Ele mudou comportamentos ao redor do mundo, gerou pânico e preconceitos. Identificado no final dos anos 1970, o vírus HIV desperta debates e intriga a comunidade científica desde a sua descoberta. Mesmo sem cura, a doença contou nos últimos anos com a evolução dos remédios antirretrovirais.
A estimativa é que o vírus infectou até então 75 milhões de pessoas. Segundo A UNAIDS – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, em todo o mundo, 35.3 milhões de pessoas vivem com o HIV. No Brasil, aproximadamente 718 mil pessoas vivem com o vírus. Dados lançados recentemente mostram que a juventude é uma das camadas da população cada vez mais impactada pela epidemia.
No dia Mundial de Luta contra a Aids reunimos as descobertas que mais marcaram a busca pela compreensão da doença e os caminhos por uma possível cura.
1. Como surgiu?
Não há consenso entre os cientistas de como o vírus foi transmitido para humanos, tampouco sobre a data das primeiras transmissões. Muitos autores acreditam que a pandemia começa de forma silenciosa a partir de 1920.
O que se sabe é que sua origem está no vírus SIV encontrado no sistema imunológico de duas raças diferentes de macacos, que levaram a formação de dois tipos de HIV, o 1 e o 2. Apesar de o SIV não prejudicar a saúde dos primatas, ele é altamente mutante, o que teria dado início ao HIV. A teoria mais aceita é que a transmissão do vírus aconteceu em tribos da África que caçavam os animais e os domesticavam.
2. Sem controle
O primeiro caso de morte comprovada e provocada pela doença é de um homem que morava em Kinshasa, atual República do Congo. No entanto, isso só foi descoberto décadas depois. Uma série de fatores coincidentes teriam espalhado o vírus ao redor do mundo. Além do crescimento da população, a revolução sexual, o uso de agulhas não esterilizadas em hospitais e o aumento das ferrovias, que ajudaram a promover a movimento de populações.
Em 1985, por complicações decorridas da Aids, morre o ator americano Rock Hudson. É a primeira grande celebridade vítima da doença. Em 1989, Cazuza anuncia publicamente que está com o vírus. Em 1994, a epidemia atinge um milhão de casos no mundo.
3. A fisiologia do vírus
Em termos genéticos, o HIV não é dos vírus mais sofisticados. São nove genes componentes em um vírus com tamanho de 130 nanômetros. Para comparação, nossas células possuem 20 mil genes.
Apesar de sua composição genética, o vírus é altamente mutável e com alta capacidade de se “esconder” no organismo de humanos. O que torna uma das principais dificuldades em combatê-lo.
Sabe-se que o vírus ataca as células T, nossas peças centrais do sistema imunológico. Uma vez instalado dentro dessas células, ele se reproduz rapidamente. São 100 bilhões de novas cópias do vírus por dia, comprometendo drasticamente a imunidade de uma pessoa, momento em que a Aids se instala.
Em 1985, surge o primeiro teste diagnóstico para a doença, baseado na detecção de anticorpos contra o vírus. Dois anos depois tem início a administração do AZT, um medicamento utilizado em pacientes com câncer, para o tratamento da Aids.
4. Por que ainda não encontramos a cura?
Pela capacidade de se entranhar em nosso organismo, e por atacar também as células T inativas (possuímos dois tipos de células T, as ativas e inativas), o vírus tem intrigado médicos ao longo das últimas três décadas.
Apesar da evolução na medicação disponível ao tratamento, os medicamentos antirretrovirais não conseguem eliminar totalmente o vírus, uma vez que eles atuam apenas nas células T ativas.
Em fevereiro deste ano, a Fundação para Pesquisa da Aids, a AmfAR, lançou a plataforma “Contagem Regressiva para a Cura da Aids”, uma campanha que tem com o objetivo de arrecadar 100 milhões de dólares para investi-los em pesquisas voltadas para o tratamento do vírus com o objetivo de encontrar uma cura.
5. Ex-soropositivo
O americano Timothy Brown, de Seattle, é o primeiro caso no mundo a ficar conhecido por ter se livrado totalmente da doença. Conhecido como o “paciente de Berlim”, Brown estudava na capital alemã quando foi diagnosticado como soropositivo.
O tratamento de Brown foi delicado e é debatido até hoje pelos altos riscos de efeitos colaterais. Em 2006, ele foi diagnosticado também com leucemia e passou por um tratamento experimental que consistiu no transplante de células-tronco de um doador resistente ao HIV. Seus testes continuam negativos para o HIV até hoje.
6. Uma vacina para o HIV
Apesar de cientistas não terem chegado a uma vacina eficiente, estamos cada vez mais próximos de obtê-la. Neste ano, cientistas brasileiros anunciaram novos testes de uma vacina contra a doença desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, Faculdade de Medicina da USP e do Incor. Em fevereiro, os cientistas afirmaram que os primeiros testes feitos em macacos tiveram resultados positivos.
Em maio, pesquisadores do Imperial College de Londres também anunciaram um novo teste de vacina que serão observados em Runda e Nigéria. A expectativa é que os resultados do estudo saiam em 2015.
7. “A cura da doença poderia estar naquele avião”
Trevor Staratton, consultor sobre Aids, disse em entrevista a uma rede australiana que a cura da doença poderia estar no Boeing 777 da Malaysia Airlines, que caiu em território ucraniano neste ano, em julho.
O avião levava 108 pesquisadores, ativistas e membros de ONGs que estavam viajando para participar da 20ª Conferência Mundial de Aids, em Melbourne, na Austrália.
Cientistas do mundo todo lamentaram que o episódio representou uma perda enorme para a comunidade acadêmica.
8.Como é transmitido
Para haver a transmissão é preciso que as secreções de uma pessoa que carrega o vírus penetre o organismo de outra pessoa. Assim, o vírus é transmitido por sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno.
Para evitar a transmissão da aids, recomenda-se o uso de preservativo durante as relações sexuais, a utilização de seringas e agulhas descartáveis e o uso de luvas para manipular feridas e líquidos corporais, bem como testar previamente sangue e hemoderivados para transfusão. Além disso, as mães soropositivas devem usar antirretrovirais durante a gestação para prevenir a transmissão vertical e evitar amamentar seus filhos.
9. Prevenção
Para se evitar a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, é preciso o uso de preservativos durança relações sexuais. Também é mito de que duas pessoas soropositivas não precisam de proteção ao fazerem sexo. Sem isso, elas podem entrar em contato com outro subtipo de HIV ou ainda aumentar a carga viral. É consenso de que o preservativo é a melhor forma de prevenção do vírus.
10. Qualidade de vida
Atualmente pacientes que recebem o tratamento adequado conseguem ter uma rotina normal. O diagnóstico precoce continua sendo a melhor forma para uma resposta rápida ao tratamento que consiste em medicamentos antirretrovirais. Eles exigem acompanhamento constante.
Segundo Ministério da Saúde, o número de pessoas em tratamento com antirretrovirais no Brasil cresceu 29% em um ano. No total, há quase 400 mil pessoas no Brasil em tratamento com esses remédios. O avanço da doença é considerado estabilizado por aqui. A taxa de detecção é de cerca de 20,4 casos a cada 100 mil habitantes. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece teste rápido, gratuito e sigiloso. O resultado sai em menos de 20 minutos, e não é necessário agendar o procedimento.
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