Deu pane no cinema nacional

A principal dificuldade do cinema nacional hoje é a colocação dos filmes em salas de exibição. Há alguns anos, fazer um filme era como realizar os 12 trabalhos de Hércules. Mas, nos últimos tempos, depois da Lei Rouanet, o problema foi resolvido em parte. Há ainda muitos diretores desconhecidos ou fora de moda (segundo critérios estéticos atuais, impostos pelo mercado) que não conseguem fazer seu primeiro filme ou continuar suas carreiras de cineastas, independentemente da qualidade dos seus projetos.
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É sabido de todos no meio cinematográfico que muitas empresas, do governo ou não, que já têm seus mailings de cineastas e produtoras preferidos. Enquanto muitos diretores, principalmente os desconhecidos, com bons projetos de cinema, são preteridos nesse mercado viciado. Mas, voltemos ao principal problema, citado acima, do cinema nacional hoje: a chegada das produções às salas de cinema.

Atualmente, o Brasil tem em torno de 2.100 salas de cinema, a maioria em shoppings espalhados por todo o País, segundo dados extraoficiais. Muitas dessas salas pertencem à rede Cinemark, que prefere ceder seu espaço para filmes americanos, os blockbusters. Nas outras salas, são contemplados filmes de outras nacionalidades que fazem sucesso em seus países ou películas nacionais e com “bala na agulha”, ou seja, com a marca Globo Filmes.

Conclusão: mesmo que um diretor consiga fazer seu filme, não há nenhuma garantia de que ele chegue às salas de cinema. Nessa lógica perversa, muitos diretores, para furar o bloqueio de mercado, são compelidos a fazer seus filmes dentro de um padrão estético estabelecido, que os aproximem de uma narrativa de cinema americano ou de cinema feito para TV.

Mas o que tudo isso tem a ver com o Festival de Paulínia e com os filmes exibidos na noite de segunda-feira? Vamos por partes. O curador e diretor do festival, Ivan Melo, desde que começou a curadoria, há três anos, vem optando, como falou antes para o site da Brasileiros, por uma seleção de filmes que dialoguem principalmente com o público brasileiro, e não somente por questões de qualidade estética das produções. Só assim para entender a escolha de filmes, como As Doze Estrelas, de Luiz Alberto Pereira, o Gal, exibido no primeiro dia de competição do festival. O filme foi completamente malhado pelos jornalistas e críticos presentes, mas aparentemente agradou ao público presente, que interagiu com a história. O filme traz um formato e uma narrativa televisiva, obedecendo à imposição do mercado de que falamos acima.

Seguindo a lógica de Ivan Melo, não dá para compreender e nem aceitar a inclusão do filme Dores & Amores, de Ricardo Pinto e Silva. Mesmo que ele procure abarcar, na sua seleção, filmes mais comerciais, como As Doze Estrelas e Desenrola, de Rosane Svartman, o longa de Ricardo é ruim para considerarmos comercial. Assisti-lo foi um exercício torturante, exasperante, melhor dizendo. Não há nem como classificá-lo, pois mistura estética televisiva (há uma novelinha mexicana de última categoria, dentro do filme) com algo esdrúxulo que o diretor arrumou. Uma espécie de tirinhas de jornal para narrar a história de Julia, que, segundo a sinopse do filme, é uma diretora de agência de modelos, inteligente e sensível. Uma história banal, interpretada por atores banais (a melhor coisa do filme é uma atriz que veio de Portugal) e contada de forma banalíssima. Filmes como este comprometem a curadoria de Ivan Melo e o próprio Festival de Paulínia. E deixa, sem necessidade, a equipe do filme, principalmente o diretor, em situação delicada e vexatória, pois ele terá que dar explicações para os jornalistas e críticos presentes.

Mas, nem tudo foi ruim na noite de segunda-feira. Os outros filmes exibidos têm muita qualidade. O excelente documentário Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, forte candidato ao prêmio de melhor documentário do festival, o simpático desenho animado Um Lugar Comum, de Jonas Brandão, que até agora é o melhor curta regional exibido no festival, e o interessante curta 1:21, de Adriana Câmara, com imagens captadas por meio de fotos still.

5º Dia
Nesta terça, serão exibidos o curta regional Depois do Almoço, de Rodrigo Diaz Diaz (é assim mesmo que se escreve, com dois “Diaz”), o documentário Programa Casé, já exibido dentro da mostra competitiva do último festival É Tudo Verdade, o curta nacional Quem Vai Comer Minha Mulher?, de Rodrigo Bittencourt e o filme ficcional Malu de Bicicleta, de Flávio Ramos Tambellini, que encerra a noite.

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