Discretamente, sem ninguém perceber, ele chegou no começo da noite e foi-se ajeitando a um canto com seu violão. As pessoas continuaram conversando e jogando mexe-mexe nas mesas em volta da piscina.
Só quando soltou seu vozeirão e começou a cantar um belíssimo repertório de músicas brasileiras de todo gênero é que o pequeno público presente se deu conta da presença de Di Brasil, nome artístico do mineiro Diógenes Alves Barroso, 43 anos, porte e cara de lutador de boxe peso pesado.
Desde que deixou a pequena Pirapora, onde nasce o rio São Francisco, e veio para Brasília, em 1991, ele ganha a vida cantando em bares e restaurantes, mas ultimamente tem se apresentado mais em festas nas casas de família.
Desta vez, não era uma família qualquer: Di Brasil veio se apresentar na casa dos Silva, que mora faz cinco anos e meio no Palácio da Alvorada e comemorava, nesta noite de sábado, com um churrasco, o aniversário de Marlene, namorada de Sandro, filho de Lula e Marisa.
Num breve intervalo na cantoria para que ele também pudesse jantar, aproveitei para entrevistar este artista brasileiro que vive da música, quase anonimamente, como tantos outros. Virou uma entrevista coletiva…
A começar pelo casal Silva, a família e os poucos amigos convidados sentaram-se à mesa do cantor para saber mais da sua vida. Diógenes nasceu em Buritizeiros, a 360 quilômetros de Belo Horizonte, filho de José, chefe de ferraria da Companhia de Navegação do São Francisco, e de Maria, que tiveram ao todo 18 filhos.
Antes de virar Di Brasil, Diógenes fez de tudo na vida: foi vendedor de peixe, servente de pedreiro, padeiro, cobrador, locutor de carro de som e fez jingles para campanhas políticas em Pirapora.
Em Brasília, conheceu o ministro José Múcio, das Relações Institucionais, também cantor e compositor, que o levou ao Alvorada pela primeira vez, em julho último, para animar a festa dos 34 anos de casamento de Lula e Marisa.
Dono de uma memória prodigiosa, ele atende a qualquer pedido de música no ato. Vai de samba a Roberto Carlos, de antigas músicas caipiras a Chico Buarque. “Não tenho estilo. Eu crio tudo na hora, é coisa do momento”, explica aos entrevistadores.
As mais pedidas nas festas em que se apresenta são dois sucessos do paulista Renato Teixeira: “Tocando em Frente” (parceria com Almir Sater) e “Romaria”.
Enquanto o pessoal se diverte com as histórias que Di Brasil conta, seu prato vai esfriando, e o chope, esquentando. Certa vez, lembra ele, no bar Casa Grande, ainda em Pirapora, já estava indo embora, o bar fechando tarde da noite, quando chegou um fiscal da Receita Federal, que tinha brigado com a mulher.
O dono do bar pediu para Di Brasil pegar de novo seu violão. Para atender o ilustre freguês, ele teve que cantar a mesma música 16 vezes seguidas, mas valeu a pena (era “Ex-amor”, um velho sucesso dor-de-cotovelo de Martinho da Vila).
A cada vez que terminava de cantar, o fiscal colocava-lhe mil dinheiros da época no bolso, e pedia mais uma vez. “Deu para comprar meu primeiro carro, um Passat 1977”, lembra.
Só agora, depois de tantos anos de carreira, Di Brasil criou coragem para gravar seu primeiro CD, que sai no final de setembro, chamado “Canto Pra Viver, Vivo Pra Cantar”. “Minha luta começa agora”, diz ele. Quem estiver interessado, pode pedir pelo e-mail: di_brasil@yahoo.com.br
A festa estava boa, mas o presidente Lula lembrou que já era tarde e, no dia seguinte, todos tinham que se levantar cedo no Alvorada para ir ao desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios.
Antes de partir, Di Brasil ainda atendeu a dois pedidos: cantou “Estrada da Vida” (Milionário e Zé Rico) e “Fio de Cabelo” (Chitãozinho e Xororó), acompanhado pela platéia.
Ninguém falou de política naquela noite, assunto proibido pela anfitriã Marisa nos raros fins de semana de folga do presidente para ficar com a família. Lula só me falou das muitas próximas viagens que ainda vai fazer daqui até o final do ano, pelo Brasil e para o exterior. Fiquei cansado só de ouvir…
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