O pequeno e simpático distrito de São Francisco Xavier viveu no sábado (29) momentos epifânicos nas conversas com os escritores convidados da terceira edição do Festival da Mantiqueira. Na primeira mesa, os escritores Altair Martins e Ronaldo Correia de Brito, vencedores no ano passado do Prêmio São Paulo de Literatura, brilharam e encantaram o público, em debate mediado pelo músico, poeta e escritor Arnaldo Antunes.
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Altair Martins, que é gaúcho, lembrou como as bibliotecas das escolas públicas onde estudou foram cruciais para seu ofício de escritor. “Em todas as escolas nas quais estudei, era conhecido como um rato de livros, pois devorava tudo que a biblioteca possuía, e quando não tinha lido tudo, relia novamente e essas segundas leituras eram até melhores que a primeira. Por isso, devo muito aos programas culturais e às instituições públicas”, falou.. O escritor nordestino Ronaldo Correia de Brito divertiu o público ao se lembrar das mulheres de sua família e de como elas foram importantes para compor as personagens femininas dos seus livros. “Lá em casa, lembro com nitidez da força da minha mãe e de minhas tias. Elas eram mulheres determinadas, que não se alquebravam com os problemas do cotidiano. Acho que por isso minhas personagens femininas são tão determinadas. Mas reconheço que, mesmo existindo grandes escritoras brasileiras, como Clarice Lispector e Raquel de Queirós, as mulheres ainda carecem de um tratamento mais exemplar de nós, escritores”, falou ele, rindo. Coube a Arnaldo Antunes costurar as conversas deliciosas dos dois escritores e intercalar com as perguntas do público. Depois, o ex-titã finalizou o sábado do festival com ótimo show.
Construção do real
A mesa intitulada Literatura e Poderes, com os escritores-biógrafos Lira Neto (autor das elogiadas biografias de José de Alencar, Maysa e do Padre Cícero) e Arnaldo Bloch (que escreveu sobre o império da Família Bloch, proprietários da TV e da revista Manchete), falou sobre os personagens que eles biografaram e de como se constrõem fatos passados, se é que é possível a construção do real. Lira Neto lembrou no final da conversa, que toda a construção de relatos passados, já é, por si só, uma invenção. “Não há como falar do que passou sem trazer invenções, sem criar coisas que não aconteceram, pelo simples fato de que a memória não consegue ser fidedigna na totalidade do que ocorreu”. Arnaldo Bloch concordou com o colega e se lembrou das mirabolantes histórias do clã Bloch no Brasil. “Eu relatei o que os membros da minha família me relataram e o que as outras pessoas que entrevistei disseram, além, claro, da pesquisa que fiz para fazer o livro. Agora, se de fato foi tudo daquela maneira, acredito que não”.
Notícias do furo
Um dos momentos mais aguardados do Festival da Mantiqueira é a divulgação dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura de Melhor Livro do Ano e Melhor Livro do Ano-Autor Estreante. São dez autores (dez livros) em cada uma das duas categorias. E a lista seria conhecida à noite, em evento com a presença do governador Alberto Goldman. Mas, a lista vazou na imprensa, na sexta-feira (o portal do jornal Folha de S. Paulo divulgou os nomes) e a organização do evento teve de antecipar a divulgação para a tarde. Ficou o incômodo com o ocorrido. A reportagem do site da Brasileiros procurou o Coordenador Geral do Festival da Mantiqueira, André Sturm, para saber o que de fato aconteceu. “Fiquei surpreso tanto quanto vocês. Agora não tem mais nada a fazer. Esse foi o primeiro ano que a gente entregou a lista para alguns veículos da imprensa, com o compromisso de eles só divulgarem depois da oficialização da lista pelo governador, o que infelizmente não aconteceu. No próximo ano, não vamos mais entregar a lista para ninguém”.
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