Caríssimos, fui a um belo concerto de música clássica, muito bem executado, por um quarteto que eu não conhecia. Não seria surpreendente não fosse a hora e o local: tarde da noite, no meu querido e sempre bem frequentado Studio SP, em plena Baixa Augusta. Aquele palco, onde recentemente ouvi a divertida banda de Wagner Moura, está acostumado a receber músicos jovens, dos mais variados estilos contemporâneos, mas acho que música erudita foi a primeira vez. Detesto chamá-la assim, pois faz parecer que os outros estilos musicais lhe são inferiores, quando a verdade é que somente mostram outros momentos da história da humanidade. Música é música, a única diferença está em ser bem executada ou não. Poucos jovens conhecem Bach, Mozart ou Beethoven, e acabam tendo deles ideias erradas, mais ligadas a grandes teatros, com escadarias de mármore, cadeiras de veludo, público octogenário e rabugento, etc. Pode até ser assim, via de regra o é, mas, originalmente, esses compositores tinham por público o povão da rua. A música de Bach foi muito bem aproveitada pela igreja em cerimônias religiosas. Mozart, que trabalhava para a realeza, adorava frequentar os prostíbulos e bares de bebida barata de Viena, e compôs muitas peças pensando nos teatros de bancos de madeira e serragem no chão. A plateia de ontem era bem mais jovem do que eu!
Quem promoveu o concerto de ontem foi o Instituto VivaMúsica, que se propõe exatamente a essa belíssima tarefa: difundir a música clássica entre os jovens. Esse circuito de apresentações, intitulado Democlássicos, ainda incluirá apresentações em Cuiabá, João Pessoa, e outras cidades. Bárbaro. O quarteto é formado por Marcus Ribeiro, no violoncelo; Ivan Zandonade, na viola; Felipe Prazeres no violino; e seu irmão, Carlos Prazeres, no oboé. Para mim, a coordenadora do VivaMúsica, Heloísa Fischer, é o quinto elemento, mas ela fica na platéia, séria, competentíssima. Os quatro músicos estão afiados, a química entre eles funciona. Carlos, regente assistente de Issak Karabtchevsky na Orquestra Petrobrás Sinfônica, se torna o apresentador, um verdadeiro showman. Abriram o concerto de ontem com Mozart, passaram por um fundamental Radamés Gnattali, e terminaram com Wagner Tiso. Marcus Ribeiro deu um belo bis com Bach, e os três instrumentos de corda trouxeram um mínimo trecho de Vivaldi, delicioso. Tudo isso em plena Baixa Augusta, com suas casas de Strip-tease, bares cheios de bêbados, calçada suja, enfim, lindo! Mozart, ele mesmo, teria saído direto do palco para a farra. Eu não o fiz, mas só por ser muito tarde da noite. Sigam os links, e assistam às apresentações deles. Vale muito a pena. Abraços do Cavalcanti
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