jogamos quatro anos juntos. Até hoje nos falamos, tenho um carinho muito grande por ele. Já joguei com muitos outros brasileiros, como Beletti, Delei, Carlos Alberto e Jardel. Todos são meus amigos. É normal também a gente acabar se relacionando mais quando estamos num clube no exterior.

Brasileiros – Para um atleta, como se processa a dicotomia de defender a seleção do país que te acolheu e não a pátria?
Deco – Desde os primeiros anos em Portugal já me pediam para jogar, inclusive o presidente da federação. Algum tempo depois houve uma campanha muito grande das pessoas, dos jornais, para que eu jogasse pela seleção portuguesa. E foi isso que acabou me comovendo para tomar essa decisão (incentivada pelo então técnico de Portugal, Luiz Felipe Scolari, que o convocou em 2003 logo após a sua naturalização). Não foi fácil decidir, pois o sonho de jogar pela seleção brasileira continuava existindo. Mas minha vida tomou rumos diferentes daqueles que eu imaginava. Vim para um país onde me sentia em casa, feliz, e as pessoas pediam para eu defender a seleção deles. Eu não deixei de ser brasileiro por me naturalizar português. É algo normal, tanta gente tem uma segunda nacionalidade no Brasil. Para mim foi ótimo, muita gente em Portugal me apoiou, mas, no final, foi uma decisão pessoal, que eu mesmo tive de tomar.

Brasileiros – Essa é a sua primeira temporada na Inglaterra. O que foi mais difícil para se adaptar aqui: língua, comida, clima…?
Deco – Considero o clima mais complicado. Em Portugal e na Espanha não tive esse problema. Aqui o inverno é bastante difícil. Mas o que mais está me afetando este ano são as minhas lesões. Neste momento, minha maior preocupação é conseguir me recuperar fisicamente e me preparar para a próxima temporada. Tive três vezes um problema na parte posterior da perna esquerda e, mais recentemente, uma lesão no quadril. Nada muito grave, porém me fez parar de jogar por 20 dias, depois mais um mês… É uma etapa difícil em minha carreira que, infelizmente, coincidiu com a vinda para o Chelsea. Mas pretendo me recuperar para a próxima temporada. Esse é o meu principal objetivo: voltar a jogar sem problemas. Tenho mais dois anos de contrato aqui.

Brasileiros – A sua posição de meio-campista é bastante concorrida no Chelsea, clube que também tem à disposição jogadores como Ballack, Lampard e Essien. Você avalia que em outra equipe talvez conseguisse jogar mais vezes?
Deco – Apesar da competição entre jogadores, sempre fui escolhido pelo técnico para jogar no time titular, ou seja, essa concorrência nunca foi um problema para mim. No Barcelona também havia essa disputa e sempre estava jogando. O que me prejudicou foram as lesões que me colocaram fora de campo. Joguei muitas vezes com dor.

Brasileiros – Apesar de ter mais dois anos de contrato com o Chelsea, você já comentou que desejaria voltar a jogar no Brasil, talvez até no Corinthians. São esses seus planos para futuro?
Deco – Acredito que ficarei na Europa nesse período que cobre meu contrato, o que dificulta voltar antes de 2012. O que eu posso dizer é que só voltaria para o Brasil se pudesse continuar jogando bem, não só jogar para acabar a carreira lá. Gostaria de estar em condições físicas para conquistar algo importante no Brasil. Se eu me sentir assim, com certeza volto ao Brasil. E uma opção poderia ser o Corinthians. Então, caso esses fatores estejam em harmonia e o Corinthians estiver com um projeto sério, seria ideal jogar pelo time. Mas não penso nisso agora. É apenas uma vontade, um desejo.

Brasileiros – Com qual idade você pensa em parar de jogar?
Deco – Pretendo continuar jogando até quando me sentir bem, pois quero deixar o futebol com essa imagem boa que construí durante minha carreira, sem ter de me arrastar em campo e não me sentir mais em condições de jogar. Quando não tiver mais condições físicas, penduro as chuteiras.

Brasileiros – Você acha que vai sentir falta da Inglaterra?
Deco – Em todo lugar que você vai, sempre tem muita coisa para aprender. A Inglaterra é um país excelente, Londres é uma cidade fantástica. Para nós é uma cultura diferente, que devemos aproveitar. Acho que a organização deles é impressionante. Um reflexo disso é o sucesso dos times ingleses nos campeonatos europeus. A maneira de trabalhar, os métodos bem mais precisos. Eu acho que devemos tentar incorporar ao máximo essa qualidade dos ingleses.

Brasileiros – A seleção portuguesa está enfrentando problemas para a classificação para Copa do Mundo de 2010. Os portugueses e jogadores estão sentindo a falta do Felipão no comando do time?
Deco – O Felipão deixou uma história muito positiva na seleção. Ele conseguiu fazer com que Portugal alcançasse bons resultados formando uma seleção forte. Mas a saída dele coincidiu também com a chegada de novos jogadores, uma nova geração. Por si só, essa mudança no time já é difícil e, é claro, fica aquela lembrança boa do Felipão. Mas não acho que esse seja o motivo das dificuldades da seleção. Acho que o treinador atual, Carlo Queiroz, é muito bom. Trabalhar com uma seleção tem suas dificuldades, pois é comum que com apenas quatro dias de treino já tenhamos de jogar e, quando entram jogadores novos, ainda não adaptados ao ritmo do time, os resultados acabam não sendo dos melhores. A classificação não está sendo fácil (a seleção portuguesa está em terceiro lugar em seu grupo, ao lado da Suécia e atrás da Dinamarca e Hungria), ainda temos quatro jogos (a próxima partida está marcada para 5 de setembro, contra a Dinamarca, a líder da chave) e, praticamente, temos de ganhar todos, o que não é impossível. Acredito que, com a qualidade e a vontade de todos os jogadores, vamos alcançar a classificação.

Brasileiros – Em sua opinião, o que não deu certo para o Felipão no Chelsea?
Deco – Não diria que não deu certo. O Chelsea é um clube um pouco especial, não tão tradicional quanto os outros times ingleses, onde o treinador tem mais tempo para trabalhar, onde é possível desenvolver um trabalho independente dos resultados. No Chelsea, a diretoria é obcecada pela Liga dos Campeões e tem um dono (o magnata russo Roman Abramovich) que sempre investe pesado para ganhar o torneio. Já gastaram muito dinheiro e até hoje ainda não conseguiram o título. Como o time não estava indo muito bem, com perigo de não passar nas fases iniciais, havia uma pressão muito grande, maior ainda sobre o técnico. Além disso, boatos sobre o mau relacionamento entre o Felipão e alguns jogadores, coisa que nunca vi, acabaram criando uma situação desconfortável para o técnico. Mas acho que a decisão para a saída de Felipão mesmo foi em função dos resultados. Diferentemente do que ocorre em outros times da Inglaterra, o Chelsea, pressionado pelos resultados, acabou tomando a decisão de mudar de treinador.

Brasileiros – Você sente essa pressão como jogador do Chelsea?
Deco – Para quem jogou no Barcelona, acho que é algo semelhante, ou até a pressão na Espanha é ainda maior. Lá tem uma pressão diária da imprensa, pois existem três jornais que só falam do Barcelona, televisões e dezenas de programas de rádio. É uma cidade que vive o clube, tudo que acontece no time, as conversas, são sobre o time, os jogadores… Em Londres, o Chelsea não é o único time. Não existe aqui uma imprensa só de esportes como existe na Espanha. Então, acho que a pressão sobre os jogadores é maior na Espanha. A pressão no Chelsea é mais interna mesmo, da diretoria e do dono da equipe, que tem esse grande desejo de conquistar a Liga dos Campões.

Brasileiros – Qual jogador você mais admira no futebol mundial?
Deco – Quando era pequeno, era fã de alguns, admirava e queria ser igual a eles. O jogador que mais me marcou, e até hoje somos amigos, foi o Djalminha. Tinha 14 anos e ia vê-lo jogar no Palmeiras, mesmo sendo corintiano. Acabei jogando contra ele várias vezes quando eu estava no Porto. Ele foi o jogador que me inspirou e eu adorava vê-lo jogar. Hoje em dia, quem eu gosto de ver é o Messi (atacante do Barcelona), que é fantástico. Acho que depois do Gaúcho, foi o jogador que mais me deu prazer jogar junto, é bonito de assistir.

Brasileiros – E técnicos?
Deco – Têm vários. Com alguns aprendi mais, como o português Fernando Santos, técnico que tive no Porto. Mas tive a sorte de ter trabalhado com dois dos maiores treinadores do mundo, o Felipão e o José Mourinho (também português). Cada um em seu estilo, mas ambos uma experiência ótima. Continuo admirando o trabalho deles.

Brasileiros – O que você pensa sobre essas últimas contratações milionárias que os times europeus têm feito, como é caso do Real Madrid, que trouxe recentemente para o clube Kaká e Cristiano Ronaldo, duas das maiores estrelas do futebol mundial?
Deco – Eu acho que faz parte do desenvolvimento do próprio esporte. Cada vez tem mais dinheiro no futebol. Daí, os jogadores acabam valendo aquilo que os times têm para investir. Jogadores que têm contratos assinados por muitos anos, importantes como Kaká e Cristiano Ronaldo, garantem o retorno do investimento e, por isso, acabam sendo comprados por esses valores.

Brasileiros – Há anos fora do Brasil, como você lida com a distância e a saudade da família e amigos?
Deco – Tenho vontade de voltar para o Brasil por duas razões. A primeira é realmente a família e os amigos que tenho. Mesmo depois de tanto tempo longe, lá é o local onde me sinto em casa, não me sinto estranho. E isso é difícil, pois eu já morei em vários lugares e nem sempre conseguimos nos sentir bem no local onde moramos. No Porto, consigo me sentir em casa também, mas não é como no Brasil. Apesar de já estar tanto tempo fora, entre todos os países pelos quais já passei e as cidades onde já vivi, o Brasil é onde está minha família e amigos mais próximos. Parece lógico que, quanto mais tempo fora, mais adaptado você está em morar fora, mas nem sempre é assim. Eu continuo sentindo saudades.

Brasileiros – No final do ano passado, você inaugurou o Instituto Deco 20, em Indaiatuba, interior de São Paulo. De onde surgiu a ideia de montar um instituto para ajudar na formação de crianças?
Deco – Desde que comecei a ter mais recursos, sempre tive essa vontade de retribuir de alguma forma ajudando outras pessoas. Eu vinha ajudando algumas instituições que realizavam trabalhos fantásticos com crianças de baixa renda. No Brasil, infelizmente, o horário escolar é complicado, só de manhã ou só durante a tarde. Então, essas entidades auxiliavam para deixar as crianças mais ocupadas, com reforços e outros cursos, principalmente em bairros onde há tráfico de droga. Mas nem sempre eles conseguiam continuar o trabalho e tinham ainda certas dificuldades em manter as crianças no programa. Daí, comecei a ajudar contratando professores, procurando mais espaços e foi quando surgiu a ideia de um local maior que abrangesse mais crianças e tivesse outras opções também. Começamos contatando as prefeituras, porém os locais cedidos nunca eram suficientes. Como eu tinha um terreno em Indaiatuba, decidi, com meu pai, construir o Instituto, há cinco anos. Até a ideia avançar, encontrar as pessoas para trabalhar no projeto, levou tempo. Hoje, já estamos funcionando e ajudamos cerca de 300 crianças desenvolvendo um trabalho fantástico com esportes, música, dança, teatro, além do reforço escolar. Era um sonho meu, retribuir o que a vida me deu, e optei por começar pela minha cidade mesmo, no local onde convivo e com muitos problemas sociais. Nossa ideia é trabalhar não só com as crianças, mas ajudar na estrutura das famílias, buscando a participação dos pais. Está sendo fantástico mesmo ver o desenvolvimento dessas crianças! Quando eu estou no Brasil, eu passo muito tempo no Instituto. Gosto de ver o quanto elas aprenderam e estão crescendo. Elas ficam muito alegres quando eu chego também. É muito gostoso, ver a alegria delas é o mais gratificante.

Brasileiros – Poucas semanas atrás você celebrou seu terceiro casamento, em Indaiatuba, com a brasileira Ana Paula Shiavetti (30 anos), que está grávida, certo?
Deco – Sim, é uma menina, vai se chamar Sofia. De outros dois casamentos anteriores tenho mais quatro filhos, o Pedro, o João, a Yasmin e o David Luiz. Eu e a Ana nos conhecemos em Barcelona e estamos juntos há dois anos. No dia 28 de junho, nos casamos numa cerimônia simples, reunindo amigos mais próximos e familiares.

Brasileiros – Para encerrar, uma pergunta que está sempre na última página da nossa revista. Você acredita no Brasil?
Deco – Acredito, óbvio! O Brasil tem demonstrado, nos últimos anos, uma estabilidade que há 15, 20 anos ninguém nem imaginava. Ninguém queria investir no Brasil, o pessoal até queria tirar o dinheiro dos bancos, por insegurança. A inflação era algo assustador, absurdo, os preços mudavam todos os dias. Hoje, as pessoas já podem se programar. Vejo amigos meus com uma situação financeira bem melhor, comprando casa, conseguindo crédito, algo impensável antes. Mas existem outras coisas que o Brasil tem de melhorar. Eu acho que a Educação ainda é muito falha; a boa Educação ainda é pouco acessível. Mas acho que tem muita gente querendo mudar, pessoas querendo fazer realmente algo. Sempre vai ter quem contraria, mas o importante é que nós temos mais gente bem-intencionada, gente com qualidade, com imaginação, que tem ideias novas. O Brasil é um país rico com gente que tem essa capacidade de mudança. Eu acredito, sim.


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