Deu Chico Buarque novamente

Neste ano, a cerimônia de entrega do Prêmio Portugal Telecom de Literatura foi bastante diferente das edições anteriores. As mudanças muito se deveram à presença de Chico Buarque, na noite de segunda-feira (8), na Casa Fasano, onde aconteceu a festa da 8ª edição de um dos mais prestigiados prêmios de literatura, que encerou a temporada de prêmios literários.
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Temporada iniciada com o prêmio da Associação dos Críticos de São Paulo (APCA), que escolheu como melhor romance de 2009 Rei do Cheiro (Record), do escritor João Silvério Trevisan. Depois, aconteceram os prêmios de literatura de São Paulo, em que o vencedor foi A Minha Alma é Irmã de Deus, de Raimundo Carrero (Record), e o Jabuti, o mais tradicional, que escolheu o livro Leite Derramado como o segundo melhor romance do ano (o primeiro lugar ficou com Se eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre) e o Melhor Livro de Ficção do Ano. Chico Buarque é o recordista do Jabuti, com três prêmios do Melhor Livro de Ficção do Ano, por Estorvo (1992), Budapeste (2004) e Leite Derramado.

O cargo de apresentador do Prêmio Portugal Telecom coube a Jô Soares, que estava com seu sexteto, transformando o palco no Programa do Jô. O apresentador foi logo dizendo: “Só aceitei o convite porque eu ia poder entrevistar o Chico”, já quase anunciando quem seria o primeiro colocado da noite.

Como acontece todos os anos, são escolhidos, por um júri intermediário, dez finalistas para a disputa de primeiro, segundo e terceiro lugares. Os finalistas desta edição eram: A Passagem Tensa dos Corpos, de Carlos de Brito Mello, AvóDezanove e o Segredo do Soviético, de Ondjaki, Lar, de Armando Freitas Filho, Leite Derramado, de Chico Buarque de Hollanda, Monodrama, de Carlito Azevedo, O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho, Olhos Secos, de Bernardo Ajzenberg, Outra Vida, de Rodrigo Lacerda, e Pornopopéia, de Reinaldo Moraes.

Antes de saber quem eram os vencedores, Jô Soares chamou para o palco a mulher de José Saramago, homenageado da noite, Pilar del Rio, e a escritora Nélida Piñon. Foram apresentados trechos do documentário José & Pilar, que está em cartaz em algumas cidades brasileiras. O filme, segundo a Pilar, é um retrato afetivo da relação de mais de 20 anos entre ela o escritor, que morreu este ano, e mostra o dia a dia do casal em alguns lugares do mundo. No final da conversa com elas, Jô Soares pediu para exibir um trecho de uma entrevista que ele fez com o escritor português. Na conversa, Saramago disse preferir o lema “Respeitai uns aos outros”, em vez de “Amai uns aos outros”. O público presente aplaudiu.

Logo depois, foram conhecidos os três melhores livros da noite. Na terceira colocação, o livro de poesia Lar, de Armando Freitas Filho. Outra Vida, de Rodrigo Lacerda, ficou em segundo lugar, e o já esperado vencedor foi Leite Derramado, de Chico Buarque. Depois de conhecidos os eleitos, o apresentador Jô Soares chamou ao palco Chico, visivelmente nervoso. Para quebrar o gelo, Jô foi logo perguntando sobre o Fluminense, time do coração do cantor e escritor e atual líder do Campeonato Brasileiro.

“O último jogo do Fluminense realmente foi difícil, mas o importante é que vencemos”, disse um Chico já mais solto, se lembrando da vitória por 1 a 0 sobre o Vasco. A conversa foi encerrada e, depois das fotos de praxe, logo começou o tumulto. Todos cercaram Chico Buarque, que já estava pronto para fazer o mesmo que fez no prêmio Jabuti, em que saiu com seu editor, Luiz Schwartz, sem falar com ninguém. Mas, não teve jeito e Chico encarou os jornalistas presentes. Conseguimos fazer algumas perguntinhas para ele, antes de ir embora.

Brasileiros – Você acha que merecia o prêmio de melhor livro do Portugal Telecom de Literatura?
Chico Buarque –
Não sei, não. Não li todos os livros. Não posso nem dizer se eu merecia ter vencido. Mas sei que merecia estar entre os três primeiros, talvez.

Brasileiros – No prêmio Jabuti, a cantora Mônica Salmaso estava presente e até realizou um breve show. Você disse, na época do lançamento do livro Leite Derramado, que o personagem principal, Eulálio d’Assumpção, e o enredo da história nasceram depois de ter escutado a sua música, O Velho Francisco, na versão de Salmaso. Você disse que tinha até se esquecido da letra da música…
C.B. –
Antes de responder, gostaria de dizer que eu fiquei sabendo agora que a Mônica Salmaso voltou ao palco naquela noite. Eu pensei que a cerimônia tinha acabado e, por isso, fui embora. Eu não pude vê-la novamente. Foi uma falta de educação da minha parte, ela voltou a se apresentar e eu não estava lá.

Brasileiros – Mas o personagem e o enredo da história nasceram daí?
C.B. –
Um pouco disso. É uma canção que eu tinha esquecido um pouco. E ela regravou de uma forma tão linda que me tocou. Foi um dos motes para começar a escrever o livro.

Brasileiros – Tem engatilhado alguma coisa no campo da literatura?
C.B. –
Não. Agora estou fazendo música. Estou me dedicando à música, somente.

Brasileiros – Seus três romances anteriores foram adaptados para o cinema (Estorvo pelo diretor Ruy Guerra, Benjamin pela diretora Monique Gardenberg, e Budapeste pelo diretor Walter Carvalho). O romance Leite Derramado vai ser adaptado também?
C.B. –
Se está estudando isso. Seria meu quarto filme (a peça A Ópera do Malandro foi transposta para o cinema pelo diretor Ruy Guerra, em 1987). Mas não foi feito para ser um filme. Nenhum romance meu foi feito pensando nisso.

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